Paulo Moreira Leite
O desembarque de inspetores da ONU em Teerã, onde irão investigar as pesquisas nucleares do país, coloca uma pergunta política: o que vai acontecer com a diplomacia dos Estados Unidos, União Europeia e Israel se não surgirem provas de que o Irã prepara sua bomba atômica?
Este é um problema sério.
A maioria dos serviços de inteligência do Ocidente, inclusive dos EUA, considera que apesar de seus avanços recentes, as pesquisas nucleares do Irã ainda tem alguns anos pela frente antes de deixar o país em condições de produzir armas atômicas. O único país que enxerga avanços maiores é seu rival regional, Israel. Não surpreende. A diplomacia israelense tem interesse em manter o Irã numa permanente defensiva.
Atribuidos com um grau cada vez maior de certeza ao serivço secreto israelense, atentados contra cientistas iranianos são uma forma óbvia de elevar a tensão. Claro que, diante de uma avaliação desfavorável, é sempre possível lançar uma campanha de denúncias e insinuações contra a ONU, como George W. Bush ao tentar justificar a guerra contra o Iraque. Ainda assim, uma avaliação da Agência Internacional de Energia Atômica não é coisa que se derrube na gritaria. Até porque o mundo não vive, hoje, o ambiente de assombro e perplexidade gerado pelos ataques de 11 de setembro, que contribuiram para diminuir o espírito critico de muitas consciências, favorecendo a mentira e a manipulação.
Se essa visão do programa iraniano for confirmada, ficará mais difícil justificar tecnicamente as sanções duríssimas de Washington e Bruxelas. Não é preciso chegar às questões humanitárias. Vários especialistas alertam que o embargo às vendas de petróleo do Irã talvez seja mais prejudicial aos países importadores do que aos próprios iranianos. O risco é uma provável alta no preço do petróleo, num processo capaz de acabar com a recuperação econômica americana — bastante frágil — e afundar a Europa ainda mais. Enquanto isso, o Irã pode compensar a perda de clientes na Europa com um aumento nas vendas para a China e a Índia.
E aí vem a pergunta: em nome de que?
Numa campanha presidencial onde tenta compensar a decepção do eleitorado democrata com a conquista de eleitores republicanos pouco empolgados com os candidatos lamentáveis que o partido apresentou até o momento, Barack Obama tem interesse de manter o Irã sob pressão. Mas sabe que não irá ganhar votos caso o preço da gasolina comece a pesar no bolso dos eleitores. O mesmo vale para governos franceses e alemães, que em breve terão de passar pelo teste das urnas. Sempre atenta para definir aonde estão os verdadeiros interesses de seus leitores, que formam a elite financeira dos países desenvolvidos, a revista The Economist alerta, em seu último número, que, em vez de tratar o Irã com porrete, também é hora do Ocidente oferecer cenouras.
É uma opinião sensata. A menos, claro, que se queira ir para a guerra de qualquer maneira. O que você acha?
Da Epoca
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”