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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Igreja Católica e a selva capitalista

A Igreja Católica e a selva capitalista
por Jorge Messias
 
«A proposta de Orçamento do Estado para 2013 é um terramoto… um napalm fiscal. Arrasa tudo. É devastadora» (António Bagão Félix, da área do CDS-PP, ex-ministro das Finanças e da Solidariedade Social; membro do Opus Dei. Outubro de 2012).
 
«Manifestações são uma corrosão da harmonia democrática. As manifestações de rua não resolvem nada contestando, vindo para grandes manifestações. Não se resolve nada nem com uma revolução se resolveria» (Cardeal-Patriarca, Fátima, 12 de Outubro 2012).
 
«Um bispo tem de falar de tudo e é sua obrigação interceder pelos mais frágeis... este Governo é profundamente corrupto» (D. Januário Torgal,
Bispo das Forças Armadas, em Julho de 2012).
 
«Onde os economistas burgueses viam relações entre os objectos (troca de umas mercadorias pelas outras), Marx descobriu relações entre pessoas. A troca de mercadorias exprime a ligação que se estabelece por meio do mercado entre os diversos produtores. O dinheiro, indica que essa ligação se torna cada vez mais estreita, unindo indissoluvelmente, num todo, a vida económica dos diferentes intervenientes. O capital significa um maior desenvolvimento desta ligação. A força do trabalho do homem torna-se, então, numa mercadoria» (Lénine, «As três fontes ou as três partes constitutivas do marxismo», 1913).

O próximo Orçamento do Estado português é a miserável expressão do desespero de uma camada diminuta de «illuminatti» presos à mais retrógrada visão do mundo e definitivamente colada à noção do poder ditatorial. Mas o poder é do Povo, não é deles. Acompanhemos e intervenhamos no que está a acontecer. Cedo ou tarde, os «assassinos políticos e económicos» que hoje escarnecem os humildes e os trabalhadores virão a ter de reconhecer esta lição.

Até lá, os criminosos vão agir à vontade.

As recentes palavras proferidas pelo responsável máximo da Igreja portuguesa ficarão também nos anais da hierarquia católica por várias razões, cada qual a mais lamentável.

Em primeiro lugar, porque tanto D. Policarpo como vários bispos têm tentado «explicar» os silêncios da Igreja perante actos sociais escandalosos, invocando a sua pretensa missão na Terra: ser a Igreja apenas condutora de almas e transmissora da Boa Nova. Embora cultivando, como se sabe, poderosas amizades no mundo laico dos ricos e poderosos. Por isso, quando o povo se começa a levantar e o produto do saque entra em fase crítica, o Cardeal Policarpo e os seus acólitos não hesitam, rompem o silêncio e falam. Saltam para a arena e mostram aquilo que são: fundamentalistas e «santas almas» ao serviço da concentração da riqueza. Como nos tempos da Santa Inquisição.

Note-se que o cardeal-patriarca de Lisboa não se encontra isolado numa linha de pensamento arcaico. Ainda há poucos dias, enquanto o povo italiano mergulhava em claros episódios de luta de classes, Bento XVI fez o seguinte apelo: «Voltai para casa, dai um beijo às crianças e dizei-lhes que foi o Papa que lho mandou!».

De facto, a hipocrisia dos que comandam a Igreja católica não conhece limites. Veja-se como os cinquenta anos do concílio Vaticano II estão agora a ser celebrados pelas mesmas forças que lhe cortaram as asas a voos mais largos de libertação da Igreja.

O Vaticano II foi o berço da Teologia da Libertação que teve no cardeal Joseph Ratzinger (agora Bento XVI) um dos seus mais temíveis adversários.

O recém-nado parece ter morrido à nascença e a Teologia da Libertação ficou envolta na teia de intrigas e chicanas tecidas pelo clero tradicionalista. É este resultado final que o Vaticano agora celebra ao invocar o Concílio.

José Policarpo, em Portugal, representa a ala de Ratzinger tal como Passos Coelho presta vassalagem a Ângela Merkl. Um e outro conhecem os crimes da troika mas ambos lhe obedecem.

Valham os brados, por enquanto dispersos, de homens católicos e livres, como os de Torgal Ferreira. Entre as massas duramente atingidas pelo pacto de agressão há milhões de católicos que aos bispos cumpre defender. Se é certo que falar assim equivale a reconhecer que existem na Igreja fortes divisões sociais, o que está em causa é muito mais do que isso. São paradigmas e valores. É a Justiça e a Verdade.

Em toda a Europa se denuncia e luta. Há problemas tão profundos que só na rua, pela expressão directa da vontade do povo, se poderão decidir. D. José Policarpo fala de uma Europa «de gabinete» e não de uma Europa real. E tem consciência do que diz.

Pior para ele.


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