Em entrevista à EBC, Mario Neira Barreto dá detalhes de como remédios do presidente deposto foram adulterados
O
ex-presidente brasileiro João Goulart (1961-1964) morreu, segundo a
versão oficial, de um ataque cardíaco em 6 de dezembro de 1976 no
município de Corrientes, na Argentina. No entanto, as suspeitas de que
Jango, como era popularmente conhecido, tivesse sido morto por agentes
da Operação Condor sempre foram levantadas por amigos, familiares e
especialistas.
Em recente entrevista à EBC (Empresa Brasil de Comunicação),
o ex-agente do serviço secreto uruguaio Mario Neira Barreto forneceu
detalhes da operação que teria resultado na morte de Goulart. Segundo
sua versão, o ex-presidente brasileiro deposto pelo regime militar teria
sido morto por envenenamento. Segundo Neira, Jango era considerado uma
ameaça pelos militares brasileiros, já que organizava planos para a
democratização brasileira.
Em 2008, ele já havia revelado ao jornal Folha de S. Paulo
que Jango havia sido morto a pedido de Sérgio Paranhos Fleury, na época
delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São
Paulo, com a autorização do então presidente Ernesto Geisel (1974-1979).
A
Operação Condor foi uma aliança política entre os regimes ditatoriais
da América do Sul durante os anos 1960 para reprimir opositores e
eliminar seus líderes. Segundo a EBC, mesmo destituído, Jango era monitorado por agentes no Uruguai, onde se encontrava exilado.
Wikimedia Commons
A
família de Goulart nunca autorizou uma autópsia. Com base no depoimento
de Neira, a família de João Goulart pediu uma investigação ao MPF
(Ministério Público Federal). Mas o processo foi arquivado pela Justiça
por ter prescrito.
Leia abaixo a transcrição
da entrevista de Neira, que está preso desde 2003 na Penintenciária de
Charqueada, no Rio Grande do Sul, por contrabando de armas:
“Passei
três anos gravando coisas do Jango, pensando em roubar a fazenda dele,o
ouro que ele guardava. Mas então eu sou um ladrão fracassado. Por quê?
Eu não roubei nada dele, como ladrão ou bandido eu não me dei bem. Foi
uma operação muito prolongada que, no princípio, a gente não sabia que
tinha como objetivo a morte do presidente Goulart”.
“Por
que o Jango foi o perigo de toda essa história e foi decidida sua
morte? Porque o Jango era perigoso por aquele jogo de cintura. Era um
político que se aliava a qualquer um para conseguir o objetivo de levar o
Brasil novamente a uma democracia”.
“Jango
era o pivô porque forneceria as passagens, iria aos Estados Unidos e
voltaria com toda aquela imprensa a Brasília, [passando] primeiro em
Assunção, onde seria o conclave, a reunião de todas as facções
políticas do Brasil que se encontravam dispersos e exilados, e ele faria
possível essa reunião”.
“Não era bom para o Brasil...não era bom para os militares, para a ditadura. Daí que fpi decidido que o Jango deveria morrer”.
“Primeiro
se pensou em um veneno. Os remédios [que Goulart tomava por sofrer do
coração] viriam da França, foram recebidos na recepção do hotel Liberty.
Foi uma araponga que foi colocada nesse hotel, porque os remédios
ficavam numa caixa forte verde. Então o empregado (infiltrado) começou a
trabalhar e forneceu um lote com várias caixas de comprimido, ele não
comprava uma, comprava um lote. Em cada caixa foi colocado um, apenas um
comprimido com um composto. Não era um veneno, mas causaria uma parada
cardíaca. Eu acho que o veneno coincidentemente, ele tomou aquela noite.
Tanto o relato de Dona Maria Teresa (Fontela Goulart, viúva) quanto do
capataz da fazenda é que os sintomas que eles relatam encaixam o que
acontece. A pressão sobe, baixa constrição dos capilares, ele tem uma
morte rápida., tomou o comprimido e já começou a se debater e, em dois
minutos, morreu”.
Do Opera Mundi
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