Guerrilheiro Virtual

quinta-feira, 14 de março de 2013

“Acabou o complexo de vira-lata”, afirma ex-ministro Franklin Martins

Ex-ministro do governo Lula diz que políticas de inclusão da última década mudaram o país, que ganhou em autoestima, e mudaram o povo, que se tornou um ator político efetivo da democracia brasileira 

O jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação Social no governo Lula, disse que o protagonismo do povo foi a grande conquista política e cultural de 10 anos de governos democráticos e populares que começaram com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. “Até algum tempo atrás, a maioria dos presidentes, a maioria dos governos, governava o Brasil para apenas um terço da população. Era como se eles dissessem para o restante, que estava excluído: ´Eu até gostaria de ajudar vocês, eu até gostaria de ter medidas que fizessem vocês se levantar. Mas é impossível. Virem-se!´”.


A declaração foi dada em uma entrevista para o Instituto Lula e faz parte de uma série sobre os 10 anos de governo democrático e popular. Você pode acompanhar mais opiniões sobre os 10 anos que mudaram o país clicando aqui.
Para o ex-ministro, a exclusão de parcelas consideráveis da população das decisões de governo, a pretexto de que a política para os pobres era uma impossibilidade, está na raiz do “famoso complexo de vira-lata do povo brasileiro” (clique aqui para ler a crônica do dramaturgo Nelson Rodrigues que cunhou o termo “complexo de vira-lata”, em 1958). Com a eleição de Lula, o cenário começou a mudar e o povo decidiu não apenas escolher governos que governassem para todos, mas passou também a cobrar esses governos.
“Eu acho que o que mudou muito de 10 anos para cá é que o povo escolheu governos e cobrou desses governos que eles governassem para a maioria. Eu acho que essa é a grande mudança, porque ela fecundou, ela gerou diversas políticas que acabaram atendendo à maioria do povo, que passou a ver que havia um governo que governava para ele”. Franklin ressalta que isso gerou também uma tensão no sentido contrário. “E que passou também a ver que existia uma elite que não admitia que se governasse para todos e que foi fazer uma oposição furiosa a esses governos”.
A participação efetiva do povo, não apenas como beneficiário das políticas governamentais, mas também como ator político, marca uma mudança visível na última década, segundo o ex-ministro: “Eu acho que o que tem de novidade no Brasil, no fundo, é o coroamento de um processo de acumulação e fortalecimento da democracia, onde o povo foi identificando seus interesses, aprendendo a votar, votando em quem poderia fazer políticas que o beneficiassem e depois elegeu governos que iam implementar essas políticas, deu força a esses governos e cobrou desses governos. Eu acho que a novidade é que o povo é um ator político muito maior hoje em dia e por isso mesmo está no centro dos acontecimentos.”
“Uma classe média muito maior, redução da miséria, Prouni, Luz para Todos, Bolsa Família… a quantidade de programas é indescritível, mas a grande coisa é o seguinte: o povo está no centro da política no Brasil hoje”, completa.
Termo “complexo de vira-latas” foi cunhado em 1958
 
O dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues cunhou o termo “complexo de vira-lata” em 1958, para designar a postura de inferioridade assumida no futebol, a partir de 1950, quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai, no Maracanã. Para Rodrigues, o brasileiro só começou a se curar esse complexo em 1958, quando ganhou a Copa pela primeira vez, mas apenas nesse esporte. A postura permaneceu em relação a outros temas. “Por ‘complexo de vira-lata’, entendo eu a inferioridade em queo brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo´”, afirmou.

Em agosto do ano passado, o ex-ministro e vice-presidente do PSB Roberto Amaral escreveu na revista Carta Capital uma outra crônica revisitando o termo. Para ele, esse complexo foi alimentado pelos interesses dominantes. “Esse sentimento existe, mas regado pela classe dominante brasileira, desde a Colônia, que sempre viveu de costas para o país e com os sonhos, as vistas e as aspirações voltadas para a Europa. Terra de “índios desafeitos ao trabalho”, de “negros manimolentes e banzos” e “europeus de segunda classe”, nosso destino, traçado pelos deuses, era a de eternos coadjuvantes. História própria, industrialização, destino de potência… ah, isso jamais!”. O texto re Roberto Amaral relembra fatos curiosos, como a oposição direitista a obras como a Ponte Rio-Niterói, o metrô no Rio de Janeiro, a Petrobras e — mais recentemente — a transposição do rio São Francisco. Clique aqui para ler o artigo de Roberto Amaral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”