Assim como os Marinho, que foram ao
Instituto Lula e pediram a volta do ex-presidente, colunista Arnaldo
Jabor demonstra certa aflição diante da consolidação da candidatura
Dilma; aí tem coisa…
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Por que será que as vozes da direita estão tão aflitas diante da
consolidação da candidatura da presidente Dilma Rousseff, que recupera
sua popularidade? Recentemente, João Roberto Marinho, da Globo, foi ao
Instituto Lula e pediu ao ex-presidente que concorresse em 2014. Agora, é
Arnaldo Jabor quem indaga se ele voltará ou não. Será que há alguma
munição guardada contra o ex-presidente para a fase pós-Ação Penal 470?
Lula vem ou não vem?
Arnaldo Jabor
Lula era linear. Dilma
tem um desenho mais complicado. Lula era mais fácil de criticar, pois
seu erro era mais nítido, óbvio, em sua carreira oportunista de ser um
santo rei no país. Dilma é mais neurótica; não tem aquela solidez
obstinada dos proletários que sobem na vida. Lula sofreu na infância,
apanhou do pai e construiu uma estrutura de frieza, disfarçada de “amor
ao seu povo”, com a diferença de que ele se achava o povo de si mesmo.
“Eu sou do povo, logo, meu desejo é o mesmo dele...”
O governo Lula era
rombudo e com rumo único. O governo Dilma é confuso em sua divisão
esquizoide de querer ser moderno e antigo ao mesmo tempo. O que Lula
aprontou com o Brasil vai ser a causa de muitos males que ainda vão se
agravar. Dilma quer ser Lula e ela ao mesmo tempo.
A “presidenta, gerenta,
comandanta” vive a missão impossível de ser socialista (ou o que isso
ainda significa) e dirigir um país... ah... capitalista. A conclusão é
que Dilma perdeu o controle da zona geral que Lula sabia “desorganizar”
com esmero e competência. Sua única competência, aliás. Tudo que temos
pela frente não é o fim de dois maus governos apenas; é o despertar de
um caos institucional que será mais grave do que pensávamos. São erros
fecundos e duradouros que vão marcar nosso caos durante muito tempo,
mesmo com um governo novo. É uma herança que vai amaldiçoar o futuro.
Os diagnósticos sobre nós
são iguais no mundo todo: uma presidente rachada ao meio por fissuras
ideológicas e dominada pela fome eleitoral do PT, a fim de virar um
partido mexicano como o PRI. Os europeus têm inveja e desprezo por nós,
porque eles querem sair da crise e não conseguem e nós temos tudo para
nos salvar e não queremos.
Há alguma coisa “não
acontecendo” no Brasil que me dá arrepios. As análises políticas buscam
em vão uma síntese do que acontecerá. Ninguém sabe – a equação tem
tantas incógnitas que torna nosso futuro imprevisível.
Este artigo é um rascunho de possibilidades, pois é impossível imaginar um futuro para nós.
Para administrar a
democracia, é preciso acreditar nela. E no fundo dos petistas há um
desprezo por essa “liberdade da burguesia”. Assim, como administrar
instituições não respeitadas? O resultado é um sarapatel de gestos e
atos que se anulam mutuamente, como, por exemplo, as concessões de obras
de infraestrutura que barram a lucratividade de eventuais investidores.
O governo tolera o capitalismo, mas é contra o lucro. Não acredita na
sociedade, formada por uma classe média “alienada, reacionária e
ignorante”, no claro dizer de intelectuais orgânicos do partido. Eles
acham que empreendedor é ladrão. Enfiar social-petismo no subcapitalismo
do Brasil, está criando um “Bebê de Rosemary” (Noronha?).
As manifestações de rua
entusiasmaram, mas também nos apavoraram pela falta de caminhos claros
de ação. A beleza do conjunto foi grande, mas ninguém aponta uma solução
para esse quebra-cabeças que somos. Claro, queremos saúde, educação,
infraestrutura se instalou, mas como romper a muralha da fortaleza do
atraso? Como combater a resistência do patrimonialismo endêmico que nos
corrói? Como mudar um Estado defendido por burocracia, clientelismo,
corrupção, preguiça, oligarquias regionais, incompetência
tecno-ideológica? As dificuldades não são apenas “políticas”, mas sim
culturais, uma anomalia que há séculos gerou nossos conceitos de ética,
leis, instituições arcaicas. Nós somos o que emanou de um torto processo
civilizatório. Já sabemos um pouco o que fazer. Não sabemos como. Nem
os manifestantes nem os políticos, mesmo atemorizados.
E, como o governo insiste
nessa ambiguidade política – muito difícil de manter –, a tendência é a
progressiva “bolivarização” (mais simples) do país, que já se percebe
em ridículas bobagens como “médicos cubanos”, timidez diante do Evo,
aceitação do bode do Mercosul, isolamento terceiromundista,
incompetência administrativa total, justificada por um horror ao
presente e um sonho idiota de “futuro”.
Inclusive, mesmo no
proposital vazio ideológico (e saneador) dos manifestantes há uma
tendência visível para uma (evitável?) aproximação com partidos da
extrema esquerda e o PT. É uma ideologia mais fácil de entender, com o
bem de um lado e o mal de outro. Bom para slogans.
O governo só pensa em sua
imagem eleitoral. Não é a mesma imagem das “celebridades”, mas a imagem
stalinista que se mantém pela mentira, pela manipulação de
estatísticas, já na linha da Cristinita. Estou sendo muito duro? Pode
ser, mas é revoltante nossa entropia, disfarçada por bravatas que o
governo professa.
Também por razões
ideológicas, as reformas essenciais de que o país precisa jamais serão
feitas. Qualquer economista sério do mundo recomenda as mesmas medidas:
ajuste fiscal, reformas tributária e eleitoral, diminuição do Estado,
educação, saúde etc... Mas o governo prefere o trem-bala. Ou a Copa, na
qual gastou R$ 30 bilhões, que davam para refazer o metrô de São Paulo e
construir 80 hospitais.
A falta de substância do
Executivo anima todo mundo a se lixar para a razão, a lógica, a
decência. E tudo começa a se degradar diante do desconhecido.
Vai se instalando uma
descompostura geral em tudo: a Câmara se suja gostosamente, já que
diminuiu a pressão dos manifestantes de rua, que, aliás, estão sendo
desestimulados pela brutalidade dos encapuzados.
O ano de 2014 se anuncia
como uma guerra suja de traições e mentiras, com cinco candidatos. As
mensagens de estabilidade, as soluções apresentadas, as metas possíveis
serão tão difíceis de entender pelo eleitor comum que haverá uma grande
fome de “clareza”. E a resposta a esse desejo é o populismo sem peias,
quando o país precisa justamente de ações pragmáticas e localizadas. O
povo vai querer uma esperança qualquer, e os malandros vão oferecer
“previsibilidade”.
E a única pessoa que sabe
mentir bem e “explicar” isso tudo é o Lula. Assim, o homem que, com
alianças e narcisismo, trouxe de volta os piores erros do passado vai
oferecer “unidade e sentido”. O restaurador do passado será a esperança
de futuro.
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