Mesmo para um chefe de Estado --condição em que a espécie humana tem exibido alguns de seus piores espécimes-- é de um despudor assombroso a explicação de Barack Obama para a violação americana da soberania alheia, como na espionagem aos e-mails da presidente Dilma Rousseff: é "para entender melhor o mundo".
A referência, mais adiante, a "algumas áreas de preocupação", que seriam
o terreno de tais ações americanas, insinuou o terrorismo como
justificativa, mas foi apenas a permanência no despudor.
Nem com a tresloucada hipótese de estarem a presidente brasileira e o
presidente do México, Peña Nieto, a tratar de terrorismo com seus
ministros e assessores em geral, a indução de Obama seria prestável. As
primeiras denúncias de Edward Snowden documentaram a espionagem do
governo americano na França e na Alemanha, captando comunicações
eletrônicas entre instituições, entre empresas e em delegações de
reuniões internacionais. Nada a ver com áreas potencialmente
preocupantes.
Não foi à toa que a Alemanha tratou de criar plataforma própria para a
comunicação informática, fugindo ao uso das americanas que, além de
expostas à interceptação das agências de espionagem dos EUA, provou-se
estarem sujeitas a ordens do seu governo para lhe entregarem informações
sobre seus clientes. A solução técnica da Alemanha está em estudo no
Brasil como uma das possíveis a serem adotadas para proteger-se da
espionagem americana.
Está dado como atenuador da preocupação brasileira, decorrente da
violação das comunicações de Dilma Rousseff, o uso de numerosas siglas
de e-mails para o seu trabalho governamental. Mas daí não decorre
melhora alguma de inviolabilidade. Os agentes americanos que fizeram a
primeira interceptação estavam aptos, desde então, a repeti-la em todas
as outras linhas da mesma usuária.
O Senado já tomou suas providências, porém. Está instalada a CPI da
Espionagem. O que aconteceu em sessão bastante sugestiva: com um só
senador presente diante da mesa dirigente dos trabalhos.
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