Por Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual
São Paulo – Criado há quase um mês pelo governador
Geraldo Alckmin (PSDB) para supostamente envolver a sociedade nas
investigações sobre corrupção no Metrô e na CPTM, o Movimento TranSParência realizou
apenas duas reuniões até agora (a segunda na sexta-feira, 30), sem que
qualquer informação relevante tenha sido tornada pública.
Gustavo Ungaro, presidente da Corregedoria Geral da Administração do
governo do Estado de São Paulo, diz que a reunião da semana passada
serviu para analisar licitações feitas entre 1998 a 2008.
“A interação com a sociedade civil por meio do grupo externo de
acompanhamento tem oferecido elementos de grande valia para os nossos
trabalhos, tanto com sugestões como também fortalecendo a nossa
organização e prestação de contas”, disse. “Essa ação tem não só
propiciado transparência, mas também servido de uma colaboração efetiva
para os trabalhos apuratórios.”
Mas entidades que participam do Movimento TranSParência,
objetivamente, não têm muito o que fazer no colegiado. Segundo o
advogado Vicente Bagnoli, da OAB-SP, que participou da reunião de
sexta-feira, “a OAB, como outras entidades que representam a sociedade
civil, faz só um acompanhamento do que o estado está fazendo. A OAB não
decide, não faz sugestão de como o estado deva ou não proceder, não é
papel da OAB. A OAB simplesmente acompanha o que o estado está fazendo”,
esclarece.
Bagnoli diz que, segundo o governo paulista, quase todas as empresas
envolvidas no suposto cartel já falaram em oitivas. Mas “o conteúdo
daquilo que está sendo ouvido pelo estado continua confidencial, até
para não prejudicar as investigações”.
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin, ao criar
uma comissão independente para apurar existência de cartel nos contratos
do Metrô e da CPTM, pretende direcionar as investigações para punir a
Siemens. A observação é do deputado Protógenes Queiroz (PCdoSP), em
entrevista à repórter Vera Rodrigues, da Rádio Brasil Atual.
Par o deputado, a empresa vem adotando conduta exemplar ao denunciar um
esquema que tem como protagonistas os gestores do estado. Ouça a reportagem.
O processo movido pelo governo paulista contra a Siemens, na 4ª Vara
da Fazenda Pública, também está sob sigilo, determinado pela juíza
Renata Longo Vilalba Serrano Nunes. Assim como os principais documentos
(os que foram objeto de busca e apreensão) do processo desencadeado
pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Por meio da assessoria de comunicação, a Corregedoria informou que
participaram da reunião de sexta-feira as seguintes entidades: Ordem dos
Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB-SP), Transparência Brasil,
Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Sindicato dos
Engenheiros no Estado de São Paulo, Conselho de Transparência da
Administração Pública, Instituto Ethos, Ordem dos Economistas do Brasil,
Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas (Fipe), Escola Politécnica da
USP e Comissão de Controle Social de Gastos Públicos da OAB-SP. A
Associação Brasileira de Imprensa em São Paulo “se ausentou com falta
justificada”, segundo a corregedoria.
Citado entre os presentes, o MCCE nega que tenha participado do encontro.
A pedagoga e membro do MCCE de São Paulo, Lucrécia Anchieschi Gomes,
afirma que a entidade não faz parte da comissão e que Ungaro já foi
comunicado disso oficialmente.
“Deve estar havendo algum equívoco. Decidimos não participar porque
não é o nosso foco. Nosso foco são questões eleitorais”, diz Lucrécia.
De acordo com a corregedoria, o MCCE foi representado por Naur
Martins. "O senhor Naur foi por vontade própria, pessoal, mas ele não
representa o MCCE", esclarece Lucrécia.
Papel figurativo
A oposição ao governo Alckmin na Assembleia Legislativa tem criticado
o governo por impedir a criação de uma CPI sobre o tema e diz que a
comissão de notáveis tem papel figurativo. Quando o Movimento
TranSParência foi anunciado, no dia 9 de agosto, o deputado Alencar
Santana (PT) declarou: “O pior é a OAB se prestar a isso, pois é um
órgão de defesa, não de investigação”.
O advogado Vicente Bagnoli responde que “a OAB foi convidada a fazer
parte de uma comissão de acompanhamento externo”. “A OAB tem um papel
republicano defendendo os princípios da justiça e interesses da
sociedade civil.”
De acordo com a corregedoria, a próxima reunião do Movimento
TranSParência será nos próximos 15 dias, mas ainda não há data
confirmada.
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