247 – Numa reunião fechada com cerca de cem
empresários e investidores, a ex-senadora Marina Silva, hoje no PSB, fez
um discurso que soou como música ao mercado financeiro. Além de
críticas à gestão econômica do governo Dilma Rousseff, a presidenciável
defendeu a volta do tripé macroeconômico dos tempos do tucano Fernando
Henrique Cardoso: geração de superávits primários nas contas públicas,
câmbio flutuante e metas para inflação.
Marina diz ser contra o atual expansionismo fiscal e defende a
geração de superávits primários "expressivos, sem manobras contábeis" e
câmbio flutuante, sem intervenções do Banco Central, de acordo com
relatos ouvidos pelo jornal Valor Econômico sobre o encontro da última
sexta-feira 11, promovido pelo banco Credit Suisse. A líder da Rede
Sustentabilidade também prega que a inflação volte ao centro da meta de
4,5%, ao invés dos atuais 6%.
A nova aliada do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, bateu duro
ao falar das desonerações a diversos setores da economia promovidas
pelo governo Dilma, em sua avaliação, "danosas". Mas curiosamente foi
cuidadosa ao discutir sobre meio ambiente, tema que sempre tratou com
certo radicalismo. Ela defendeu que os processos de licenciamento
ambiental sejam analisados mais rapidamente, porém sem flexibilidades.
O que parece é que Marina, apoiada pelo Itaú – a herdeira Neca
Setúbal é forte aliada da ex-ministra na criação da Rede, com a função
de buscar apoio financeiro dos empresários –, quer a volta da política
de arrocho fiscal e monetário. Neca já declarou à imprensa que, após a
aliança entre Rede e PSB, "vários empresários querem se aproximar", além
de "pessoas que já participaram de governos anteriores, em altos
cargos, dispostas a ajudar".
Sustentabilidade
Ao Valor, a ex-ministra do governo Lula ressaltou a importância de se
integrar "economia e ecologia numa mesma equação" neste início de
século. Na entrevista concedida depois da publicação da pesquisa
Datafolha, que apontou Marina com 28% dos votos, atrás de Dilma
Rousseff, que neste cenário registra 37%, Marina Silva diz ainda que
"não há contradição" entre a sustentabilidade e o ideário econômico
defendidos por ela.
"(...) agora a crise ambiental global se agrava a tal ponto que já
não se trata mais de negar a realidade desse esgotamento dos recursos
naturais, mas também já não se trata mais de pensar em como
compatibilizar, como se uma coisa fosse em oposição à outra. Agora é
como integrar", declarou, lembrando que, para a integração, é preciso
ter suporte na ciência, na tecnologia e na inovação. Marina diz ainda
que "sustentabilidade é uma visão de mundo", cujos projetos não devem
ser baseados em carvão-petróleo-gás. "Isso ainda não temos como
substituir de forma abrupta, mas temos que transitar para o uso de
fontes renováveis", explica.
Política
Para Marina, "a sociedade não tem mais como aguentar a ameaça de ver
as conquistas serem perdidas por esse atraso na política". A
presidenciável critica duramente a governança "com bases nestas alianças
que estão aí" e afirma não conseguir imaginar "como se pode dar um
cheque em branco para mais quatro anos de governabilidade, em cima de
distribuição de pedaços de Estado". A base do governo Dilma, em sua
avaliação, é "completamente frágil", apesar da "distribuição de cargos".
"Não dá para continuar", protesta.
A ex-senadora volta a falar da necessidade de uma ruptura com a
"velha política". Para isso, afirma, de forma vaga, que a aliança entre
ela e Campos reconhece três grandes conquistas no País: a democracia, a
"estabilidade econômica referenciada no governo do PSDB" e a "inclusão
social referenciada no governo do presidente Lula". Algo importante,
diz, é a "necessidade desse realinhamento histórico", com o fim da
"cristalização PT e PSDB" que, em sua opinião, faz um "mal muito grande
para o País".
Questionada sobre o fato de a presidente Dilma herdar a maior parte
dos votos de Marina caso ela não se candidate à presidência em 2014,
responde que "a pesquisa é ainda um momento muito inicial". A
ex-ministra comemora o avanço de Campos: "é só uma sinalização que isso
tudo está sendo recebido de forma muito esperançosa". Ela acredita que
as eleições "não serão marcadas pelas estruturas, pelo tempo de
televisão, pelo marketing", mas "por uma nova postura, que indique novos
caminhos".
Leia aqui a íntegra da entrevista.
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