247 – Por que o vereador Andrea Matarazzo tem tanta força na mídia tradicional?
O que fez dele um homem tão forte, desde o início de sua carreira política, na mais alta cúpula tucana?
Como ele conseguiu começar por cima sua carreira na vida pública, em
1991, e cumprir uma trajetória ascendente, ininterrupta e repleta de
poder, nos últimos 22 anos, em todas, sem exceção, as administrações
tucanas no plano federal (Fernando Henrique), estadual (governos
paulistas de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin) e municipal
(gestões Serra e Gilberto Kassab)?
Por ser sobrinho-neto do histórico conde Francesco Matarazzo?
Ou por ser repositário de segredos bem guardados no ninho tucano
paulista, ao menos até o estouro das denúncias do escândalo
Alstom-Siemens, de desvio de verbas e corrupção no sistema de
transportes públicos em São Paulo?
Estas e outras interrogações poderão ser mais precisamente respondidas a partir de agora.
Nesta segunda-feira 30, a Justiça determinou a quebra dos sigilos
fiscal e bancário de Matarazzo, além de dez outros suspeitos de
envolvimento no escândalo que abala o moral dos tucanos paulistas. A
maioria dos nomes é de gente desconhecida do público brasileiro (lista
abaixo), entre os quais executivos das duas multinacionais envolvidas no
esquema. Há, além deles, o nome do ex-presidente do Metro José Fagali
Neto.
Mesmo sendo o personagem, disparado, de maior peso nesta turma da
pesada, como prova da influência de Matarazzo na mídia tradicional seu
nome ficou de fora dos títulos de destaque dos portais UOL, IG e G1.
Essas fontes noticiaram o fato, na tarde desta segunda 30, após a
informação, levantada pelo jornalista Fausto Macedo, ter sido dada em
primeira mão no Estadão.com.
Registre-se: na própria página virtual do jornalão paulista, porém, o
nome de Matarazzo igualmente foi poupado do devido destaque.
Do ponto de vista jornalístico, noticiar, com a máxima discrição
possível, a devassa que está para ser iniciada na vida financeira e
tributária de Andrea Matarazzo não se justifica, seja qual for o ângulo
pelo qual se examine a questão. Afinal, ele mesmo foi saudado, pela
mesma mídia, no final do ano passado, como o segundo vereador mais
votado de São Paulo e do Brasil, graças aos mais de 117 mil votos na
eleição paulistana do ano passado.
Entre os tucanos, Matarazzo sempre foi o campeão. Um verdadeiro faz
tudo. Além do feito político de, em sua primeira tentativa, bater todos
os outros concorrentes do partido, Matarazzo é um polivalente do setor
público tucano: foi secretário de Energia e presidente da estatal Cesp
no governo Mario Covas, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação
Social do governo Fernando Henrique, do qual também foi embaixador em
Roma, secretário municipal de Serviços, primeiro, e das Subprefeituras,
em seguida, na gestão de José Serra na Prefeitura paulistana, e, ufa!,
secretário estadual de Cultura na gestão de Geraldo Alckmin.
Constaria de qualquer manual de jornalismo que uma notícia do porte
da quebra de sigilos de um tucano como Matarazzo, dentro do pacote do
rumoroso escândalo Siemens-Alstom, deveria ser um chamariz de leitura.
Mas, do ponto de vista de sintonia com os tucanos, é, de fato, melhor
que ele não apareça tanto quanto deveria. Não pega bem...
Para efeito de comparação, seria como se todos esses portais da mídia
tradicional noticiassem que a Ação Penal 470, em julgamento no Supremo
Tribunal Federal, analisa o envolvimento em corrupção de 42 réus. E não,
como aconteceu, dos ex-presidente do PT José Dirceu e José Genoíno, e
do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.
Qual é a notícia mais forte: 42 réus são julgados na AP 470 ou Dirceu, Genoíno, Delúbio e outros 39 são réus no Supremo?
A resposta é óbvia.
Há, ainda, uma agravante. Assim como Delúbio foi tesoureiro do PT,
Matarazzo foi apresentado, na campanha de reeleição de Fernando
Henrique, em 1998, também como tesoureiro da campanha tucana. Ele nunca
teve receio de arrecadar dinheiro para seu partido.
A quebra de seu sigilo bancário fornecerá informações importantes
sobre sua eventual participação no escândalo Alstom-Siemens. Mas não
apenas. Poderá esclarecer muito sobre o modus operandi do partido no
poder.
Além de todos os cargos, Matarazzo desfruta da intimidade dos mais
emplumados tucanos. Com Mario Covas, de quem era difícil divergir, o
atual vereador foi um secretário de Energia e presidente da Cesp que
privatizou a companhia por um modelo muito criticado na ocasião,
inclusive com críticas do próprio governador. Considerada a estatal mais
bem estrutura do Estado, a Cesp foi fatiada em 11 partes, sendo
arrematada pelo mercado a preços que poderiam ser bem maiores do que os
valores apurados no encerramento das operações que liquidaram a estatal,
segundo especialistas do setor.
Diante do anti-tabagista militante José Serra, Matarazzo deu
impressionantes mostras de segurança ao, em diferentes ocasiões, baforar
a fumaça de seus cigarros sobre o rosto do ex-ministro da Saúde. Quem
poderia fazer isso sem medo de uma reprimenda humilhante?
O pai de Andrea, Giannandrea Matarazzo, morto em 2011, foi presidente
do Conselho Administrativo do colégio Dante Aliguieri, talvez o mais
tradicional de São Paulo, e da sua associação de ex-alunos. Durante sua
gestão neste último cargo, surgiram denúncias de desvios de verbas. O
caso foi noticiado pelo jornal Folha de S. Paulo num dia e, em seguida,
nunca mais apareceu em sua páginas. Nova prova de forte influência do
tucano que poderá ser melhor compreendida a partir de agora.
A seguir, lista dos 11 nomes cujos sigilos bancário e fiscal foram quebrados pela Justiça nesta segunda 30:
Andrea Matarazzo, Eduardo José Bernini, Henrique Fingerman, Jean
Marie Marcel Jackie Lannelongue, Jean Pierre Charles Antoine Coulardon,
Jonio Kahan Foigel, José Geraldo Villas Boas, Romeu Pinto Júnior, Sabino
Indelicato, Thierry Charles Lopez de Arias e Jorge Fagali Neto,
(ex-presidente do Metrô).
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