Por Redação, com colaboradores - de Roma, São Paulo e Brasília
Pizzolato
argumenta que há provas no processo, capazes de inocentá-lo
integralmente dos crimes a que foi condenado no relatório de Joaquim
Barbosa
A defesa do ex-diretor do Banco do Brasil (BB) Henrique Pizzolato,
refugiado na Itália na tentativa de anular o julgamento da Ação Penal
(AP) 470, conhecido como ‘mensalão’, ganhou um tempo extra na formulação
do processo com o qual busca provar sua inocência. Uma vez demonstrado
que os recursos que deram origem ao processo que levou o ex-ministro
José Dirceu e do deputado federal José Genoino (PT-SP) a cumprir pena no
Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, um dos presídios mais
perigosos do país, “o processo todo cai por terra e fica demonstrada a
motivação política que permeia o relatório do hoje presidente do STF,
ministro Joaquim Barbosa”, afirmou ao Correio do Brasil um dos advogados
de Pizzolato, que prefere manter seu nome em sigilo.
Se, para a mídia conservadora brasileira, o ‘mensalão’ está em pauta
desde a eclosão do escândalo, em 2005, para os italianos há coisas mais
importantes a serem resolvidas. Sequer o Ministério da Justiça requereu,
ainda, qualquer informação ao governo italiano, ou o informou,
exatamente, do que se trata o caso que parece ser prioritário apenas nas
manchetes dos diários ligados à direita no Brasil. O caso sequer foi
notícia no principal diário do país, o La Reppublica, não publicou uma
linha sequer sobre o brasileiro, com cidadania italiana.
Não bastasse um ciclone que atingiu boa parte do sul do país e que
mobiliza os italianos para um drama humanitário, no campo jurídico o
panorama é igualmente confuso, com a possível queda, nas próximas horas,
da ministra da Justiça, Annamaria Cancellieri. A ministra está
envolvida em um escândalo por usar de sua influência para ajudar a filha
presa de um amigo endinheirado. A ministra confirmou presença no
Parlamento, nesta quarta-feira, onde pretende se defender das acusações.
Cancellieri é exatamente a interlocutora do governo brasileiro no
processo sobre uma possível, mas altamente improvável extradição de
Pizzolato para o Brasil. Se os meios judiciários italianos fazem
silêncio sobre o caso, no Brasil o ritmo das autoridades não é muito
diferente. Embora o tema esteja na pauta do ministro brasileiro da
Justiça, Eduardo Cardozo, faltam dados mais precisos para que o Brasil
possa demandar qualquer medida por parte do outro signatário do tratado
de extradição mantido com a Itália.
Antes de qualquer medida legal, seria necessário que Pizzolato fosse
localizado para que o governo brasileiro possa pedir sua extradição.
Somente a partir desta informação, as autoridades italianas estarão
aptas a analisar o caso.
Barbosa em apuros
Fac-símile de documento que será levado à Justiça italiana por Henrique Pizzolato
Antes de embarcar para a Itália, Pizzolato teve tempo suficiente para
juntar todas as provas que considerou necessárias para “desmascarar
essa peça de ficção montada na cabeça do (ex-deputado do PTB Roberto)
Jefferson e corroborada no relatório de (Joaquim) Barbosa”, disse o
advogado. Ponto fundamental da defesa, o fato de os recursos utilizados
na formação de um caixa 2 de campanha serem de uma empresa privada “vai
mudar completamente o entendimento sobre o caso, que a mídia
conservadora apelidou de ‘mensalão’, colocando o relatório do ministro Barbosa em apuros“, afirmou.
No dossiê que Pizzolato preparou, com cerca de mil páginas, e que
está em seu poder, na Itália, constam documentos que, por razões ainda
não explicadas, Barbosa preferiu omitir em seu relatório. “Documentos da
AP 470 comprovam que a Procuradoria Geral da República (PGR), o
Ministério Público Federal (MPF) e o ministro Joaquim Barbosa já sabiam
que a agência DNA, do publicitário Marcos Valério, era contratada do
Banco do Brasil (BB) desde 2001. Mesmo com a Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) dos Correios e a Polícia Federal (PF) identificando que
na era FHC o gestor do BB na empresa privada Visanet tinha uma prática
idêntica ao que foi denunciado na AP 470, tanto a PGR/MPF quanto Barbosa
nada fizeram contra os tucanos”, afirma o relatório que será
encaminhado à Justiça italiana.
“A ‘nota técnica’ do BB, de 2001, é a prova definitiva de que a DNA
já estava no BB e recebia recursos privados da Visanet”, afirma
Pizzolato, no dossiê que chegará às mãos das autoridades italianas, tão
logo o caso seja registrado naquele país.
Procurado pela reportagem do Correio do Brasil, o gabinete do ministro Joaquim Barbosa não soube informar se ele irá se pronunciar sobre o assunto.
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