Entre os objetivos da presidente Dilma Rousseff, até dezembro de 2014, está a retirada de 16 milhões de brasileiros da miséria e a intensificação da regionalização do setor de saúde, com a ampliação dos serviços de home care, levando o atendimento "de um hospital às casas das famílias".
Em entrevista exclusiva, concedida à revista Carta Capital, edição 659, a presidente diz querer “consolidar um Brasil de classe média”, até o final do seu mandato, e garantiu que a Comissão da Verdade irá sair ainda em seu governo.
Acompanhe a seguir o resumo dos principais pontos abordados por Carta Capital.
Crise financeira mundial
Dilma explica que o que vem pela frente é algo distinto do que o mundo e o Brasil vem sofrendo desde 2008. "Temos um problema sério, porque os EUA podem ir para o quantitative easing3 (emissão de dólares) e aí eles vão inundar este nosso País", assim como os demais mercados ainda aquecidos, como o da Argentina.
O quadro irá exigir "um grande esforço" para conter os efeitos da desaceleração econômica que, segundo a presidente, iniciou-se com a tributação sobre os derivativos e continuará com o aprimoramento da política industrial. Algumas dessas medidas foram anunciadas no dia 2 de agosto, com o Plano Brasil Maior, por meio do qual o governo concede renúncia fiscal de R$ 24 bilhões às empresas até o final de 2012. Outra medida no âmbito do programa, chamada de Reintegra, restitui em dinheiro aos produtores de bens manufaturados o equivalente a 3% de suas exportações.
Dilma critica os governos dos Estados Unidos e da Europa por "encherem os bancos de dinheiro", mantendo a desregulamentação, em vez de tomarem "medidas cabíveis".
"Há duas utopias apresentadas como possíveis. Há aquela americana, a solução dos republicanos, que acham ser possível sair de uma das maiores crises, gerada não pelo descontrole dos gastos públicos, diminuindo o papel do Estado (...) Não se recupera uma economia desse jeito".
A outra utopia "vendida lá na Europa" diz que "é possível a gente ter uma união monetária em que a economia central, ou as economias centrais, se beneficiam de uma única moeda, estruturam um mercado, vendem os seus produtos para esse mercado e não têm a menor responsabilidade fiscal, punindo seus integrantes quando eles entram em crise, também provocada pelo nível de empréstimo dos bancos privados", afirma, e promete fazer uma política de conteúdo nacional com inovação, "a mesma que aplicamos em relação a Petrobras e que deu origem à encomenda de estaleiros novos produzidos no País".
O objetivo é proteger a indústria nacional dos produtos importados, dada a grande capacidade ociosa da indústria manufatureira no mundo, à procura de mercados.
Sobre a mídia e o ministro Celso Amorim
Para Dilma, não só no Brasil, mas em todo o mundo, os governos têm relações contraditórias com a mídia, a exemplo dos Estados Unidos, entre a Fox e o presidente Barack Obama. A presidente diz que no Brasil "os problemas reais perdem espaço para os acessórios, ou para os que não são reais" e reafirmou ter certeza da grande capacidade de gestão de Celso Amorim.
Dilma afirma que as crises administrativas nos ministérios do Transporte e da Agricultura não foram pautadas pela mídia. "Afastamos as pessoas quando achamos que o caso era grave", explica.
Copa 2014
A presidente não vê risco nenhum quanto à infraestrutura que o país estará oferencendo nos jogos de 2014.
"Na última avaliação, das obras de estádios em andamento, dez estavam com zero de problemas, fora as dificuldades normais inerentes a grandes projetos. Um por problema na licitação, que foi feita. O outro, por conta de uma discussão entre o Ministério Público Federal, o TCU e a CGU. E havia o estádio em São Paulo, cuja situação é pública e notória, e por isso eu o cito aqui. Fizemos muita pressão para resolver o impasse de uma vez por todas. O governo estadual decidiu então entrar, assim como a prefeitura", responde.
Quanto à estrutura logística, Dilma destaca que os dias dos jogos serão feriados no país. Os esforços agora são para os aeroportos de maior trafego, São Paulo e Brasília, que passam pelo processo de concessão privada (51% dos ativos serão concedidos, outros 49% continuarão com a Infraero). Num segundo momento o governo irá se focar nos aeroportos do Galeão (Rio de Janeiro) e Confins (Belo Horizonte). A presidente reitera que os preparativos para a Copa do Mundo estarão prontos em dezembro de 2013.
Saúde
Dilma destaca que sua grande obsessão neste mandato é reformar parte da saúde pública. O pontapé inicial do seu governo foi a modernização e remodelagem de cerca de 40 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS), conta.
O trabalho está sendo estruturado em cima de um mapa da pobreza: serão construídas 3 mil novas UBS nas regiões mais afetadas, a exemplo do programa Rede Cegonha, que começou pelos municípios com baixo nível de acesso a serviços públicos.
A grande mudança no sistema nacional de saúde virá com a implantação e ampliação do home care, ou seja, levar o atendimento hospitalar às casas das pessoas. "Isso vai descongestionar o tratamento final nos hospitais e diminuir a quantidade de tempo que as pessoas permanecem ocupando um leito", afirma.
Trem-bala
Dilma reitera seu propósito de construir o trem-bala argumentando que "as mesmas pessoas que hoje criticam o trem-bala diziam nos anos 1980 que o Brasil não deveria fazer metrôs”. A justificativa é que o meio de transporte irá causar uma desconcentração urbana das metrópoles Rio de Janeiro e São Paulo. “Uma vez em Tóquio percebi que as ruas eram estreitas, mas não havia congestionamentos. Quis saber o motivo e me explicaram que o sistema de trens criado depois da Segunda Guerra Mundial tinha mudado a direção urbana das cidades. Nas paradas entre Tóquio e Kyoto criaram-se bairros, áreas de moradia”, conclui.
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