Guerrilheiro Virtual

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Declínio e queda da classe média americana

Guardian

Ninguém poderá acusar os candidatos que participaram do debate republicano da segunda-feira de não terem discutido uma grande gama de tópicos. Eles falaram de questões de grande importância: sobre a previdência social, as guerras no Iraque e Afeganistão, a independência energética, a revogação da reforma da saúde e a necessidade de gerar empregos. E falaram sobre questões pequenas, visando marcar pontos políticos coisas como vacinas contra HPV para meninas.

Ficou faltando do debate, contudo (e, na realidade, de boa parte da discussão atual da política americana), a maior questão isolada que o país enfrenta: a destruição da classe média americana. Para encontrar artigos sobre como a América vem se separando entre ricos e pobres, com muito pouco no meio, é preciso mergulhar atrás das manchetes sobre a disputa política mais recente em Washington e procurar as informações nos detalhes.

Tome-se uma notícia dada pelo "Wall Street Journal" na segunda-feira. A história trata, nominalmente, de estratégias de marketing, analisando como a firma gigante Procter & Gamble vende seus artigos para o lar. Mas o quadro que emerge é assustador. Ficamos sabendo que a P&G está reduzindo seu marketing voltado à classe média, que está desaparecendo, vendendo muito para fregueses de alta renda ou baixa renda e abandonando os de renda média. Outras grandes empresas, como a Heinz, vêm fazendo o mesmo. O artigo revela que existe um termo, cunhado pelo Citibank, para descrever essa estratégia: a Teoria da Ampulheta do Consumidor, que denota uma sociedade em que as faixas superior e inferior crescem, enquanto o meio é cada vez mais comprimido.

A matéria contém algumas cifras assustadoras, como o fato de que a renda líquida de um quinto das famílias americanas, justamente as da classe média, caiu 26% nos últimos dois anos. Ou que a renda da família americana mediana está mais baixa hoje que em 1998, contando com a inflação.

Uma matéria do "New York Times" na terça-feira mostra de modo contundente como vem piorando a situação do trabalhador americano. Empregos sólidos que, no passado, proporcionavam acesso seguro às metas da classe média (casa própria, faculdade para os filhos e aposentadoria no final) mudaram, tornando-se empregos mal pagos. O artigo destaca a situação de alguns trabalhadores do setor automobilístico de Detroit: empregados recém-contratados podem trabalhar ao lado de colegas que estão empregados há anos, que fazem trabalhos semelhantes, mas ganham o dobro. O sistema é descrito como uma estrutura salarial "em dois níveis".

Talvez esse sistema possa ser justificado como medida emergencial para manter viva a indústria automotiva de Detroit, ajudando-a a sobreviver aos tempos difíceis atuais. Mas, como a Teoria da Ampulheta do Consumidor, na realidade o sistema parece muito mais que é a forma permanente que as coisas vão assumir no futuro. A sociedade americana está se dividindo em duas partes, comprimindo a classe média na direção da extinção. As fileiras das pessoas de baixa renda estão crescendo, enquanto os ricos vão muito bem, obrigado --e ninguém vem falando sobre isso, o que dirá fazendo alguma coisa a esse respeito.

As verdades nuas e cruas sobre essa questão deveriam assustar os americanos de ambos os lados da divisão política. No início da semana o senador Bernie Sanders divulgou um relatório intitulado "A Pobreza é uma Sentença de Morte?". O estudo mostra que, em 313 condados dos EUA, a expectativa de vida das mulheres caiu nos últimos 20 anos. Desde 2004, o país ganhou 6 milhões de pobres adicionais.

De fato, esta semana o Burô do Censo dos EUA divulgou uma pesquisa mostrando que hoje um em cada seis americanos vive na pobreza; é o número mais alto já relatado pela organização. A pesquisa mostrou que a renda familiar média real caiu 2,3% em 2010 em relação ao ano anterior, refletindo o declínio da classe média. Ao mesmo tempo, os 20% mais ricos na população americana hoje controlam 84% da riqueza do país. Na realidade, os EUA se tornou um país tão espantosamente desigual que as 400 famílias americanas mais ricas têm tanto dinheiro quanto os 50% mais pobres do país.

Não importa se você é ativista do Tea Party ou organizador do Partido Socialista nos Estados Unidos --deveria poder concordar em relação a uma coisa, pelo menos: isto é insustentável. Alguma coisa precisa ceder. Mas ninguém no sistema político atual parece ter uma resposta a propor.

Nota desse blogueiro: O declínio da classe média americana de dá consequentemente em decorrencia da independência dos países ditos emergêntes que resolveram de fato emergir, ou seja, se desenvolver efetivamente, libertando-se dos agiotas do FMI, exploradores de juros altissimos desses países que viviam eternemente escravos de suas dívidas impagaveis.

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