Tenho dito que existe um movimento interno no jornalismo da TV Globo para resgatar sua credibilidade. Primeiro, porque sem que as pessoas confiem no noticiário o negócio deixa de prosperar. Segundo, porque a derrota na campanha eleitoral de 2010 teve um gosto amargo para a emissora do Jardim Botânico. A "bolinha de papel" foi o ápice de um processo de radicalização interna (que começou em 2003), e que virou um dos casos mais escandalosos da história da televisão brasileira, caso que só encontra paralelo com a tentativa de fraude nas eleições ao governo do Rio, em 1982, e com a manipulação do debate na Campanha Eleitoral de 1989. Portanto, é natural que alguma intervenção fosse feita.
Ela começou com uma "dança das cadeiras" discreta, como sempre foi, desde os tempos do "bom velhinho". "Ali Kamel" foi encostado e Carlos Henrique Schroder reassumiu os cordéis das marionetes. O primeiro passo foi criar instâncias intermediárias entre a redação e o ex-todo-poderoso, isolando-o. Em seguida, as trocas. Na Globo News, no Bom Dia Brasil e nos telejornais locais. Dizem que outras novidades estão em gestação.
Agora chegou a vez do esporte. Luiz Fernando Lima, o chefão do departamento, respirava por aparelhos, desde que subestimou o interesse da Record pelo direitos do Pan e das Olimpíadas de Londres em 2012. A derrota foi seu fim. Contribuiu para o desgaste a fragilidade que o departamento mostrou nas discussões sobre os direitos do "Brasileirão". A sorte foi aparecer o Tiago Leifert pelas mãos, pasmem, do Boni. Senão a crise seria bem mais grave.
Mas a sangria de Luiz Fernando será um processo lento, quase indolor. A idéia de Schroder é trocá-lo mais adiante, mas é preciso calma. A primeira baixa de sua equipe é a queda para cima de seu fiel escudeiro em São Paulo, Marco Mora (parece que sua saúde debilitada também contribuiu). O Plano é que Marquinho cuide apenas de eventos. E não são poucos (F-1, maratonas, ligas, etc...) Talvez assim, sem tanta pressão, não precise mais gritar e maltratar tanto os colegas. Para seu lugar agora está designado César Seabra.
Seabra tem prestígio. Toca de primeira. É muito ligado a Schroder e terá o papel de reestruturar o departamento em São Paulo e evitar as consêquencias da dilapidação sofrida, depois de perder profissionais importantes para a Record. Afinal, há dois eventos em que a Globo não poderá fracassar por falta de quadros e know-how: a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, e as Olimpiadas de 2016, também aqui.
A tendência é que São Paulo sirva como um laboratório, para preparar Seabra a assumir o lugar de Luiz Fernando mais adiante. Como todos bem sabemos, a Globo não abre mão de pessoas que alcançaram postos-chaves, a não ser que elas decidam deixar a empresa por livre e espontânea vontade. São profissionais que conhecem os tapetes e tudo o que há por baixo deles.
Na Globo News, de onde saiu, Seabra deixou a marca da renovação. O canal tem servido, inclusive, para a emissora ousar a exercitar o debate, tão cerceado nos últimos tempos. Posso dar dois exemplos. O programa "Entre Aspas", que em outubro de 2010 trouxe para o estudio o ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, que desmascarou a tese da própria emissora, que acusava a Petrobras e o Governo de manobra contábil.
O mais recente foi o episódio de ontem, que teve como convidado o jornalista "Caco Barcellos". Assunto que desenvolvo com mais calma, em outro post.
No DoLaDoDeLá
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