Falah El Shakir, no Monitor Mercantil
Os tambores da guerra no Grande Oriente Médio estão rufando de novo, com protagonistas os veículos de comunicação do Ocidente. Recordando com preocupação a campanha de mídia sobre armas de destruição de massa de Saddam Hussein, que antecedeu a invasão do Iraque, o The New York Times mostra-se já absolutamente convicto quanto à possibilidade de o Irã fabricar armas nucleares, a ponto, aliás, de distorcer até inclusive os relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica.
Em reportagem semana passada sobre o embargo que alavanca a Europa contra o petróleo iraniano, o NYT escreveu caracteristicamente: "As ameaças do Irá, voltadas tanto contra o Ocidente, quanto também a Israel, em sintonia com a recente avaliação da Agência Internacional de Energia Atômica de que o programa nuclear iraniano tem objetivo militar, revela-se tema maior da campanha pré-eleitoral nos EUA".
Contudo, jamais a AIEA declarou, categoricamente, que o Irã está pronto para fabricar armas nucleares. Em seu último relatório mostra, simplesmente, que o programa nuclear iraniano é bastante desenvolvido e reúne as possibilidades para ser utilizado, também, para esta finalidade. A distorção da realidade foi tão visível, a ponto de o parágrafo crítico ter sido retirado da edição eletrônica do NYT.
Suspeita vira certeza
Entretanto, não foi a única notícia do jornal naquele dia que descobria armas de destruição de massa no Irã. Em seu caderno de Economia, em reportagem sobre as consequências que teria sobre o preço do petróleo o bloqueio do Estreito de Ormuz pelo Irã, o jornal norte-americano relata que "a eventualidade está visível caso os EUA e a Europa decretem um asfixiante bloqueio petrolífero no Irã em um esforço para impedirem o desenvolvimento de armas nucleares".
Novamente, então, uma suspeita transforma-se em certeza, em um processo semelhante àquele que resultou na Segunda Guerra do Golfo. Foi quando, por intermédio de incessante repetição pelas autoridades governamentais norte-americanas e dos veículos de comunicação dos EUA sobre existência de armas de destruição em massa de Saddam Hussein, que a opinião pública dos EUA convenceu-se - em alto grau - da necessidade de ser desfechada uma "guerra preventiva" de Bush Jr. contra o Iraque.
O novo casus belli foi definido segunda-feira passada pelo ex-arquiaraponga da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA e atual secretário de Defesa norte-americano, Leon Panetta: "Nossa linha vermelha no que diz respeito ao Irã é a seguinte: "Não desenvolver armas nucleares"".
E assim o fez, considerando que o terreno já havia sido devidamente preparado pelas publicações dos jornais norte-americanos da semana passada, os quais apresentaram as armas nucleares do Irã como "favas contadas".
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