Guerrilheiro Virtual

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

E-soldado denuncia torturador que mora em Foz do Iguaçu

Aluizio Palmar


“Izabel Fávero - professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”. (Luta, Substantivo Feminino, livro publicado pela Secretaria de Direitos Humanos em parceria com a Secretaria de Políticas para Mulheres, ambas da Presidência da República, e Caros Amigos Editora dentro do projeto Direito à Memória e à Verdade. Livro reúne os perfis de 45 mulheres assassinadas e desaparecidas por agentes da ditadura militar no Brasil (1964-1985), cujos casos foram julgados pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos )Em agosto de 2001, o jornal Folha do Paraná recebeu a carta em anexo, cujo autor é um morador da cidade de Barbosa Ferraz (PR).

Na correspondência, o signatário que se identifica como José Ferreira, e diz ter sido em 1970 soldado do 1º Batalhão de Fronteiras, de Foz do Iguaçu, hoje 34 Batalhão de Infantaria Motorizada descreve as cenas de tortura sofridas por Luiz Andrea Fávero e sua esposa Clari Izabel. O recruta confirma as denúncias de torturas que os professores fizeram ao grupo que elaborou o dossiê Brasil Nunca Mais. Na carta, o ex-soldado revela o nome do torturador, hoje advogado em Foz do Iguaçu e diz que “sempre teve um peso da consciência”.

RELATO PUBLICADO NO DOSSIÊ BRASIL NUNCA MAIS

O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, após pesquisar nos 12 volumes do Projeto Brasil Nunca Mais, organizado pela Arquidiocese de São Paulo, e em outras fontes vem a público denunciar Mário Expedito Ostrovski, como membro dos órgãos de repressão no período de Ditadura Militar.

O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ acredita ser importante enfatizar que o Projeto Brasil Nunca Mais, é o resultado da microfilmagem de todos os processos que se encontram no Superior Tribunal Militar, em Brasília, abrangendo o período de1964 a1978. Trata-se, portanto, de documentação oficial que não pode ser rotulada de facciosa.

O nome de Mário Expedito Ostrovski, aparece uma vez em uma lista do Projeto Brasil Nunca Mais, como 2º Tenente R/2 Infantaria EB atuando na Unidade Militar Foz do Iguaçu/PR, em 1970.

Na lista, de “Elementos Envolvidos Diretamente em Torturas”, à página 17 do Tomo II, volume 3 “Os Funcionários”, seu nome é denunciado , como 2º Tenente R/2 Infantaria EB, no Paraná em 1970.

No Tomo V volume 2 do livro “As Torturas” às págs. 805, 806 e 807 é denunciado, em Auditoria, por Luiz Andréa Fávero, 26 anos, professor, em 1970 esteve preso na Unidade Militar de Foz do Iguaçu/PR, no auto de qualificação e interrogatório transcrito abaixo:

“(…) o interrogando foi surpreendido na residência de seus pais, por uma verdadeira caravana policial; que ditos indivíduos invadiram a casa, algemaram seus pais (…) que em dita dependência os policiais retiraram violentamente as roupas do interrogando e, utilizando-se de uma bacia com água aonde colocaram os pés do interrogando, valendo-se ainda de fios, que eram ligados a um aparelho, passaram a aplicar choques; (…) que, a certa altura o interrogando ouviu os gritos da sua esposa e, ao pedir aos policiais que não a maltratassem, uma vez que a mesma encontrava-se grávida, obteve como resposta uma risada; (…) que o interrogando foi em seguida conduzido para fora da casa, lá avistando seus pais amarrados em uma viatura; que, a certa altura, um policial, deu ordem para que o interrogando corresse e isto de metralhadora em punho (…) que pela manhã o interrogando e sua esposa foram conduzidos para Nova Aurora, (…) foi conduzido para uma sala existente naquele local, por dois policiais que diziam pertencer ao DOPS do Rio/GB, um de nome Juvenal e o outro de nome Pablo; que em dita sala novamente o interrogando foi submetido a torturas, já das mesmas participando o capitão Júlio Mendes, e o tenente Expedito (…) que quer acrescentar ainda que o policial civil de nome Juvenal, em certa altura das torturas que se infringia ao interrogando, mostrou a este um emblema de uma caveira, intitulando-se participante do Esquadrão da Morte (…) que ainda nesse mesmo dia teve o interrogando notícia de que sua esposa sofrera uma hemorragia, constatando-se posteriormente, que a mesma sofrera um aborto (…) posteriormente transferido para Curitiba; que nesta cidade foram levados no Quartel da PE, lá encontrando já fardado a pessoa que comandava a operação realizada em sua residência e mais dois sargentos que participaram também das torturas; que o capitão é de nome Kruguer, e os sargentos Bruno e Balbinoti (…)”

Estas declarações de Luiz Andréa Fávero encontram-se no Processo 551/70 Apelação 38 882, 5ª RM/CJM, contando de 1 volume ( informações à pág. 49 do Tomo II volume 1 “A Pesquisa BNM” do Projeto Brasil Nunca Mais). Este processo trata: “ IPM foi instaurado como desdobramento de prisões no Rio Grande do Sul, atingindo a VAR- Palmares. Apura-se a estruturação de um Comando Territorial da VAR no Paraná, essencialmente na área de Nova Aurora, onde o grupo da VAR vivia em uma fazenda planejada para funcionar como refúgio da Organização e para aliciamento de camponeses na região (informações às págs. 136 e 137 do Tomo II Vol. 1 “A Pesquisa BNM”).


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