"Joaquim José,
que também é
da Silva Xavier,
queria ser dono do mundo
e se elegeu Pedro II.
Das estradas de Minas
seguiu pra São Paulo
e falou com Anchieta,
o vigário dos índios.
Aliou-se a Dom Pedro
e acabou com a falseta:
da união deles dois
ficou resolvida a questão
e foi proclamada
a escravidão"
(Sérgio Porto, "Samba
do crioulo doido")
do crioulo doido")
Andamos para trás: enquanto a bancada evangélica no Congresso tenta obrigar os psicólogos a tratarem o homossexualismo como uma doença, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil vai distribuir agora os panfletos contra o descriminalização do aborto apreendidos às vésperas do 2º turno da eleição presidencial de 2010, recentemente liberados pela Justiça.
Calcula-se que tenham sido confiscados entre 1 milhão e 2 milhões desses papeluchos afrontando a separação entre a Igreja e o Estado, ao reforçarem a imposição de preconceitos religiosos a toda a população, ateus e agnósticos inclusos.
E, claro, tal decisão judicial torna difícil evitar que sejam feitas e espalhadas novas impressões da pregação medievalista.
Pai de duas filhas legítimas e uma adotada, desaconselharei sempre o aborto a quem pedir minha opinião.
Mas, vou defender com unhas e dentes o direito de os responsáveis pela gravidez --e eles só!!!-- decidirem se podem e querem levá-la adiante.
Não vejo vantagem nenhuma e muitas desvantagens em, por meio da lei ou de intimidações de ordem moral, coagirmos pessoas a colocarem crianças indesejadas no mundo. Acabam sendo uma carga para os pais e depois para a sociedade, pois a falta de amor no início da vida tende a torná-las maus seres humanos.
Não é assunto no qual o Estado e os religiosos devam meter o nariz, salvo para garantiram a segurança da mulher, evitando que aborte quando já não é mais possível fazê-lo sem colocar sua saúde e sua vida em risco.
De resto, a perspectiva de termos militantes católicos distribuindo esses folhetos no período eleitoral me deperta péssimas lembranças:
- a participação da Igreja Católica na preparação do cenário para a quartelada de 1964 (com as famosas marchas de carolas, dondocas e reaças) e a convivência harmoniosa de D. Agnelo Rossi com a ditadura militar quando ele era arcebismo de São Paulo, entre 1964 e 1970; e
- as ridículas campanhas de rua da Tradição, Família e Propriedade na década de 1960, colhendo assinaturas contra o divórcio e fazendo panfletagens contra o arcebispo vermelho, D. Helder Câmara.
Ou seja, tal recaída conservadora/reacionária por parte de católicos e a escolha dos gays pelos evangélicos como espantalhos da vez nos fazem retroceder mais de quatro décadas.
Pelo andar da carruagem, ou reagimos de imediato e com firmeza ao retrocesso ou acabaremos proclamando a escravidão, como ironizou Sérgio Porto no seu genial "Samba do crioulo doido".
Chega de tergiversações eleitoreiras e de cumplicidade com o atraso!
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