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segunda-feira, 26 de março de 2012

A dificil travessia

Maggi propõe. Bola ou búrica? Búrica, responed a primeira mandatária.
Foto: Lia de Paula/Ag. Senado
 

Maurício Dias*

Foram preocupantes, para o governo, os sinais emitidos pela base governista na Câmara dos Deputados, na quarta-feira 21. Quatro decisões apontam nessa direção: a obstrução à votação da Lei Geral da Copa, a convocação da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para explicar na Comissão do Trabalho as razões da suspensão de concursos públicos, o convite ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, além da aprovação da emenda constitucional, na Comissão de Constituição e Justiça, que tira do Executivo a prerrogativa de demarcar terras indígenas.

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Um levantamento nas votações mostrou que apenas o PT, o PSB e o PCdoB marcharam juntos pela votação da Lei da Copa. Traduzido em números, significa apenas 129 votos, de uma base governista composta de 17 partidos que projeta o apoio teórico de 352 deputados.

Isso mostra, a olho nu, o tamanho numérico do descontentamento da base e permite concluir, acacianamente, que o governo Dilma e a Câmara estão em rota de colisão.

Certos aliados escondem-se atrás do biombo da hipocrisia política. É o caso do deputado peemedebista Henrique Alves. Há informações consistentes de que a presidenta está inquieta. E não é para menos. Inquieta, mas certamente não arrependida das decisões que toma. A principal delas, fonte de todos os males, é o claro sentido do ambiente político do País. Um ambiente no qual ela foi eleita, porém, com princípios com os quais não quer governar. Aos quais não quer ceder sob pena, como já parece claro à sociedade, de ser subjugada em seus valores.

A oposição já tentou alardear que a presidenta faria uma faxina. Intriga da oposição que, ao propor isso, tenta uma armadilha com o objetivo de inviabilizar a governabilidade. Dilma transige, dentro de limites. Às vezes até troca seis por meia dúzia, como aparenta ser a mudança na liderança governista no Senado. Diante da crise tirou Romero Jucá (PMDB) e escolheu Eduardo Braga (PMDB), que, ao assumir, pregou o fim de antigas práticas.

Mesmo assim, nas pregações inaugurais de Braga, é possível perceber uma ponta das preocupações essenciais de Dilma.

“O Brasil vem passando por uma transformação econômica e social, mas ainda não tinha feito o enfrentamento das antigas práticas políticas”, disse o novo líder do governo no Senado.

Segundo ele, a partida para a reação final de Dilma começou com a rejeição, no Senado, à indicação de Bernardo Figueiredo para presidir a Associação Nacional de Transportes Terrestres feita pelo governo e bloqueada pelos senadores. Na sucessão de problemas, surgiu a reação do senador Blairo Maggi à resistência da presidenta de se submeter ao nome indicado pelo PR para o Ministério dos Transportes.

Ou bola ou búrica, propôs Maggi. Dilma respondeu búrica. Entre o tudo e o nada, ela optou pelo nada.

 
Índice de aprovação do governo e do congresso de acordo com a população

Dilma, sem dúvida nenhuma, apoia-se na credibilidade social. As últimas pesquisas dão a ela 72% de aprovação à maneira com que governa o Brasil. Esses números de aprovação do governo se contrapõem à credibilidade do Congresso junto à sociedade, que, nos últimos três anos, vem em constante queda.

A coragem de Dilma para o enfrentamento com os adversários já foi posta à prova. Nos anos 70, ela participou da luta armada contra as práticas da ditadura. Sem apoio da sociedade, ela perdeu. Agora, enfrenta a oposição do Congresso, com o apoio da sociedade. Pode ganhar.

Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na revista. mauriciodias@cartacapital.com.br

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