Lendo o livro João Goulart, uma biografia, do historiador Jorge Ferreira, deparei-me com essa pérola de discurso dito no comício da Central do Brasil nos anos 1960: A seguir, com uma intervenção inflamada, o Sr. José Serra, presidente da União Nacional dos Estudantes, exigiu a extinção da “política de conciliação” para se efetivarem todas as medidas de amparo e garantia às classes populares. Após ressaltar a importância do fim da vitaliciedade das cátedras, contida na reforma universitária, Serra atacou, em tom agressivo e contundente, aqueles que defendiam o fechamento da CGT e exaltou, como uma realidade animadora no quadro político brasileiro, a presença da “classe dos sargentos que emerge para as lutas populares”. Quem te viu, quem te vê. Pois é, o Serra que hoje chama os membros do MST de baderneiros, que bota a polícia para bater em líderes sindicais, que chama sindicalista de pelego, que fala de aparelhamento do Estado, que é contra a greve de servidor público, que adora conciliar com a direita, que defendia o aborto e a descriminalização das drogas, é o mesmo que, num passado não muito recente, defendia a CGT, defendia as lutas populares, defendia os militares progressistas. Serra é do tipo do ex-esquerdistas que, no dizer de Emir Sader, merecem nosso desprezo, nem sequer nossa comiseração, porque sabem o que fazem – e os salários no fim do mês não nos deixam mentir, alimenta suas mentiras – e ganham com isso. Saíram das bibliotecas, das salas de aula, das manifestações e panfletagens, para espaços na mídia, para abraços da direita, de empresários, de próceres da ditadura.
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