A partir da Era Collor criou-se em São Paulo um certo exibicionismo enológico aonde novos-ricos, exclusivamente novos-ricos, ricos tradicionais não caem nessa armadilha, passam a discutir, comentar e tentar demonstrar conhecimentos sobre vinhos caros. A segunda etapa é exibir a adega para convidados. Nos restaurantes tentam discutir com os sommeliers como se "experts" fossem.
É tudo muito ridículo, é apenas demonstração de incultura, esnobismo vazio, breguice porque:
1. A cultura do vinho surge com naturalidade em países com longa tradição vinícola, onde existem escolas de enologia, enólogos profissionais, produtores de linhagem, boa literatura sobre vinhos.
2. Países apenas consumidores ou produtores marginais não tem essa cultura mas tentam fingir que tem, sem tê-la verdadeiramente, são tentativas inúteis porque essa cultura não se improvisa.
3. Os novos ricos que falam sobre vinhos em São Paulo, na esmagadora maioria dos casos, não tem em casa um único livro importante sobre a cultura do vinho, podem ter no máximo algum guia rápido.
Ao conversar sobre um Borgonha o conhecedor real conhece a história vinícola da região, a história das principais casas, ja esteve na região, é familiarizado com o assunto de forma natural.
4. Como não conhecem de fato a cultura do vinho, os ""eno-chatos" paulistas tem um referencial para eles seguro: O PREÇO. Ao pegar a carta de vinhos de um restaurante se guiam pelo preço, a equação para eles é, se é caro, é bom. Não sabem porque é caro porque não conhecem a história desse vinho ou de qualquer outro, tratam o vinho como a patroa deles trata uma bolsa Prada.
Não conhecem safras porque para isso precisariam antes conhecer a origem, então são vítimas faceis de sommeliers que empurram safras ruins, um variável fundamental no preço, de bons rótulos.
5. A chamada "escola Robert Parker", o mais conhecido crítico de vinhos dos EUA, diz que nenhum vinho intrinsecamente pode valer mais de cem dólares. Parker foi o principal responsável pela introdução de vinhos da África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e pela enorme expansão da venda de vinhos chilenos e argentinos nos EUA, tudo em detrimento dos tradicionais vinhos europeus. Além disso foi um grande propagandista dos ótimos vinhos californianos.
Parker foi ameaçado de morte na França porque disse que os Bordeaux de 5 ou 10 mil dólares eram uma mistificação, um reles truque de marketing. A revista de Parker ""Wine Spectator"" é a bíblia dessa escola e seleciona mensalmente vinhos bons a preços razoáveis.
Para quem curte vinhos os críticos são fundamentais, gosto muito de Hugh Johnson, inglês que tem uma visão melhor e mais abrangente do que Parker, mas Parker é um revolucionário que muito contribuiu para a popularização do consumo de vinho nos novos mercados.
Quanto aos eno-chatos e aos eno-esnobes, a melhor coisa é rir deles, são meros eno-palhaços, na linha do Burguês Fidalgo, de Molière, querem demonstrar importância através do vinho, é uma comédia para diversão de todos nós, deixe-os falar e pensar que impressionam.
Andre Araujo
Do Advivo
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