No fim de 2011, Natalina
Carvalho Campos levou um susto ao receber cartas do Sistema Único de
Saúde pedindo que confirmasse duas internações na Casa de Saúde
Imaculada Conceição, em Italva, Noroeste Fluminense, por insuficiência
cardíaca. Só que ela nunca teve problemas no coração. Natalina contou à
polícia que só esteve uma vez na casa de saúde, em 20 de fevereiro de
2011, para retirada do útero, recebendo alta no dia seguinte. Ou seja,
10 meses antes de seu nome ser usado para criar seis internações
fictícias com a finalidade de fraudar o SUS. O diretor de Serviços de
Saúde da casa de Saúde é o médico Ronald Faria Crespo, candidato do DEM
a prefeito de Itaperuna, município vizinho a Italva.As informações são do O Globo
O depoimento de Natalina consta
no inquérito da Delegacia Fazendária (DelFaz), que durante três meses de
investigação encontrou fortes indícios de desvio de verbas do SUS na
Casa de Saúde Imaculada Conceição. Dados obtidos pelo GLOBO apontam que a
instituição recebeu do SUS R$ 5,2 milhões, entre janeiro de 2010 e
junho deste ano. O valor é destinado ao pagamento de procedimentos
clínicos e cirúrgicos feitos pela entidade privada credenciada.
A polícia descobriu casos
graves: duas pessoas, cujos nomes constavam em Autorizações de
Internação Hospitalar (AIHs), continuavam a "receber tratamento médico"
depois de mortas. São os casos de Maria José Teixeira de Andrade,
falecida em 10 de janeiro de 2010, e de José Santos de Almeida, que
morreu em 14 de fevereiro. Sua AIH dizia que ficou internado até 14 de
março, um mês depois de falecer na Imaculada Conceição.
Os auditores da secretaria de
Saúde do estado analisaram 4.349 das 4.432 AIHs de 2011 da Imaculada da
Conceição. Constataram que 637 foram para tratamento de pneumonias ou
influenza e 334, para liberação de aderências intestinais - doença rara e
bem remunerada pelo SUS, de acordo com os auditores, pois cada
procedimento custa R$ 829,06. Segundo a auditoria, a realidade das
patologias normalmente encontradas em hospitais não refletia a prática
da clínica.
Em duas diligências feitas pelo
setor de inteligência da delegacia, foram ouvidas 18 pessoas que
contaram terem sido atendidas, mas tinham os nomes em vários
procedimentos não realizados. É o caso de Natalina, que, de acordo com
as cartas do SUS, teria ficado na clínica de 18 de novembro a 22 de
novembro e de 26 de novembro a 30 de dezembro de 2011. Cada procedimento
custou R$ 699,46 e foi pago pelo governo federal. Há casos ainda de
pacientes que pagaram por cirurgias, também cobertas pelo SUS, o que
revela pagamentos em duplicidade.
O titular da DelFaz, Ângelo
Ribeiro, disse que vai investigar o destino do dinheiro. O Ministério da
Saúde informou que aguarda os desdobramentos da auditoria para avaliar o
descredenciamento pelo SUS. Ronald Crespo afirmou que as denúncias são
falsas, dizendo ser vítima de perseguição política.
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