Guerrilheiro Virtual

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Debate morno na 'RedeTV!' mostra que Serra perdeu o respeito dos adversários!

 por Marcos Doniseti! 

O debate na RedeTV!, entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, foi morno durante quase todo o tempo, mas serviu para mostrar que  Serra perdeu o respeito dos adversários.

Até a Soninha e o Levy Fidelix o criticaram em algum momento. Chalita, então, trucidou Serra logo no início do debate, jogando no colo deste o Paulo Preto, o Aref Saab e o abandono da prefeitura depois de 15 meses de mandato. Este foi o único momento mais quente do debate que, no geral, foi bastante morno.

Quanto ao seu discurso, Serra falou de tudo o que fez ao longo da sua carreira política (obras aqui, programas lá... só faltou dizer que foi ele que fez o Oceano Atlântico, as Pirâmides do Egito Antigo e a Floresta Amazônica) mas o eleitor não esquece que ele é o candidato de Kassab e que abandonou a prefeitura depois de apenas 15 meses de governo, após prometer e registrar em cartório que não faria isso.

Mas, parece que, nesta eleição, o eleitor já condenou Serra, independente do que ele fale ou faça. Seu discurso não é mais levado à sério, até porque é o mesmo de outros Carnavais e entra em choque com o que ele fez quando teve a chance de governar a cidade anteriormente.

Quanto à Haddad ele, visivelmente, estava lá se apresentando ao eleitorado, mostrando a sua trajetória profissional, política e administrativa e falando sobre as suas propostas de governo, como o Bilhete Único Mensal, que é uma idéia que foi bem recebida pelos eleitores. Ele precisa fazer isso, neste momento da campanha, pois é um novato em disputas eleitorais, tal como Dilma também era em 2010.

E Haddad procurou fazer isso sem entrar em polêmicas ou bate-bocas, sendo cuidadoso, seguro e tranquilo o tempo inteiro, sem perder a esportiva mesmo quando foi questionado a respeito das alianças indesejáveis, mas necessárias, como a feita com o PP malufista. Neste momento, ele se saiu bem, lembrando que o PP de Maluf é da base aliada do governo Lula desde 2004, continua assim no governo Dilma, faz parte do governo Alckmin, que Serra se aliou ao PR do 'mensaleiro' Valdemar Costa Neto, que o Russomano tem o apoio do PTB de Roberto Jefferson. Logo, ele mostrou que todos, ali, tinham alguma aliança inconveniente para esconder e da qual tem motivos de sobra para se envergonhar. Se quisesse, Haddad poderia ter criticado até o PSOL que, no Congresso Nacional, frequentemente se alia aos partidos mais conservadores, como o PSDB e o DEM. 

Em termos gerais, somente ele, Haddad, e Chalita passaram a impressão de que estudaram, de fato os problemas da cidade e que tem propostas concretas para resolvê-los (se irão conseguir isso são 'outros 500', mas propostas por parte deles é que o não faltou).

Os demais candidatos (Russomano, Fidelix, Giannazi, Paulinho e Soninha) faziam um discurso genérico, vazio, do tipo 'temos que investir mais em Educação, Saúde, Transportes'. É claro que tem que investir mais em todas estas áreas. Todos já estão carecas de saber disso. Mas a questão é: investir quanto, onde, quando e como? Outra coisa: Como não vai dar para fazer tudo, pois os recursos públicos são finitos, o que será prioridade?

É comum, nas campanhas eleitorais, um candidato falar que tudo será prioridade (Educação, Saúde, Moradia, Transporte, Meio-Ambiente, Segurança, Saneamento Básico, etc). Se ele faz isso, então é porque não tem prioridade nenhuma. Quem tem tantas prioridades, é porque não tem nenhuma.

No caso de Russomano, essa visível falta de preparo é o mais grave, pelo fato dele ser o líder nas pesquisas. Assim, por exemplo, falar que a educação está ruim em SP porque os pais dos alunos 'não olham o boletim' é de uma pobreza atroz.

O problema da Educação é estrutural, com problemas como salários que não atraem bons profissionais, condições precárias de trabalho, jornada excessiva com alunos em sala de aula - sem tempo para que possam se especializar ou se atualizar -, falta de materiais e de recursos pedagógicos adequados para se trabalhar, espaço físico insuficiente nas escolas, salas de aula superlotadas e por aí vai.

É preciso obter a colaboração da família dos alunos para se melhorar a educação pública? Sem dúvida. Mas, isso vai muito além do fato de que 'os pais não olham os boletins dos filhos.', como disse Russomano. Somente por essa resposta tão pobre num assunto tão importante quanto a Educação, já se pode perceber a fragilidade da candidatura de Russomano.

Russomano é claramente um candidato midiático, que por já ser bastante conhecido do eleitorado, de se apresentar como defensor dos interesses dos consumidores já há muitos anos, ter presença garantida na Mídia desde os tempos do Faraó e ter uma boa penetração no imensamente numeroso eleitorado evangélico da vasta periferia paulistana (afinal, ele tem o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo) ele conseguiu, em função de todos estes fatores, atrair para si a gigantesca insatisfação dos paulistanos com os oito anos do catastrófico governo Serra-Kassab.

Essa fragilidade de Russomano também ficou nítida quando foi questionado a respeito das críticas feitas por ele à construção do estádio do Corinthians, em Itaquera (região semi-periférica da capital paulista) e da idéia de se construir 'uma igreja em cada quarteirão'. Daí, ele recuou, tentando explicar que não era bem isso o que ele havia dito e a Mídia havia distorcido as suas palavras. Para mim, Russomano passou a impressão de um candidato que fala muita bobagem e, depois, tem que ficar se retratando o tempo inteiro, mostrando muito inconsistência e fragilidade no seu discurso.

Quanto à Giannazi, ele faz, basicamente, o mesmo discurso que a Heloísa Helena e o Plínio de A. Sampaio fizeram nas eleições presidenciais de 2006 e de 2010, respectivamente, que é o seguite: 'Somente nós, do PSOL, somos bons, puros e honestos. Todo os outros são corruptos, safados, picaretas e sem-vergonha. Apenas nós defendemos a ética na política. Os outros defendem a corrupção, a safadeza e a sem-vergonhice. Por isso, votem em nós'.

Com isso, o PSOL é sério candidato a se transformar na 'UDN das esquerdas', fazendo um discurso demagógico e pseudo-moralista a respeito da questão da corrupção, que também é uma questão muito mais complexa do que Giannazi tenta fazer crer, envolvendo leis fracas (repletas de brechas), impunidade, conivência da Justiça (vide o STJ, que anulou as investigações da Polícia Federal nas operações Satiagraha e Castelo de Areia), existência de inúmeros paraísos fiscais pelo mundo (o que facilita a transferência do dinheiro roubado para locais seguros), as facilidades de transferência de recursos para outros países via novas tecnologias e por aí vai.

Já o Paulinho da Força, também faz uso de um discurso genérico, dizendo que tem que levar os empregos para os locais onde as pessoas moram, nas periferias paulistanas. É verdade! Mas, ele nunca explica como fará isso. Ele fará uso da isenção de impostos para atrair empresas para a periferia? Investirá na formação e qualificação da força de trabalho das periferias, oferecendo cursos técnicos para a população destas regiões? Ele não explica. 

O melhor momento de Paulinho se deu quando ele criticou o PSOL, dizendo que este é um partido tão pequeno que ninguém se importa com o que os seus líderes e candidato dizem.

Aqui, faço um adendo à crítica do Paulinho: O PSOL até pode ser um partido pequeno, e realmente é, mas ele mal surgiu e já ajudou a extinguir com a CPMF, que era uma das principais fontes de financiamento da Seguridade Social brasileira (Saúde Pública, Previdência Social e Assistência Social), prejudicando os trabalhadores do país.

Além disso, a CPMF era o único imposto que os ricos não conseguiam sonegar e ajudava a descobrir quem, afinal, sonegava impostos ou não, pois era cobrado e descontado direto sobre as movimentações financeiras que eram realizadas por pessoas físicas e jurídicas.

Quanto à Levy Fidelix, ele é o candidato folclórico, que está ali para massagear o próprio ego, pois sabe que as suas chances de vitória são inexistentes. Dele surgem as propostas mais descabidas e engraçadas, como a dos motomédicos e motoremédios. Sem falar da sua proposta mais antológica, o já  mais do que consagrado Aerotrem, o Trem Voador.Porém, ele derrapou seriamente quando falou em ressuscitar o falido PAS de Maluf. Afinal, porque alguém se preocuparia em ressuscitar algo que já não funcionou anteriormente, não é mesmo? Mas, como é o Levy Fidelix que falou essa asneira, ninguém ligou muito para isso, não.

Para mim, em termos de desempenho, o melhor do debate foi Gabriel Chalita, seguido por Haddad, justamente porque ambos focaram os seus discursos na apresentação de propostas e não nos ataques aos adversários. Eles foram os únicos que passaram a impressão de terem estudado os problemas da capital paulista, que são muitos, e de se preocuparem em apresentar propostas viáveis. Mas, o candidato do PMDB terminou um pouco à frente de Haddad porque nocateou Serra logo no começo do debate, como já comentei acima.

Assim, aposto no crescimento de Chalita nas próximas pesquisas. Não duvido, inclusive, que este acabe, mais adiante na campanha, por ultrapassar Serra nas mesmas. Penso que Chalita é o candidato que tem mais condições de atrair o voto da classe média mais conservadora de São Paulo (e que rejeita o PT) e que se desencantou com Serra e com o péssimo segundo mandato de Kassab.

Quando ficar claro para este eleitor ex-serrista que o candidato tucano já era, acredito que Chalita irá ganhar vários pontos nas pesquisas e acabará ultrapassando ao ex-prefeito da capital. Porém, é provável que Chalita ainda esteja muito verde para se viabilizar como um candidato vitorioso em SP.

Numa próxima eleição ele terá chances maiores de conseguir a vitória.

Vamos aguardar o andamento da campanha, mas reforço o que já escrevi aqui em outros textos: Para mim, há uma tendência clara, nas pesquisas, de estabilidade de Russomano, crescimento de Haddad e de queda do Serra e tudo indica que os candidatos do PT e do PRB irão para o segundo turno. E este debate da RedeTV! não irá alterar essa tendência.

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