Guerrilheiro Virtual

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Serra em Apuros


É cedo para dizer o que vai acontecer na eleição de prefeito em São Paulo, mas de uma coisa podemos estar certos: é a mais extraordinária do ano.
 
Não pela falsa razão de ela funcionar como “ante-sala” da próxima eleição presidencial. A experiência nos ensina que, por mais importante que seja – em função do tamanho da cidade e de seu papel na economia brasileira – saber quem é seu prefeito em nada nos ajuda a prever o rumo que tomará a sucessão no Planalto. 
 
O que ela tem de mais relevante este ano é que exemplifica o modo como funcionam atualmente nossos dois principais partidos. Na eleição de São Paulo, PT e PSDB deixam claras suas diferenças.
 
Nada indica que Lula tenha pensado na candidatura de Fernando Haddad depois de consultar pesquisas de opinião que mostrassem que era preponderante a vontade de renovação no eleitorado paulistano.
 
Ao contrário, o que elas indicavam em 2011 era o bom desempenho dos candidatos conhecidos. Como sempre acontece nas pesquisas feitas a grande distância da eleição, lideravam nomes que já haviam disputado outras vezes e eram lembrados pelos entrevistados.
 
Marta Suplicy e Serra estavam na frente, com a senadora sempre acima do ex-prefeito.
 
Não foi, portanto, em função de resultados de pesquisa que o ex-presidente optou por Haddad. No máximo, olhou os números da rejeição e avaliou que Marta teria dificuldade para crescer e atrair a maioria necessária a vencer no segundo turno.
 
Algo que um candidato inteiramente novo poderia conseguir, mesmo se começasse de baixo nas intenções de voto. 
 
Quando se decidiu e levou o PT a apoiá-lo, Lula fez um lance arriscado. Que todos seus desafetos nas oposições, especialmente os observadores políticos na mídia conservadora, consideraram equivocado – para dizer o mínimo. 
 
Montado o tabuleiro do lado petista, os tucanos recuaram da disposição de fazer algo semelhante – que, aliás, estava em curso, no processo já iniciado de prévias partidárias. Não quiseram fazer como os adversários.
 
Optaram por uma jogada “segura”: achando que davam um xeque mate, foram correndo atrás de Serra – que desejava ardentemente a missão.
 
Na cabeça dos estrategistas peessedebistas, seria um passeio. De um lado, o inexperiente candidato que Lula tirou da algibeira, do outro, um “campeão de votos”, o líder de todas as pesquisas. 
 
Hoje, passadas as duas primeiras semanas da propaganda eleitoral, parece que a intuição de Lula estava correta. Que a maioria da cidade anseia por renovação. 
 
A expressiva vantagem de Celso Russomano é evidência do sentimento.
 
Nas pesquisas mais recentes, se somarmos as intenções que tem com as de Haddad e Chalita, vamos a 52% e a 65% dos “votos válidos” (descontando brancos, nulos e indecisos).
 
Serra não está mal por razões específicas de sua campanha, como alguns afirmam. Sua comunicação não é pior que em eleições passadas.
 
É igual. E esse é o problema.
 
Assim como ele é igual. Lamentavelmente igual àquilo em que se tornou.
 
De onde vem a surpresa de que até eleitores que simpatizam com o PSDB não acreditam na promessa de que, se vencer, governará a cidade por quatro anos? Será de não ter honrado a palavra antes? Ou de ele nunca esconder que só pensa em mais uma candidatura presidencial?
 
A esta altura, só resta especular sobre qual seria o destino do PT se tivesse feito como os tucanos. Se também tivesse se agarrado ao passado.
 
Mas falta um mês para a eleição. Quem sabe, até lá, as preces de Serra - às quais se dedica com tanta devoção - o livrem do vexame. 
 
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do instituto Vox Populi

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