Por Altamiro Borges
Na semana passada, cinco notícias confirmaram que a mídia
impressa vive a mais grave crise da sua história. Os jornalões e as revistonas não
vão acabar, mas estão moribundos. Não há mais como esconder. Os impérios
midiáticos, principalmente com as suas concessões públicas, ainda esbanjam força
– que o diga o fenômeno da novela “Avenida Brasil” da TV Globo. Mas o seu modelo
de negócios está em dificuldades. Newsweek, Público, El País, Los Angeles Times
e Jornal da Tarde confirmam este diagnóstico.
1- A revista estadunidense Newsweek, com 79 anos de vida,
anunciou que abandonará em dezembro próximo o formato de papel e que manterá
apenas a sua versão digital. Nos últimos cinco anos, a tiragem do semanário caiu
mais de 50%. Segundo Tina Brown, editora-chefe da publicação, não dá mais para
sustentar a versão impressa. As principais vítimas serão os jornalistas.
“Haverá cortes de pessoal e os negócios da companhia serão ‘enxugados’ nos EUA
e internacionalmente”, anunciou com a frieza típica dos patrões.
Durante décadas, a Newsweek dominou o mercado de revistas semanais
de notícias nos EUA, ao lado da Time. Em 2010, a crise atingiu a publicação.
Ela se fundiu ao Daily Beast, sítio de notícias criado pelo próprio grupo em
2008. No mesmo ano, ela foi vendida a Sidney Harman, empresário do setor de
áudio que adquiriu a revista por US$ 1 e assumiu o passivo de US$ 47 milhões. A
circulação da revista despencou. No primeiro semestre deste ano, ela vendeu nas
bancas 42 mil cópias – 60% a menos do que no mesmo período de 2007.
Em artigo no sítio Daily Beast, a editora-chefe ainda tentou
relativizar a crise do grupo midiático. “Estamos conduzindo a Newsweek a uma
transição, e não dizendo adeus. Mantemos o compromisso com a Newsweek e com o
jornalismo que ela representa. A decisão não se relaciona à qualidade da marca
ou do jornalismo – que continua excelente como sempre. Relaciona-se à situação
econômica desafiadora da produção e distribuição de mídia impressa”, explicou
Tina Brown.
2- Na sexta-feira passada (19), os profissionais do jornal português Público confirmaram
a deflagração de uma greve contra o recente anúncio de 48 demissões, sendo 36
da área editorial. Em nota aprovada na assembleia, os trabalhadores argumentam
que as dispensas inviabilizam a continuidade do diário como “órgão de
comunicação social de referência, viola o espírito de acordo celebrado com a
empresa em 29 de dezembro de 2011 e compromete gravemente a responsabilidade
social dos acionistas”.
Já o grupo midiático, um dos mais tradicionais de Portugal, afirma
que a demissão faz parte de um plano de redução de custos que visa cortar 3,5
milhões de euros dos seus custos fixos. A drástica medida, segundo a direção da
empresa, decorre da "forte tendência de queda de receitas como resultado da
substituição do papel pelo online”, somada aos "severos impactos da atual
crise econômica, quer nas receitas de circulação, quer nas receitas de
publicidade”.
3- Já o jornal espanhol El País, tão badalado por alguns colunistas nativos, confirmou a demissão sumária de 149 jornalistas. A desculpa é a mesma: queda do faturamento. Na quinta-feira passada, porém, o sindicato da categoria divulgou tabela com o lucro do poderoso Grupo Prisma, que edita o diário. Nos últimos onze anos, o império midiático lucrou 851,8 milhões de euros. Em 2011, apesar da grave crise econômica que atinge a Espanha, o lucro foi de 12,2 milhões de euros.
O presidente-executivo do grupo, Juan Luis Cebrián – que recentemente
foi uma das estrelas da reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP),
em São Paulo, e falou sobre “sustentabilidade da mídia” (que ironia!) – não se
abalou com a denúncia e ainda rosnou contra a greve dos profissionais do El
País e ameaçou com novas dispensas os jornalistas que se recusam a assinar suas
matérias. Na crise da mídia impressa quem sofre são os trabalhadores. E o pior
é que ainda existe jornalista que chama patrão de companheiro!
4- Por falar em jornalistas alienados, na semana passada
vazou um e-mail do Grupo Estado que confirma a data da extinção do Jornal da
Tarde. O veículo deve deixar de circular a partir de 2 de novembro, conforme
registro de mensagens trocadas pela equipe comercial da empresa. A famiglia
Mesquita ainda não confirmou o fechamento do filho bastardo do grupo, mas o
clima na redação do JT já é de tristeza e revolta, segundo relato do sítio
Comunique-se.
“A área comercial sabe que o jornal vai acabar, os leitores
sabem que vai parar de circular e até os jornaleiros já estão cientes que o
veículo não será mais entregue nas bancas. Todo mundo já sabe, menos os
funcionários do JT, que ainda não foram comunicados pela direção”, lamentou um funcionário
que pediu para não ser identificado. Criado em janeiro de 1966, o Jornal da
Tarde circula na cidade de São Paulo e possui 23 jornalistas na equipe – sem
contar os outros profissionais. Ninguém sabe qual será o seu futuro.
5- Por último, uma nota curiosa sobre a crise da mídia
impressa. O jornal estadunidense Los Angeles Times acaba de anunciar que vai
vender mercadorias – como água e móveis - para aumentar sua receita comercial.
O veículo vive há quatro anos sob o regime da lei de concordata. Dirigido pelo
magnata Sam Zell, odiado na área de comunicação, o jornal veicula anúncios
das empresas gratuitamente e recebe uma comissão pela venda dos produtos
anunciados. Ele também entrega os produtos por meio dos seus canais de
distribuição.
“Os anunciantes estão descrentes sobre a efetividade dos
anúncios impressos. Por esse modelo de pagamento por performance, nós assumimos
os riscos”, explica Bill Nagel, vice-presidente executivo do jornal.
Do Blog do Miro
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