Por Fernando Brito
“O jornalista Paulo Moreira Leite publicou [ontem],
em seu blog na revista “Istoé”, um artigo que deveria ser um látego nas
consciências dos nossos analistas de economia e nos dirigentes do Banco
Central.
Deveria doer, mas não doerá, porque suas
consciências petrificaram-se pelo monoteísmo do mercado e já não conseguem ver
que economia são pessoas, não números.
Não é preciso ser socialista para ver isso – Keynes está aí, como prova – mas é
preciso não ser um fanático emburrecido para não ver que o Brasil não pode
suportar, indefinidamente, a sangria que lhe faz o mundo do capital que se
descolou da produção e do consumo e vive de um rentismo do século retrasado,
embora agora informatizado.
Juros altos, incoerentemente altos, senhores do
mercado, vão matar uma das poucas coisas que ainda funciona na economia
mundial: os países em desenvolvimento,
porque os que são seus modelos vivem a mais triste das decadências.
Leiam o excelente texto de Paulo Moreira Leite:
HIPOCRISIA
DE FRAQUE & CARTOLA
Paulo Moreira Leite
“O desemprego subiu para 6%, contra 5,8% em maio. Milhares de
pessoas não conseguiram o trabalho que procuravam e isso não é bom para
ninguém.
A
rigor, contudo, não é um patamar alto, ainda que seja uma raridade. Só em 2002,
quando o Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso, o país teve um
desemprego maior do que 6% em junho [FHC (PSDB) passou o governo a Lula com taxa de desemprego de 12,6% e a mídia direitista nada criticava...] .
A
preocupação sobre os 6% se justifica por uma pergunta: este número aponta para
uma tendência de novas altas no futuro?
Impossível
saber agora.
A
leitura da maioria de nossos observadores sugere impressões falsas sobre o
comportamento da economia.
Dá
a impressão de que possíveis altas do desemprego, com queda do salário e a
reversão de um ambiente espantosamente saudável quando se olha para o mundo lá
fora, inevitavelmente estão a caminho.
Isso
porque o país estaria condenado, por leis da natureza ou castigos divinos, por
ter se recusado a cumprir o ABC do pensamento monetarista. Claro que não é
assim.
A
queda no emprego pode ser acentuada, estancada ou mesmo revertida – ainda que
parcialmente – pelas mesmas decisões que levaram aos 6%.
(Nunca
é demais lembrar o óbvio. O desemprego no país encontra-se num patamar
baixíssimo, muito próximo do pleno emprego, o que torna ilusório imaginar novas
reduções).
Os
6% obrigam, no entanto, a falar de certa hipocrisia. Foi em abril, sob uma
pressão violentíssima da turma de fraque & cartola, que o Banco Central
cedeu e modificou a taxa de juros – este sim, um sinal poderoso e de efeitos
materiais bem conhecidos sobre o conjunto da economia.
Em
redução desde agosto de 2011, quando sofreu um golpe histórico para baixo, em
abril de 2013 o juro subiu de 7,25% para 7,50% naquele momento. Depois, foi
para 8% e agora se encontra em 8,5%. Assim, a jato, como se o país estivesse com
uma grande tragédia pela frente. [FHC (PSDB) passou o governo a Lula com taxa SELIC de 19,9% e a mídia direitista nada criticava...].
É
claro que, do ponto de vista de quem vai às compras, ou precisa de recursos
para investir, uma cascata de três altas consecutivas teria de produzir algum
efeito, concorda?
Quando
se olha para a alta do desemprego – levíssima em si, assustadora como prenúncio
— cabe fazer a pergunta real: mas não era isso mesmo que se queria?
O
argumento nominal pela alta de juros era a alta da inflação. Mas era uma tese
nominal, que não encontrava apoio nos números reais. No mês a mês de 2013, a
inflação encontrava-se – e ainda se encontra — em queda desde fevereiro, mas
isso nunca incomodou nossos analistas. Isso porque o objetivo não era, nem
nunca havia sido, vencer uma inflação que, por qualquer parâmetro, seguia uma
das mais baixas da história e longe de qualquer quadro ameaçador.
O
que se queria era um sinal político. Cobrava-se do governo Dilma uma
demonstração enfática de seu compromisso de impedir novas altas inflacionárias [está próxima de 6% e decrescente, e sob fortes críticas ataques da mídia e oposição, mas FHC (PSDB) passou o governo a Lula com inflação em 12,53% e a mídia direitista nada criticava...] .
Não havia, rigorosamente, um quadro econômico para justificar a alta dos juros.
Havia um ambiente político e era assim, no círculo que discute economia no Planalto,
que a alta se justificou.
O
Banco Central cedeu e os juros voltaram a subir.
A
economia melhorou? O ambiente está mais otimista? A confiança retornou? Nem um
pouco. A economia de mercado nem sempre obedece a seus psicólogos. Os ganhos do
mercado financeiro voltaram a engordar? Sem dúvida.
O
rentismo é uma tremenda força da natureza nos investimentos da turma fraque
& cartola. Engorda seu patrimônio pessoal e também alimenta o caixa de
empresas. Após décadas de financeirização econômica, empresários produtivos
compensam perdas na indústria e no comércio com ganhos nas aplicações em
títulos do governo.
Mas
não é só isso. Não estamos falando de bilhões que podem ser perdidos e mais
tarde recuperados. Isso é o dia-a-dia.
Em
julho de 2013, a questão é outra, envolve o poder de Estado sobre a sexta
economia do planeta, onde o bloco político liderado por Luiz Inácio Lula da
Silva tentará vencer o quarto mandato consecutivo. Em caso de vitória, uma
opção política que seria possível definir como jucelinismo de esquerda poderá
completar 16 anos à frente do Estado.
Nada
mau, considerando-se que outros juscelinismos — o de JK e outros semelhantes —
chegaram a ter problemas até para serem empossados e mesmo para terminar um
único mandato.
A
campanha de 2014 será travada na economia.
É
certo que, num ambiente de guerra total, não haverá trégua em nenhum terreno,
mesmo naqueles em que a miséria nacional clama por uma ação do Estado – como a
saúde publica e seus médicos ausentes – nem na reabilitação de nossos costumes
políticos, que obriga a pensar numa reforma capaz de ampliar as bases de nossa
democracia.
Mas
é na economia, que define o bem-estar da população e o grau de satisfação com
cada governo, que a eleição irá se resolver.
Os
adversários, unidos pela esperança de fazer um todos-contra-um, têm um ano e
dois meses para construir uma candidatura viável e criar um ambiente
desfavorável à presidente, contando com composição de flores e plantas como
Marina Silva e José Serra, Aécio Neves e Eduardo Campos, quem sabe sob as
bênçãos de Joaquim Barbosa.
Nesse
vale-tudo, o esforço principal é questionar, de alto a baixo, um elemento
básico nas decisões que fazem o destino de um país, seja a do empresário que
resolve investir em seu negócio, seja do cidadão que sai de casa para o
trabalho e do estudante que ocupa a rua em protesto.
Em
todos os casos, o que está em jogo é a confiança no governo, elemento químico
que envolve a capacidade de Dilma em defender as conquistas realizadas até
aqui, impedir que sejam dizimadas palmo a palmo, centímetro por centímetro,
como ocorre hoje com as antigas fortalezas de bem-estar da Europa, e dar conta
dos progressos necessários, que os protestos de rua apontaram em nuvens de
muita clareza e confusão também.
O
confronto que se aproxima envolve aspectos objetivos e subjetivos e todos sabem
que eles se alimentam mutuamente. Cada número desfavorável será ampliado e
exagerado. Cada número positivo será escondido, amenizado. Empenhados em
auxiliar uma oposição “fraquinha”, não é preciso esperar uma visão isenta nem
equilibrada da maioria dos meios de comunicação. Se já era ruim quando o país
crescia a 7,5%, imagine agora.
Já
li quem dissesse que os 6%, ainda um dos menores índices de desemprego do mundo
e da história do Brasil, são a prova definitiva da desagregação da política
econômica.
Calma,
gente.
O
aumento no desemprego foi leve e pode ter sido breve.
É
um sinal de que medidas que supostamente deveriam proteger o bolso dos
brasileiros estão produzindo efeito – negativo.
Os
6% podem ser um sinal superficial ou uma brecha que anuncia uma rachadura em
todo edifício. Dependem, essencialmente, das respostas que o governo der a
eles. O desemprego subiu para 6%, contra 5,8% em maio. Milhares de pessoas não
conseguiram o trabalho que procuravam e isso não é bom para ninguém.
A rigor, contudo, não é um
patamar alto, ainda que seja uma raridade. Só em 2002, quando o Brasil era
governado por Fernando Henrique Cardoso, o país teve um desemprego maior do que
6% em junho [FHC (PSDB) passou o governo a Lula com taxa de desemprego de 12,6%!] .
A preocupação sobre os 6% se
justifica por uma pergunta: este número aponta para uma tendência de novas
altas no futuro?
Impossível saber agora."
(...)
FONTE: parte de postagem de Fernando Brito em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com.br/index.php/juros-matam-matam-a-economia-e-matam-vidas/). [Trechos entre colchetes em azul adicionados por este blog 'democracia&política'].
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