Guerrilheiro Virtual

domingo, 31 de julho de 2011

Bolívar, Chávez e o bolivarismo: uma transformação de quase 200 anos


Grafite a cores na Venezuela retratando Simón Bolívar
Milton Ribeiro


Talvez nenhum líder político nascido no século XVIII tenha tanta presença em nossos dias quanto Simón Bolívar, nascido em 1783 em Caracas, na Venezuela, e morto em 1830, há 181 anos, em Santa Marta, na Colômbia. O homem que é a inspiração de Hugo Chávez foi notícia recente e não apenas por seu aniversário, transcorrido no último domingo (24), mas pela exumação de seu cadáver. Na Venezuela bolivariana persiste a discussão sobre se Bolívar teria sido assassinado – hipótese defendida por Hugo Chávez – ou não. Os últimos estudos não chegaram a uma conclusão sobre a causa da morte.


“Os resultados obtidos não permitem conhecer as causas da morte e, menos ainda, respaldar as teorias de assassinato, ainda que a possibilidade de envenenamento por arsênico ou cantaridina tenha ficado em aberto”, declarou o próprio vice-presidente da República Bolivariana da Venezuela, Elías Jaua. Seus restos foram exumados por ordem do 19° Tribunal de Controle de Caracas e a televisão venezuelana transmitiu a abertura do túmulo. Ou seja, Bolívar é assunto de debate permanente no país.



O novo mundo deve estar constituído por nações livres e independentes, unidas entre si por um corpo de leis em comum que regulem seus relacionamentos externos.
Simón Bolívar
A citação acima é um das mais caras a Hugo Chávez e ao bolivarismo atual – ela fala de nações livres, fora da influência das metrópoles da época; também fala em nações independentes politica e economicamente; além disso refere-se a uma união entre elas, como os atuais blocos econômicos.


O historiador Alberto Garrido – considerado o maior especialista em “Revolução Bolivariana”, autor de 12 livros sobre o tema e falecido em 2007 -, dizia que o novo bolivarismo buscava conciliar uma democracia participativa com um partido civil-militar de esquerda e que esta era uma ligação ou reinterpretação muito própria dos fatos e das intenções de Simón Bolívar, herói das guerras de independência da Venezuela, Colômbia, Panamá, Equador, Peru e Bolívia (assim nomeada em sua homenagem).


Bolívar: sonho da Grande Colômbia sucumbiu no ano de sua morte 



Segundo os bolivaristas, El Libertador teria sido não somente um líder militar como um visionário e revolucionário. Seu sonho era o de transformar a América Latina numa confederação de países livres, unidos entre si por um corpo de leis comuns com a finalidade de tratar do comércio e de uma política externa comum. Em síntese, sua ideia era a de construir, no hemisfério sul, uma espécie de Estados Unidos da América do Sul. O mais perto que chegou disso foi a criação da Grande Colômbia, país estabelecido pelo Congresso de Angostura e existente entre os anos de 1819 a 1830. O país era constituído pelos territórios das atuais Venezuela, Colômbia, Panamá e Equador, além de territórios que hoje pertencem ao Brasil, à Costa Rica, ao Peru e à Guiana.


O ponto de contato buscado por Hugo Chávez com Bolívar é basicamente o desejo de uma América Latina “livre e independente do domínio dos EUA”. Se ele não busca uma outra Grande Colômbia, busca parceiros, tendo chegado a presentear os presidentes Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua) réplicas da espada de Simón Bolívar.


O Prof. Dr. Jair Antunes, da UNICENTRO (Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná) critica as lideranças latino-americanas de esquerda que se colocam “sob o manto de Bolívar na perspectiva de um retorno continental da Revolução Bolivariana”. Para apontar a incoerência da esquerda, ele começa por citar o ensaio Bolívar e Ponte (1858), de Karl Marx. Para Marx, Bolívar é um falso símbolo da luta antiimperialista latino-americana. “Suas ações consistiam basicamente em proclamar a libertação nacional dos povos oprimidos contra o imperialismo sem, no entanto, alterar fundamentalmente as relações entre as classes sociais, quer dizer, sem alterar a estrutura sócio-econômica”.


Extremamente hostil, Marx ataca mesmo a abolição da escravatura no formato proposto por Bolívar. Ela não estaria relacionada a “uma consciência humanista do herói”, diz com ironia, “mas sim ao medo instalado na burguesia de uma possível revolta popular”. Marx cita uma carta de próprio punho que Bolívar endereçou a seu principal general, Santander, em 20 de abril de 1820. Na carta, Bolívar esclarece que a liberdade concedida aos negros que se alistassem no exército nacional não estaria vinculada à necessidade de aumento do efetivo do exército, mas sim “à necessidade de diminuição de seu perigoso número”. Assim, o recrutamento dos negros às fileiras do exército serviria para eliminá-los em combate.


O professor Jair Antunes afirma que nem mesmo Marx foi suficiente para que, no século XXI, a esquerda latino-americana abandonasse a e idolatria a Bolívar. “Ao contrário, essa esquerda o transformou em uma referência para a classe trabalhadora latino-americana, passando a inventar um Bolivarismo diferente, símbolo de toda uma suposta luta antiimperialista latino-americana”.Leia a matéria na íntegra

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