Luiz Carlos Azenha
French banks could tip Europe back into a full-blown crisis
A sabedoria convencional pode estar apenas “meio certa” quando se trata de resolver a confusão da Europa. Solucionar o problema da dívida soberana [dívida dos países] ainda é necessário, mas talvez não seja mais o suficiente. A Europa precisa também se mover rapidamente para estabilizar os bancos que estão no coração do sistema, muito além do anunciado na quarta-feira pelo Banco Central Europeu. No momento em que executivos-sênior do BNP-Paribas [banco francês] se preparam para um tour do Oriente Médio, numa tentativa de levantar fundos e aumentar a confiança, outros bancos precisam demonstrar um senso de emergência e de seriedade ao lidar com a falta de capital e de bens de qualidade [no balanço].
Muito da discussão sobre a crise é baseada na crença de que a dívida soberana é tanto o problema como a solução. Inicialmente, isso era correto. A combinação de muita dívida e baixo crescimento empurrou os países mais vulneráveis (Grécia, Irlanda e Portugal) à clássica armadilha da dívida. Respostas políticas tímidas, então, alimentaram as ondas de contágio que solaparam outros setores.
O problema hoje se tornou muito mais complicado. Além de receber o impacto da crise, alguns destes setores se tornaram em si fontes de problemas regionais.
A Itália é, naturalmente, o exemplo mais visível. Os juros no que é a terceira maior dívida governamental do mundo permanecem teimosamente altos, apesar da persistente intervenção do Banco Central Europeu. O rebaixamento da classificação de alguns dos principais bancos da Itália, seguido pelo rebaixamento da dívida soberana do país pela Standard & Poor’s, na segunda-feira, complicaram a questão.
Ainda que isso seja notável, não é a questão mais imediatamente ameaçadora para a economia global que, nas palavras de Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, entrou em uma “fase perigosa”. O fusível que está rapidamente queimando é o do sistema bancário europeu, particularmente na França, e a Europa está se aproximando de outro ponto de não retorno.
Os fatos são contundentes e preocupantes. As instituições privadas de todo o mundo, e mesmo algumas públicas, reduziram fortemente os empréstimos de curto prazo aos bancos franceses. Os mercados de crédito agora colocam os bancos num risco em níveis indicativos de um rating BB, que é fundamentalmente inconsistente com operações bancárias sólidas. Os papéis dos bancos franceses agora são negociados com um desconto de 50% em relação ao valor contábil, em média. Para piorar, a relação entre o capital dos bancos e os bens em suas carteiras caiu para 1-1,5% (comparado a 6-8% para bancos saudáveis).
Estes são todos sinais de uma corrida institucional contra os bancos franceses. Se isso persistir, os bancos não terão escolha a não ser limpar seus balanços de forma drástica e desordenada. Os clientes do varejo ficariam nervosos e tentados a seguir os clientes institucionais rumo à porta de saída. A Europa seria jogada, assim, numa crise bancária total que agravaria o problema das dívidas soberanas, tornaria certa outra recessão econômica e pioraria significativamente os prognósticos para a economia global.
Até agora, nem as autoridades nem os bancos fizeram, ou estão fazendo, o necessário para frear — muito menos reverter — esta tendência. Embora o Banco Central Europeu tenha agido para reduzir as dificuldades de crédito, inclusive com o relaxamento das exigências de bens colaterais, para tornar mais fácil o acesso dos bancos ao caixa do BCE, as questões relativas às reservas de capital e à qualidade dos bens no balanço dos bancos não foram tratadas. Como resultado, a Europa está a um passo de perder o controle de uma solução ordeira para sua crise da dívida.
Para enfrentar isso, as autoridades financeiras e os bancos precisam trabalhar com o BCE em três medidas imediatas, simultâneas e drásticas. Precisam injetar capital através de parcerias público-privadas, inclusive com mecanismos parecidos com os do Tarp (o programa de resgate de bens dos Estados Unidos), apresentar uma avaliação realística sobre o valor dos bens no balanço dos bancos e aumentar a proteção aos clientes. Maior divisão do peso do fardo com o setor privado pode se provar necessária.
Através da dura experiência dos dois últimos anos, a Europa agora entende que o problema da dívida soberana é difícil de solucionar. Precisa se dar conta de que os desafios e os custos para a sociedade se multiplicam astronomicamente quando isso é acompanhado de uma crise bancária; e precisa agir de acordo com o desafio.
The writer is the chief executive and co-chief investment officer of Pimco
PS do Viomundo: O que o autor prega é usar dinheiro público, mais uma vez, para salvar os bancos. Quem é que paga a conta final? Adivinhem...
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