Guerrilheiro Virtual

sábado, 10 de setembro de 2011

Em Trípoli, um mundo “Smiley’s” [1]

Richard Falk, o conhecido ex-correspondente do Independent para o Oriente Médio, previu, brilhantemente, que, a menos que a inteligência ocidental conseguisse passar a mão, antes de todos, nos arquivos do regime líbio, surgiriam detalhes escandalosos dos contatos íntimos entre o Ocidente e Muammad Gaddafi.

Agentes do MI6 e soldados em terra da SAS britânica que controlavam as operações militares em Trípoli parecem ter conseguido, pelo menos em parte, manter fechada a caixa de vermes líbio-ocidental – ou, pelo menos, estavam conseguindo, até que ‘rebeldes’ líbios e outras gangues invadiram, sem saber, um prédio desconhecido da inteligência ocidental, do qual, ao que parece, operava Moussa Koussa, o homem forte e braço direito de Gaddafi, e onde guardava seus dossiês.

O que emergiu não chega a ser chocante – o passado controverso de Gaddafi não é, de modo algum, segredo. – Mas expôs muitos detalhes do nexo muito próximo entre o regime líbio e os serviços secretos britânico (MI6) e norte-americano (CIA). É, outra vez, a história de um ditador brutal cuja cumplicidade com o ocidente acaba, sem happy end, no instante em que o ditador brutal deixa de ter utilidade para o ocidente ou começa a ter ideias próprias e a criar dificuldades para estratégias ocidentais regionais. No caso de Gaddafi, quase com certeza, as divergências começaram em anos recentes, quando passou a dar sinais de querer afastar-se do ocidente e voltar-se para Rússia e China (e Índia). Em matéria de petróleo, esse foi o ponto ‘da virada’.

Documentos da inteligência líbia revelam que: MI6 e CIA operaram em íntima conexão com o governo de Gaddafi; a CIA manteve uma base na Líbia, por muitos anos; Gaddafi cooperou no programa de “entregas excepcionais” à Líbia, de prisioneiros islâmicos suspeitos de ter ligações com terroristas; a Líbia partilhou informações de inteligência com EUA e Grã-Bretanha, relacionadas ao mundo árabe em geral; na guerra ao terror, Gaddafi cooperou com a inteligência ocidental quase tanto quanto Hosni Mubarak do Egito; espiões do MI6 e da CIA competiam entre eles, por acesso privilegiado aos meandros do aparelho de inteligência de Gaddafi. A matéria do Time pode ser lida em: How Libya Seems to Have Helped the CIA with Rendition of Terrorism Suspects.

A pregação moralista de Barack Obama e David Cameron, do alto do pedestal dos princípios, dos direitos humanos e da democracia, sobre a intervenção ocidental na Líbia, dá náuseas, para dizer o mínimo.

Nota dos tradutores
[1] Para saber o que é (se não souber) clique em “Mundo Smiley’s”.

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