Artigo de Carlos Eduardo Bindi, "educador e diretor do Grupo Etapa" (está no rodapé), publicado na Folha de S.Paulo (18/09/2011), afirma que São Paulo ficou atrás do Rio e de Minas no ranking do ENEM devido a critérios de avaliação que ele questiona. Conforme sua informação, a média final resulta de duas notas: uma é a média de quatro provas objetivas e a outra é a nota atribuída à redação.
Segundo ele, se a nota da redação tivesse peso idêntico à das outras (um quinto, não metade), os resultados mudariam. Por exemplo, uma escola do Mato Grosso que ficou em 19º lugar cairia para o 103º. Seguido o mesmo critério, S. Paulo ficaria em primeiro, o Rio, em segundo e Minas, em terceiro lugar, se consideradas as 100 melhores escolas do país.
Tudo bem, tudo bem. Pode-se discutir os critérios de avaliação escolar de muitos pontos de vista. Minha primeira pergunta será sempre a mesma, para começar: por que avaliar por meio de testes "objetivos"? Só porque a correção é mecânica e não dá margem a erro, ou a avaliações ditas subjetivas? Mas alguém já deu uma olhada nas alternativas propostas nos testes? Com raras exceções, é um festival que tem tudo, menos criatividade.
Mas faço ao Sr. Bindi uma provocação: não seria melhor perguntar por que os estudantes de S. Paulo têm avaliação pior que os de outros estados na prova escrita? Por que o diretor do Etapa não propõe revisar critérios de ensino em sala de aula para que a escrita passe a ter de fato um papel crucial? Não dá para simular escrita! Simulados não passam de uma forma de simular que se ensina. Parecem treinamento, a pior de todas as "mensagens" escolares.
Adendo: no dia seguinte, segunda-feira, o jornal dedicou matéria relativamente longa à questão. A maioria dos "especialistas" concorda com Bindi (a matéria está no Caderno Quotidiano). Ah, os especialistas! Eles têm errado tanto! As agências de avaliação de risco nos deram 2008; os especialistas em educação estão mantendo o analfabetismo há séculos!
O mesmo jornal noticiava que a Anhanguera comprou a Uniban por 510 milhões (a matéria está no Caderno Poder).
Parece que não, todas essas coisas têm tudo tem a ver.
Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Linguística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua, Os limites do discurso, Questões para analistas de discurso e Língua na Mídia.
No Terra Magazine
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