Não foi preciso esperar muito para ver o poder do que chamamos ontem aqui de “o trabuco” do Banco Central no mercado cambial.
Hoje, dia de novo tremor nos mercados mundiais, a turma aqui foi pro desespero e o dólar chegou a um nível absolutamente injustificável: R$ 1,96.
E, além da especulação, o que explica isso?
Em primeiro lugar, que há gente precisando comprar a este valor porque está devendo em dólar e não fez contratos de hedge suficientes para se prevenir de variações cambiais de curto prazo porque acreditou – sabe-se lá porque – que a queda do dólar ia continuar indefinidamente, o que as nossas autoridades econômicas cansaram de avisar que não seria assim.
De outro, que tem muito movimento especulativo, como sempre, no mercado futuro de câmbio.
As primeiras entradas no mercado do Banco Central como vendedor – coisa que não acontecia desde 2009 – foram para “sentir a pressão”. E a pressão furou. Em poucos minutos a cotação passou a apresentar resultado negativo em relação a ontem – outro dia de pressões – e a moeda americana caiu a R$ 1,84.
O BC ofereceu R$ 2.7 bilhões em dólar futuro. Não chegou a mexer com o mercado à vista, o que será um segundo capítulo.
Depois, à tarde, a pressão voltou, em escala menor O mercado parece estar convidando o BC para uma queda de braço nas cotações, tentando projetar um dólar futuro que só se confirmará com uma quebra econômica internacional.
Tirando os enforcados em dólar, o resto é aposta econômica. E, claro, contra a economia brasileira.
Mas não há sinais de que isso venha a acontecer, além dos naturais prejuízos que uma crise mundial traz, inevitavelmente.
Mas os indicadores não são, aqui, de retração da atividade, apenas de desaceleração. O desemprego estável em 6% divulgado hoje pelo IBGE (e menor que há um ano, quando era de 6,7%) e a continuidade da alta real da arrecadação de impostos e contribuições também anunciada hoje pelo Tesouro – 8,1% acima da de agosto de 2010, em valor real – não autorizam a ver qualquer encolhimento da economia.
É o que registam as estimativas do Serasa Experian (veja o gráfico) sobre a atividade econômica, antecipando a variação do PIB. Note que o consumo das famílias voltou a subir e agora, com importações mais caras, isso vai representar um alento para o setor industrial.
Hoje, ainda em Nova Iorque, Dilma Rousseff disse que o Brasil vai seguir tomando medidas cambiais, mas com prudência. “”Neste momento, que é um momento de volatilidade dos mercados, de nervosismo dos mercados, a nossa atitude é de calma, tranquilidade e de estabilizar todo o processo” , disse.
Correto. A hora é de dizer que quem ficar nervosinho vai ter problemas. E manter sobre a mesa o “trabuco” cambial de que o Banco Central dispõe. Menos para usar do que para mostrar que está disposto a usar.
Fernando Brito
No Projeto Nacional
No Projeto Nacional
Pesquisado no Blog: Contextolivre
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