Guerrilheiro Virtual

domingo, 30 de outubro de 2011

Portão fechado, céu aberto

Quando chegam os homens da força nacional, a conversa começa ter outro tom, e o cadeado se rende aos argumentos

Egon Heck
   Thiago Garcia


Fim de linha. O comboio de carros com representantes de vários órgãos e instâncias do governo federal fica barrado pelo portão fechado a cadeado. Sua eminência, a propriedade privada, fala mais alto que qualquer direito. O representante da presidência da república tenta argumentar com o portador da chave, que chegou a cavalo. Parece não convencer quem está do outro lado da lei, ou seja, tem a chave na mão. Porém, quando chegam os homens da força nacional, a conversa começa ter outro tom, e o cadeado se rende aos argumentos.

No retorno outro transtorno. A porteira no cadeado é recado dado – vocês só saem se eu abrir. E demorou mais de hora para chegar o senhor da chave, desta vez de cavalo de ferro, a moto. E assim o estado brasileiro é retido pelas forças do latifúndio e do agronegócio. Essa situação que priva a comunidade do Ypo’i de se locomover e transitar para necessidades mais básicas de sobrevivência, saúde e educação, quando os homens do cadeado o quiserem. Ou seja, só entra a Funai e Sesai, duas vezes por mês, e com notificação prévia. Assim reza a decisão judicial. Assim impõem a privada propriedade São Luiz, de Firmino Escobar. Porém, como diz dona Maria, "a doença não tem hora e nem avisa”.
Até os advogados indígenas da ODIN (Observatório Indígena), quando já se encontravam a caminho de Ypo’i, foram orientados a mudar de rumo pois não eram do governo, e desta forma estariam impedidos de chegar à comunidade indígena. “Mas nós somos índios”, tentou argumentar Arildo, mas não insistiu para não causar problemas à comitiva governamental.



Os representantes da comunidade relataram minuciosamente a sua luta de vários anos para ter seu pedaço de chão e de paz de volta. Paulo ouviu tudo atentamente. Em entrevista à Carta Capital, expressou as principais decisões tomadas. “A situação no Cone Sul do Mato Grosso do Sul já ultrapassou todos os limites imagináveis... O governo federal não admite mais esse clima de violência nessa região. Sabemos que o único caminho é a demarcação de terras, mas é um caminho longo, e não podemos esperar. Vamos fortalecer a rede de proteção que está sendo formada entre as comunidades indígenas vítimas de violência. O objetivo é garantir a vida e a integridade das comunidades.”

Paulo Maldos assumiu compromissos com a comunidade do Ypo’i e as outras comunidades Kaiowá Guarani em luta pelas suas terras tradicionais “O Estado vai chegar a todas as comunidades, estejam em terras demarcadas ou não, em beiras de estrada ou mesmo dentro de fazendas”. Tudo o que for feito será feito em conjunto com eles. A Aty Guasu é nossa parceira.”

O secretário disse que a escolha de ir ao Mato Grosso do Sul e fazer o anúncio dessas novidades em Ypo’i foi proposital. “Fomos visitar a comunidade mais violentada das violentadas. Além de tudo o que os Guarani-Kaiowá em geral sofrem, lá eles estão sujeitos a um verdadeiro confinamento... Eu já acompanhava as informações sobre as violências contra os Guarani-Kaiowá havia muitos anos, mas ir até lá me deixou ainda mais indignado com tudo o que vi.” (Carta Capital 24-10-11)


As casinhas de lona, de sapé e pau a pique, assim como a casinha feita para o atendimento à saúde e escola, são provas da resistência e teimosia da comunidade de lutar pelo seu sagrado direito à terra.

Os Kaiowá Guarani do Conselho Nacional de Política Indigenista, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e o consultor do MEC para os territórios etno-educacionais consideraram positiva a visita, esperando que ela abra as porteiras para outras atividades, tanto na área de saúde como de educação, punição dos assassinos e o principal, que é a urgente demarcação da terra indígena.

Egon Heck é integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) do Mato Grosso do Sul.

Do Brasil de Fato

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