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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Programa estimula negócios na favela

Quarta-feira 26, outubro 2011
Se hoje é comum empresas grandes apostarem nas classes C e D, há 15 anos esse cenário era bem diferente. A imagem das favelas cariocas remetia apenas à violência e a negócios simples, como “biroscas” e lanchonetes. Criado em 1995, o Vivacred, instituição de microcrédito criado na Rocinha, ajudou a revelar uma diversidade de negócios.

“Hoje, vendo caminhões de lojas entrando nas comunidades, agências bancárias sendo instaladas, dá orgulho saber que ajudamos a revelar uma realidade que foge dos estereótipos”, diz Teófilo Cavalcanti, diretor superintendente da Vivacred. Com mais de 4 mil clientes ativos, a instituição tem seis unidades em regiões carentes como Maré, Rio das Pedras, São Gonçalo, Inhoaíba e Rocinha.

Sem fins lucrativos, a Vivacred empresta recursos para empreendedores a juros que variam de 0,64% ao mês a 1,2%, nas linhas de capital de giro e investimentos em melhorias. Os valores em média ficam em R$ 1.500, mas podem chegar a R$ 15 mil para a compra de equipamentos.

A instituição iniciou sua atuação com base na experiência trazida de uma viagem pelo fundador da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes. “Ele conversou com o pessoal do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que apoiou a criação. Aos poucos, a instituição ganhou vida própria e se separou do Viva Rio”, conta. O BID concedeu uma linha de crédito de US$ 1 milhão. Metade para auxiliar na criação da entidade e a outra para ser emprestada. “Lembro da emoção de ver uma senhora entrando para pagar a primeira prestação”, conta Cavalcanti.

A taxa de inadimplência não chega a 2% em função da atuação dos agentes de crédito, que visitam regularmente os clientes e ajudam na definição dos valores a serem emprestados, de modo a contemplar as necessidades e a capacidade de pagamento do empreendedor. “Damos cursos sobre como montar um fluxo de caixa, visitamos o negócio para ver como foi empregado o dinheiro. Com o tempo, aumentamos o crédito”, explica Carla Frazão, coordenadora de crédito.

O processo de concessão de crédito começa com uma visita de um dos 25 agentes de crédito. Na ocasião é feita uma análise do fluxo de caixa do negócio e a proposta é encaminhada para aprovação no comitê de crédito do Vivacred. Herivelto Tavares, de 34 anos, é um desses agentes. Morador da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, conhece os clientes há muito tempo e seu objetivo é fazer com que cresçam sem se endividar. “Tentamos descobrir quanto podem pagar e de quanto de fato precisam”, diz.

A maior parte da clientela é formada por negócios familiares, sobretudo nas áreas de alimentação e beleza, e 60% são tocados por mulheres como Jorilda de Oliveira, de 51 anos. Dona de um quiosque de comida desde 1988, Jorilda precisou de dinheiro para ampliar seu negócio “Precisava trocar a barraca por um quiosque. Comecei a pegar os empréstimos. Nunca atrasei uma prestação”, orgulha-se.

Em média, os empréstimos são de R$ 1.500 na Rocinha, mas pode ser menor em Santa Cruz, zona Oeste, com média de R$ 500. O prazo de pagamento pode chegar a um ano, mas normalmente não passa de seis parcelas. A maior parte dos empréstimos vai para o capital de giro. “Os clientes pegam um empréstimo, quitam e vão aumentando”. É o caso da loja de bicicletas Bike 13, de Marcelo Coelho, de 25 anos. Morador da Gardênia Azul, perdeu as contas de quantas vezes recorreu ao Vivacred “Primeiro usei o dinheiro para comprar peças. Agora, penso em pegar um empréstimo para ampliar a loja”, conta.

Após fechar uma parceria com o Credamigo, do Banco do Nordeste, o Vivacred planeja pular dos atuais 4 mil clientes ativos para 20 mil em até quatro anos. “Depois da parceria, conseguimos reduzir as taxas de juros”, conta Cavalcanti,. A capacidade de crédito aumentou. Hoje, o Vivacred possui uma linha de R$ 20 milhões. A principal inovação foi a mudança do crédito individual para o solidário – os empréstimos são feitos em grupo de, em média, três pessoas. Isso eliminou a necessidade do fiador.

A maior parte dos grupos é formada por parentes que não são donos do mesmo negócio nem moram juntos. “Eles não dependem da mesma renda”, explica Carla. Jorilda indicou o amigo Danilo, com quem já contraiu diversos empréstimos. “A gente se ajuda. Um pega mercadoria do outro e crescemos juntos”, conta. Valor Economico

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