Guerrilheiro Virtual

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sarkozy, Obama e o Iluminismo

 *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Sarkozy, Obama and the Enlightenment
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Sem violência física, é possível obrigar alguém a cuspir a goma de mascar que esteja mascando com evidente prazer?

A Rússia provou que sim.

Esse é o contexto no qual se insere o sucesso da diplomacia russa na reunião do Conselho de Segurança da ONU, sobre a Resolução n. 1.973, na 5ª-feira passada. 

O formidável enviado russo à OTAN, Dmitry Rogozin, que sabe fazer com as palavras o que só políticos excepcionalmente bem dotados fazem, disse uma vez, em agosto, que a aliança ocidental estava “mastigando a Resolução n. 1.973”, como se fosse goma de mascar, para mostrar deliberadamente que não dava nenhuma importância nem à Resolução nem ao Conselho de Segurança.

A R 1.973 garantiu uma “zona aérea de exclusão” sobre a Líbia, e o Ocidente foi em frente e bombardeou a Líbia até destruir o país, matou milhares de civis inocentes e esquartejou Muammar Gaddafi com uma faca (há imagens, que não se deve divulgar, mas existem).

Ocorre-me que já ninguém sabe dizer o que teriam a ver, hoje, a história da civilização ocidental e aquele famoso “Iluminismo”, se se veem hoje esses crimes bárbaros. O Iluminismo terá sido só mais um mito? Será que o ocidente algum dia saiu da Idade das Trevas – seus Nicolas Sarkozy e Barack Obama et al.?

Seja como for, nunca antes a diplomacia russa no período pós-soviético trabalhou tão brilhantemente pela causa da paz, como ao apresentar ao Conselho de Segurança da ONU, 5ª-feira, o projeto de Resolução que exigia o fim imediato das operações da OTAN na Líbia. A iniciativa só apareceu no último momento, quando a OTAN movimentava-se já, sob um ou outro pretexto, para aplicar o golpe da legitimidade política, fazendo crer ao mundo que o povo líbio, coletivamente, estaria clamando pela permanência de tropas ocidentais na Líbia.

O movimento dos russos foi impecavelmente lógico. Afinal, os céus líbios já estão livres da artilharia mortífera de Gaddafi. Quem precisaria de “zona aérea de exclusão”?

Engraçado é que a Resolução apresentada pelos russos, e que pôs fim aos delírios da OTAN na Líbia, foi aprovada por unanimidade. Sarkozy e Obama ficaram sem alternativa. É mais que justo que, hoje, os russos, que obrigaram o “ocidente” a cuspir a goma de mascar que tanto estavam gostando de mastigar, estejam rindo sozinhos. Muito justo.

Em termos geopolíticos, a OTAN ficou, agora, numa sinuca de bico. Toda a agenda da OTAN, que previa abrir asas e voar para o norte da África e ali fazer ninho, dependia de a OTAN permanecer na Líbia. Mas Washington e Bruxelas cederão assim facilmente, sem luta?

Uma coisa é certa: Rússia e China não cairão em nenhum “golpe da Resolução do Conselho de Segurança”... no caso da Síria.

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

Do Blog redecastorphoto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”