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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Gabrielli deve deixar Petrobras para disputar governo da Bahia em 2014

João Villaverde e Fernando Exman, no Valor

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, deve deixar o cargo no próximo dia 12 e, no início de março, assumir uma secretaria no Governo do Estado da Bahia. Gabrielli deverá ser substituído no comando da estatal por Maria das Graças Foster, atual diretora da Área de Negócios de Gás e Energia da Petrobras, que esteve na sexta-feira à noite no Palácio do Planalto, onde se reuniu com a presidente Dilma Rousseff.

As mudanças na Petrobras foram decididas pela presidente e acertadas, há duas semanas, com o governador da Bahia, Jacques Wagner (PT). A substituição visa abrir caminho para Gabrielli “se aproximar” do Estado da Bahia, onde deve se candidatar para suceder Wagner em 2014. Procurada, a assessoria da Petrobras negou, no sábado, que Gabrielli esteja deixando o comando da estatal.

Segundo apurou o Valor, a próxima reunião do Conselho de Administração da Petrobras, marcada para 13 de fevereiro, terá um dia a mais. No dia 12, um domingo, o conselho deve se reunir para referendar a decisão política. O encontro do dia 13, portanto, já seria realizado com Maria das Graças Foster à frente da companhia. A atual diretora de Negócios de Gás e Energia da Petrobras é próxima de Dilma (leia matéria abaixo).

Com as mudanças, o governador Wagner terá em sua equipe os dois principais pré-candidatos petistas à sua sucessão: além de Gabrielli, o atual secretário da Casa Civil, Rui Costa, é nome forte no PT da Bahia, um “petista querido por Wagner”, como definiu uma fonte do PT nacional.

“Ele [Gabrielli] precisa deixar de ser um nome nacional, que vive no Rio de Janeiro [sede da Petrobras] e em Brasília, para viver e trabalhar na Bahia”, disse Wagner a aliados petistas. O candidato petista para as eleições na capital do Estado, Salvador, neste ano, é Nelson Pellegrino, também aliado do trio Wagner, Gabrielli e Costa.

A saída de Gabrielli em 2012 o afastaria, também, de temas considerados “espinhosos” pela cúpula do PT, como a definição das novas regras de repartição dos royalties e das participações especiais do petróleo. Além disso, os negócios envolvendo o petróleo do pré-sal, foco principal da área dirigida por Maria das Graças Foster na estatal, passarão a ser cada vez mais centrais nos planos da empresa. Pré-candidato ao governo baiano, Gabrielli poderia entrar na mira da oposição caso continuasse no cargo por muito mais tempo. O PT quer que sua gestão de 79 meses à frente da Petrobras seja analisada como “100% técnica”, disse uma fonte ao Valor.

Mestre em economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde é professor licenciado, e doutor pela Universidade de Boston, Gabrielli iniciou sua atuação na Petrobras em fevereiro de 2003, como diretor financeiro. Indicado pelo PT baiano, e fortemente apoiado por Jacques Wagner, nome forte do governo Luiz Inácio Lula da Silva, Gabrielli desempenhou a função até julho de 2005, quando foi alçado à presidência da estatal.

Naquele momento, auge da crise do “mensalão”, Wagner passou a ocupar a linha de frente do governo Lula, e Gabrielli passou a ter o papel de “mensageiro das boas notícias”, lembra um petista. “A Petrobras passou a ser a menina dos olhos do governo, servindo aos planos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do superávit primário [capitalização da estatal em 2010 ajudou o governo a cumprir a meta fiscal] e culminando com o pré-sal”, afirma um graduado petista.

Gabrielli fez uma gestão na Petrobras em que procurou atender às diretrizes do governo, quase nunca favoráveis aos acionistas minoritários da empresa. Protagonizou discussões ásperas com a presidente Dilma quando ela comandou as pastas das Minas e Energia e da Casa Civil no governo anterior.

Desde o início de sua gestão, Gabrielli negou ter politizado a estatal. Em entrevistas, alegou que manteve nomes indicados pelo PSDB e que só colocou sindicalistas na área de comunicação. Quando da elaboração do novo marco regulatório do pré-sal, Gabrielli defendeu o monopólio das reservas pertencentes à União e sua exploração pela Petrobras. (Colaborou Paola de Moura, do Rio)

Graça Foster poderá assumir comando da estatal

Por Heloisa Magalhães e Stella Fontes

A engenheira química com mestrado em engenharia de fluidos, pós-graduação em engenharia nuclear e MBA em economia, Maria das Graças Silva Foster, ou Graça Foster, como é chamada, terá como desafio à frente da Petrobras, se confirmada sua nomeação para a presidência da estatal, tirá-la de um impasse: aumentar a produção e dar fim à desconfiança do mercado financeiro de que, hoje cheia de reservas, não consegue atingir esse objetivo.

Comparada a José Sérgio Gabrielli, Graça tem perfil mais executivo e de menor exposição à mídia. E é vista pela presidente Dilma Rousseff como grande executora de projetos. “Assim como Dilma, ela tem profundo conhecimento sobre a indústria química e de energia. É extremamente preparada”, avalia o sócio-diretor da consultoria MaxiQuim, João Luiz Zuñeda. “Seja quem for responder pelo cargo, um dos principais desafios será acelerar os projetos e o debate sobre como valorar o pré-sal.”

A atual situação da Petrobras preocupa. Em dezembro a empresa não conseguiu atingir a meta de produção de 2,1 mil barris diários. A estatal encontra dificuldades para tocar projetos em função dos entraves que a nova legislação impõe à companhia, como as exigências de nacionalização de plataformas.

Conforme Zuñeda, a definição do papel que a Petrobras vai desempenhar nesta década, com vistas ao fortalecimento da indústria química e petroquímica, também aparece como uma das prioridades da empresa. “A Petrobras é peça fundamental para fazer acontecer qualquer grande movimento na área. É preciso encontrar alguma maneira de acelerar o fortalecimento da cadeia, a exemplo do que os EUA já fazem”.

Em outubro, foi Graça quem participou, como executiva da Petrobras, da visita oficial da presidente Dilma à Bulgária, Bruxelas e Turquia. A executiva conheceu a presidente em 1999, quando ela ainda era secretária de Energia do Rio Grande do Sul e presidente do conselho de administração da distribuidora Sulgás. Graça era gerente da área de Tecnologia do Gás Natural da Gaspetro. A aproximação rendeu o convite para ocupar a secretaria de Petróleo e Gás quando Dilma assumiu o Ministério de Minas e Energia, no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela ocupou o cargo por dois anos e oito meses, de 2003 a 2005, período em que as duas mulheres fortes da área de energia ficaram ainda mais próximas.

Da Petroquisa, a executiva foi presidir a BR Distribuidora, onde organizou o mercado de biocombustíveis. Ficou na subsidiária até setembro de 2007, quando se tornou a primeira mulher a assumir uma diretoria da Petrobras. A área acumulou lucro de R$ 2,6 bilhões até setembro de 2011, o segundo melhor resultado da estatal, só atrás da exploração e produção. Quando assumiu o posto, o prejuízo acumulado no mesmo período era de R$ 895 milhões.

O estilo de Graça é duro, semelhante ao da presidente. Com a Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás (Abegás), travou uma queda de braço em torno dos preços do gás natural, que terminou por retirar a Gaspetro da associação, apesar de a subsidiária ter participação acionária em 21 das 27 distribuidoras de gás do país. Graça justificou a medida dizendo que a Petrobras tinha que se unir às empresas que produzem, carregam e transportam gás, e não das que vendem. Tanto esforço lhe rendeu críticas nas negociações de regulamentação da Lei do Gás. Outro atributo da executiva é o horário de trabalho, que pode começar às 7h e se estender até 21h. Mas sempre carrega uma pasta intitulada “trabalho de casa”. Também é conhecido o fervor quase religioso com que defende a Petrobras como corporação.

Graça Foster nasceu em Minas e cresceu em uma favela do Rio nos anos 50 – o Morro do Adeus, que hoje faz parte do Complexo do Alemão. Foi lá que viveu até os 12 anos, quando a família se mudou para a Ilha do Governador. No morro, começou a trabalhar aos oito anos, catando papel, garrafas e latas, que vendia para comprar material escolar e presentes para sua “florzinha”, como chama a mãe, Terezinha Pena Silva. Procurada pelo Valor, Graça Foster não foi encontrada até o fechamento desta edição.

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