Guerrilheiro Virtual

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Golfo: Provocações poderão ter consequências imprevisíveis

Jafar El Caiat, no Monitor Mercantil

O assassinato de mais um cientista nuclear do Irã, eventualmente, obrigará o governo de Teerã a promover represálias, segundo avaliam cientistas políticos do Ocidente e do Mundo Árabe Muçulmano. E talvez, finalmente, o desafio do Irã seja sua obrigação de promover alguma ação de certa forma que, o exponha internacionalmente. Este é o alvo dos estrategistas ocidentais inspiradores desta operação.

O professor doutor Mustafá Ahmadi Rosan foi assassinado, alvo de uma bomba que explodiu em Teerã. Testemunhas oculares viram dois motociclistas que colaram no automóvel de Rosan uma bomba com mecanismo magnético e, em seguida, desapareceram antes de a bomba explodir.
Foi uma atentado com fortes indícios de práticas de serviços secretos, considerando que tratava-se de um artefato de última tecnologia, cujo alvo era assassinar uma ou duas pessoas, sem que o barulho de sua explosão fosse ouvido a grande distância.
Em janeiro do ano passado, uma bomba acionada a distância matou o professor doutor de Física Nuclear na Universidade de Teerã Masoud Alí Mohammadi. E no final do mesmo ano, mais um cientista nuclear foi assassinado por atentado a bomba, enquanto, em julho do ano passado, foi assassinado o cientista físico Darious Rezai. Ele foi atacado a tiros por desconhecidos em Teerã. Até agora, nenhuma organização assumiu a responsabilidade por todos estes atentados.

No Curdistão

Mas não foram somente estes atentados. Uma série de igualmente enigmáticas ações foram executadas contra instalações militares iranianas ano passado e 17 pessoas perderam a vida por causa de uma explosão no campo dos Guardas da Revolução, enquanto apenas no mês anterior uma explosão de bomba causou sérios prejuízos em instalações de enriquecimento de urânio em Ispahan. E não faltaram, também, invasores em sistemas de informática, assim como sua contaminação por vírus desconhecidos.
Em todos estes casos, o Irã acusou os serviços secretos de Israel e dos EUA. Poderiam os inspiradores da guerra contra o terrorismo recorrer, tão cruamente, ao terrorismo? O jornal francês Le Figaro não hesitou em "dar nomes aos bois", registrando que "os EUA e Israel executaram várias ações de atentados em instalações nucleares, ordenando, simultaneamente, os assassinatos planejados de cientistas nucleares iranianos".
O Figaro até invocou declarações de autoridades iranianas dos setores de segurança, que sustentam que o serviço secreto israelense Mossad transformou em quartel-general de suas ações a autônoma região do Curdistão iraquiano.

Atos de provocação

Contudo, qual poderá ser o sentido desta campanha de terrorismo com alvo os cientistas nucleares iranianos? Será que o programa nuclear iraniano é tão personalizado, a ponto de poder ser destruído com a eliminação física de determinados cientistas nucleares iranianos? E, finalmente, os serviços secretos iranianos são tão incapazes a ponto de não terem condições de proteger as verdadeiras pessoas-chaves para o sucesso do programa nuclear do país?

O alvo dos assassinatos poderá, eventualmente, ser totalmente diferente, de acordo com a revista norte-americana Atlantic: obrigar o governo de Teerã a promover alguma espécie de represália contra Israel, evolução que, finalmente, daria o motivo para ataque militar contra o Irã. Israel poderia, naturalmente, atacar primeiro, invocando - por uma vez mais - sua autoproteção, mas a estratégia da escalada garante uma série de vantagens.
Israel não poderá ser acusado de que iniciou a guerra, de acordo com a conhecida tática de dois pesos e duas medidas: um ataque caracteriza-se terrorista se o autor, e não a vítima, é o Irã.

Brincar com fogo

Contudo, a vantagem básica é que uma guerra que seria iniciada desta forma teria maiores possibilidades de arrastar, também, os EUA. E, de acordo com a revista Atlantic, a liderança militar israelense considera que a Força Aérea dos EUA deve assumir o principal peso e responsabilidade dos bombardeios da instalações nucleares iranianas, considerando que os EUA têm a possibilidade de desferir "golpes de profunda penetração", possibilidade esta que o Israel não dispõe hoje.

"Se Israel iniciasse, repentinamente, os ataques contra o Irã, no momento em que os EUA estão examinando a possibilidade de mais uma saída diplomática, não poderia apostar no apoio norte-americano. Mas os EUA assumiriam, imediatamente, a defesa de Israel, se este estivesse envolvido em escalada de guerra com o Irã, a qual teria sido iniciada pelo governo de Teerã", avalia a Atlantic.
A obrigação do Irã de promover represálias deverá minar, se não destruir, definitivamente, todas as esperanças por uma solução diplomática, resultando, em consequência, ou em um maior isolamento do Irã, ou na mais perigosa guerra da multiconvulsionada história do Grande Oriente Médio. Muitos hesitariam em brincar com o fogo neste caso. Menos o atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.


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