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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Haddad promete ‘reinventar’ São Paulo se for eleito

Haddad: “Curiosamente ela (Dilma) está descrevendo
as etapas das minhas angústias com muita acuidade”

Do Valor

O Palácio do Planalto confirmou ontem que o ministro Fernando Haddad (Educação) deixa o governo, na terça-feira, para concorrer às eleições para prefeito de São Paulo. Haddad deixa o governo, mas o governo vai com ele para a campanha. Ele promete “reinventar São Paulo”, ao alinhar a prefeitura ao governo federal, tem a promessa dos apoios da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas assegura que não se esconderá na campanha.

“Vou me fiando muito na opinião daqueles que me querem bem”, disse o ministro ao Valor, em conversa na noite da terça-feira. Haddad afirma que sente uma “vibração” muito forte tanto de Lula quanto de Dilma. Promessa do ex-presidente: “Você pode contar que em março vai ter um cabo eleitoral muito disposto a te ajudar”, disse Lula, durante uma visita que o ministro lhe fez na antevéspera do Natal de 2011. O ex-presidente carregava o tripé com os medicamentos que lhe foram receitados para tratar um câncer na laringe.

“Tenho conversado muito com a presidenta Dilma, que viveu uma coisa muito parecida com a que eu vou viver”, contou Haddad na entrevista. “Curiosamente ela está descrevendo as etapas das minhas angústias com muita acuidade. Ela vai te descrevendo um processo que vai te tornando mais forte, a cada etapa vencida.” Segundo Haddad, Dilma já está tendo um papel em sua candidatura. Mas ele não sabe dizer se ela participará da campanha. “É a primeira eleição que ela vai viver como presidente. Eu acho que o partido deve respeitar os limites que ela estabelecer.”

“Eu não acredito numa campanha que esconda o candidato”, disse Haddad ao ser questionado sobre o fato de ser o candidato de Lula e Dilma. “O candidato é a sua história, o que ele fez, o que ele estudou, onde ele trabalhou, o que promoveu de avanços, o que pretende”, afirmou. “Mas também é os que o apoiam. Não há como dissociar o candidato das forças que o apoiam.” Indagado se isso significa que em seu palanque estará, por exemplo, o ex-ministro José Dirceu, acusado de “chefiar” a quadrilha do suposto esquema do mensalão, responde: “Estarão no meu palanque todos os companheiros do PT e dos partidos que estiverem coligados com o PT nessa empreitada.”

O ministro acha que as campanhas não devem esconder seus candidatos nem seus apoiadores, sob o risco de o efeito ser contrário ao esperado. Citou como exemplo as campanhas do PSDB que esconderam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os tucanos saíram derrotados.

Durante toda a entrevista ao Valor, Haddad tentou relativizar a possibilidade de uma aliança com o PSD, o partido do atual prefeito Gilberto Kassab. Não demonstrou entusiasmo, mas também não descartou. O ministro diz preferir tratar com os aliados do governo federal, a abrir uma discussão com quem o coloca como terceira alternativa na eleição – Kassab tem declarado que apoiará José Serra, se ele for o candidato tucano, ou o vice-governador Guilherme Afif Domingos, na hipótese de reedição da aliança tucano-kassabista. “Discutir essa hipótese nessas circunstâncias é algo que inverte totalmente o processo”, disse. “E o processo que se dá agora é esse: a administração atual buscando o apoio do PSDB – ou oferecendo, no caso do candidato José Serra, ou buscando o apoio, no caso do vice-governador Afif.”

Haddad evitou até mesmo criticar a ação do governo e da Prefeitura de São Paulo na Cracolândia: “Não vi ninguém defender a tese de que a situação pudesse permanecer como estava, sem nenhuma iniciativa do poder público por décadas a fio.” Prefeito, ele teria agido de outra maneira, com integração da ação policial com a saúde e a assistência.

“À luz dessa conjuntura nós vamos iniciar dois movimentos. Um no sentido de elaborar o diagnóstico temático da cidade com lideranças petistas e não petistas. O outro, já discutido com o PT municipal, no de buscar um entendimento intenso com os partidos da base aliada do governo Dilma, sobretudo PR, PCdoB, PSB e PDT, em função do fato de que o PMDB já está um pouco adiantado na sua postulação (a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita), mas que seria também um interlocutor natural do nosso campo.”

“São essas as duas decisões tomadas à luz desse movimento [a oferta de aliança feita por Kassab], que é até generoso da parte do prefeito, por reconhecer a qualidade das nossas pretensões, da nossa postulação”, afirmou. E acenou: “Se alguém faz um gesto de simpatia à sua candidatura, você não precisa estar aliado a ele necessariamente no primeiro turno. Mas você sabe que, para compor maioria em São Paulo, dependendo de quem for seu adversário, as alianças de segundo turno são mais flexíveis do que no primeiro turno.”

Por enquanto, o que Haddad fala é em resgatar projetos do último governo do PT na cidade, da senadora Marta Suplicy. Nesse aspecto, ele deixa entrever que dará mais prioridade ao ônibus no que se refere à mobilidade urbana. “Não podemos continuar construindo dois quilômetros de metrô por ano. Algumas cidades construíram dez vezes mais”, disse. “Mas nós não podemos imaginar que uma cidade com a característica de São Paulo vá se resolver só com o modal [metrô]. Nós vamos ter que resgatar o plano dos corredores, se quisermos que as pessoas cheguem em casa.” Segundo Haddad, esse é um dos projetos que “é a cara do PAC” e que lhe permitirá, se eleito, desenvolver uma intensa parceria com o governo federal.

O ministro disse também, em relação ao longo domínio do PSDB na política de São Paulo, que sente “uma ansiedade do paulista e do paulistano em ouvir um discurso novo; vamos ver se esse som agrada”. O candidato promete um debate de alto nível: “Eu espero que a eleição de 2012 seja diferente da eleição de 2010. A eleição de 2010 não foi uma celebração da democracia no sentido de projetos que se confrontam mas se respeitam. A partir de determinado momento a injúria, a difamação e o golpe baixo prevaleceram sobre o bom debate.” Em 2010 – afirmou – “houve uma degradação do ambiente político. É consenso da sociedade. Inclusive da parte do próprio PSDB. Eu vi declarações do Aécio Neves e do Fernando Henrique Cardoso nessa direção”.

Dilma faz discurso de despedida em inauguração de creche

A presidente da República, Dilma Rousseff, participou ontem de evento que ganhou tom de despedida ao ministro da Educação, Fernando Haddad, cuja saída foi confirmada no fim da tarde. Ele deixa o governo para ser pré-candidato à Prefeitura de São Paulo (ver matéria acima), e será substituído por Aloizio Mercadante. Para o lugar de Mercadante, na Ciência e Tecnologia, foi anunciado o nome do atual presidente da Agência Espacial Brasileira, Marco Antônio Raupp.
A presidente viajou a Angra dos Reis, no Rio, para inaugurar uma creche e pré-escola. O Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Júlia Moreira da Silva integra o Programa de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a rede Escolar Pública de Educação Infantil (ProInfância) e será referência por ser o único no país a funcionar durante todo o ano, além de fornecer assistência alimentar e médica. A obra teve um custo de R$ 1,052 milhão para o governo federal, e de R$ 72,8 mil da prefeitura.

Os valores são bastante baixos quando comparados aos empreendimentos que são construídos na região de Angra. Ainda assim, o evento contou com Dilma, o governador do Estado, Sérgio Cabral, o vice, Luiz Fernando Pezão, o ministro da Pesca, Luiz Sérgio, o próprio Haddad, o senador Lindbergh Farias, os deputados federais Benedita da Silva e Fernando Jordão e políticos locais.

Dilma citou Haddad diversas vezes em seu discurso, disse que ele foi “um dos grandes ministros desse país na área de educação” e que teve a importância de mostrar um “mapa” do setor ao afirmar que, “para sermos um país com melhor distribuição de renda”, o Brasil vai precisar “começar a olhar para a educação” desde a primeira infância.

“Tenho muito prazer de vir aqui [na inauguração da creche] com Fernando Haddad, porque ele vai sair do meu governo, vai enfrentar uma outra realidade. Ele merece o reconhecimento do meu governo e tenho certeza que também do presidente Lula, pela contribuição que ele deu para que pudéssemos aprofundar esse momento do nosso país que é de crescer, distribuir renda, mas também de garantir para a população o acesso à riqueza”, discursou Dilma.

O governador Cabral também não poupou elogios ao ministro. “Nós não tivemos, no período democrático, nenhum ministro da Educação que se compare ao ministro Fernando Haddad. Foi o melhor ministro da Educação que o país já teve”, disse. O governador acrescentou ainda que, no Estado do Rio, Haddad teria “16 milhões de admiradores”.

Apesar de não ter falado em despedidas, o ministro lembrou de medidas tomadas durante sua gestão. Elencou três prioridades para a educação infantil, como sua inclusão no Fundo de Financiamento à Educação, o repasse de recursos a prefeituras para a construção de novas unidades, além do custeio federal do primeiro ano de funcionamento de novas creches municipais. “Queremos que todos os brasileiros tenham direito a uma das duas possibilidades: ensino médio profissionalizante ou ensino superior. No dia em que o Brasil garantir esse direito, da creche à pós-graduação, poderemos bater no peito e dizer que somos um país desenvolvido”, disse Haddad em seu discurso.

Para Dilma, esse foi o legado mais importante de Haddad à frente do Ministério da Educação. “Agradeço a Fernando Haddad por jamais dizer que é melhor, como se dizia antes, apostar na educação superior, ou que é melhor focar apenas na educação básica”, disse a presidente.

Do O Outro Lado da Notícia

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