Ângelo Alves, no Avante!
Uma associação italiana cujo objecto é o combate à usura e extorsão mafiosas divulgou na passada semana um relatório onde se afirma que o volume de negócios das actividades «comerciais» das três maiores organizações mafiosas italianas (a «Cosa Nostra», a «Camorra» e a «Ndragheta»), desenvolvidas por empresas «reconhecidas e reconhecíveis»1, fazem da máfia italiana o «maior agente económico do país», movimentando cerca de 140 mil milhões de euros, representando cerca 7% do PIB italiano e registando «lucros superiores a 100 mil milhões de euros» e «65 mil milhões de euros de liquidez».
Até aqui nenhuma grande novidade, é sabido que as organizações mafiosas italianas agem como uma «grande holding estruturada numa rede criminosa» com ligações internacionais, que além das «tradicionais» actividades criminosas de roubo, contrabando, usura, extorsão, narcotráfico, etc... intervém directa e indirectamente nas mais variadas áreas de negócio desde a arte até aos resíduos tóxicos e não tóxicos, passando pelo imobiliário, a saúde e até o desporto.
A importância deste relatório – similar a muitos outros que se debruçam sobre a ligação das actividades criminosas ao chamado «mundo dos negócios» – advém sobretudo do facto de ali se afirmar que a crise económica está a alargar o leque de «negócios» da máfia. Com a contracção económica decorrente das medidas de concentração de capital a afectar milhares e milhares de pequenos negócios e a impedir o acesso ao crédito das micro e pequenas empresas italianas, a máfia afirma-se como o «banco n.º 1 de Itália» em melhores condições para conceder crédito e fazer investimentos, associando assim um número crescente de pequenos negócios privados e familiares à sua teia de usura, dependência e extorsão mafiosa.
Ora veio-nos à memória este relatório quando reflectiamos sobre a decisão da Standard & Poor's de baixar os ratings de vários países europeus – aprofundando ainda mais o processo de extorsão às economias mais desprotegidas – enquanto que mantinha o rating dos países sede dos mega bancos credores e do grande capital financeiro transnacional, o mesmo capital que está por detrás das tais «agências de rating». E confessamos... não conseguimos evitar os paralelismos... é que isto cheira mesmo a roubo organizado aos trabalhadores e aos povos!
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