Guerrilheiro Virtual

sábado, 24 de março de 2012

Gurgel sabia dos crimes praticado por Demóstenes desde 2009 e engavetou acusações

Até presidente do partido do senador admite que situação ficou complicada; delegados da PF criticam Roberto Gurgel

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) voltou a ser alvo de denúncias de ligações com o empresário Carlos Augusto Ramos, também conhecido como Carlinhos Cachoeira. Desta vez, as suspeitas, de acordo com investigação da Polícia Federal iniciada em 2009, é de que ele teria pedido R$ 3 mil a Cachoeira para pagar despesas com uma empresa de táxi-aéreo. Além disso, segundo o relatório da PF, o parlamentar teria revelado o conteúdo de reuniões com integrantes do Executivo, do Legislativo e do Congresso.

Senadores de diversos partidos cobraram ontem que sejam investigadas as novas denúncias contra o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). No último dia 6, quando surgiram os primeiros rumores sobre ligações entre Demóstenes e o chefe do jogo clandestino Carlos Cachoeira, 45 senadores tinham feito discursos de apoio ao colega. Dois dos que se pronunciaram em sua defesa naquele dia - Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) - entendem agora que as acusações são muito graves.

Quero saber o que o procurador-geral fez ou vai fazer. No mérito, o caso é grave. Vou tomar providências na segunda-feira e conversar com Randolfe para avaliarmos se somamos outros fatos ao ofício que enviamos ao presidente José Sarney pedindo que ele acione a Procuradoria - disse Taques.

Randolfe foi na mesma linha:

- O fato é gravíssimo e lamentável. Por isso, a Procuradoria Geral da República não pode mais retardar.

Denúncia chegou em 2009 à Procuradoria da República

O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), líder do partido de Demóstenes, admitiu que a situação ficou incômoda:

- Pelas denúncias não esclarecidas, a situação é incômoda. Existe uma série de denúncias. Os esclarecimentos se impõem. Onde há dúvida, há incômodo. Os fatos mencionados no GLOBO têm que ser esclarecidos.

Relatório reservado da Polícia Federal informa que Demóstenes pediu dinheiro e vazou informações oficiais para Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar a exploração ilegal de caça-níqueis em Goiás.Cachoeira está preso e responde a processo por suborno de agentes públicos.

O documento com o conteúdo das escutas foi enviado a Procuradoria Geral da República em 15 de setembro de 2009 e, apesar dos indícios, o procurador-geral Roberto Gurgel nada fez. Pela lei, Gurgel deveria encaminhar os documentos ao Supremo Tribunal Federal, com pedido de abertura de inquérito, ou sugerir o arquivamento do caso, mas não poderia engavetar as acusações.

Senadores e deputados anunciaram que vão cobrar explicações do procurador na próxima terça-feira. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu que o caso seja esclarecido em detalhes:

- Da primeira vez, a gente não acreditou. Agora, tem que buscar a verdade e esclarecer os mínimos detalhes.

Numa das gravações feitas pela PF, Demóstenes pede para Cachoeira "pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$3 mil". Em outro trecho do relatório, a PF informa que o senador fez "confidências" a Cachoeira sobre reuniões que teve no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, contratado por Demóstenes, não quis comentar as denúncias. Pediu à Procuradoria acesso ao conteúdo das gravações entre o senador e Cachoeira.

- É preciso conhecer essas gravações, entender o contexto das conversas. Antes disso, não temos como nos manifestar - disse Castro.

Delegados da cúpula da PF criticaram duramente Roberto Gurgel por engavetar as acusações contra Demóstenes e os deputados federais goianos Carlos Leréia (PSDB) e Sandes Júnior (PP). Segundo um dos delegados, não se sustenta a alegação de Gurgel de que estava esperando o resultado da Operação Monte Carlo para tomar providências. A operação só começou quase dois anos após o primeiro relatório chegar às mãos do procurador com as denúncias contra os parlamentares.

Em nota, a Procuradoria confirmou que recebeu os autos sobre o caso da Justiça Federal de Anápolis. Mas alegou que o processo ficou parado por uma "questão de estratégia". "Como titular da ação penal, cabe ao Ministério Publico Federal definir os rumos da investigação", diz a nota.
 

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