A eleição do socialista francês François Hollande como novo presidente francês pode culminar na mudança das políticas econômicas experimentadas pela União Europeia (UE), com uma maior ênfase na promoção do crescimento e do emprego frente à insistência na austeridade dos últimos anos.
Este processo de mudança já estava sendo notado na UE nas últimas semanas, visto que as políticas de austeridade já alcançaram tudo o que podiam, segundo lembrou uma fonte diplomática, e sua continuidade pode estrangular o crescimento.
O resultado francês implica na derrota nas urnas de outro governo da UE, uma constante desde o início da crise, e representa também o final da dupla Merkozy (Angela Merkel e Nicolas Sarkozy) que ditou a resposta europeia aos problemas econômicos durante os últimos dois anos.
Nos últimos dez dias, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, pediu em Bruxelas o início de uma estratégia de crescimento; enquanto o comissário de Economia europeu, Olli Rehn, o grande oráculo da austeridade, defendeu ontem a potencialização dos investimentos públicos em setores-chave para promover a recuperação.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou hoje que compartilha com Hollande "a convicção que é preciso investir no crescimento e nas grandes redes de infraestrutura", mas mantendo a consolidação orçamentária e a redução da dívida.
Nos últimos dois anos, a ênfase sobre a austeridade nos países mais afetados pela crise (Grécia, Portugal e Espanha) gerou uma queda da atividade e um crescimento do desemprego.
"É o momento de mudar a direção da Europa", apressou-se a dizer hoje o presidente do Parlamento Europeu, o socialista alemão Martin Schulz, após conhecer o resultado da votação na França.
O primeiro-ministro belga, o também socialista Elio di Rupo, o primeiro dirigente internacional a parabenizar Hollande, disse que espera trabalhar com ele e com os demais líderes da UE "na concretização de um plano de crescimento e criação de emprego".
Di Rupo, que estava em Paris para a celebração da vitória de Hollande, insistiu que a "necessária" responsabilidade orçamentária em nível europeu deve vir acompanhada "de uma ambiciosa estratégia de recuperação para o benefício de todos os europeus".
Uma das ideias defendidas por Hollande é o emprego em grande escala de fundos do Banco Europeu de Investimentos (BEI) para promover os investimentos em infraestruturas com as quais fomentar o emprego, uma questão que tem cada vez mais seguidores em Bruxelas.
Hollande também defende a revisão do "pacto orçamentário" assinado em março passado por 25 dos 27 países comunitários, mas nesse aspecto todas as fontes consultadas nas últimas semanas concordam que nessa frente não há possibilidades de avanço.
O líder dos liberais no Parlamento Europeu, o ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, assinalou que Hollande aposta em "um impulso ao projeto europeu" em vez das "decepcionantes" políticas intergovernamentais defendidas por Sarkozy.
A vitória de Hollande representa "uma profunda rejeição à loucura de "Merkozy" que afogou o crescimento econômico nos últimos dois anos", disse, por sua vez, o presidente do Partido Socialista Europeu, Sergei Stanishev.
O presidente francês em fim de mandato também alienou muitos europeístas com suas aproximações à extrema direita francesa que questionavam algumas conquistas da UE, sobretudo a abertura de fronteiras do Tratado de Schengen.
Neste sentido, a comissária de Justiça europeia, a democrata-cristã luxemburguesa Viviane Reding, destacou no Twitter que a vitória de Hollande criará finalmente "uma França da Justiça".
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