“As empresas de comunicação, através de seus veículos,
principalmente rádio, tevê, jornais e revistas, fazem pressão sobre o
Supremo Tribunal Federal, antecipando a condenação”
Não sei dia, hora ou local em que nasceu Eremildo, o idiota. Sei que é
filho ou enteado do jornalista Elio Gaspari. Quase todos os domingos
leio o que pensa Eremildo. No geral, ele não elabora grandes teses e seu
pensamento, no mínimo, é inocente, isso quando não é idiota.
Eremildo é a maneira satírica que Gaspari encontrou para criticar a
corrupção, o uso indevido do dinheiro público e outros fatos da vida
política do país.
No sábado, 04 de agosto, acordei pensando em Eremildo. O que será que
ele acha do julgamento do suposto “mensalão”? O que ele acha da
cobertura espetacularizada, condenando antecipadamente os réus, feita
por alguns jornalistas?
Registro: não são apenas alguns jornalistas, isolados, que fazem uma
cobertura vergonhosa. Eles estão respaldados ao menos por parte das
empresas de comunicação do país. Segundo esses jornalistas e empresas,
em coro ensaiado com Roberto Gurgel, procurador-geral da República, o
“mensalão” é o maior escândalo da história do Brasil.
Um aparte, doutor Gurgel, perguntar não ofende: o senhor conhece a
história do Brasil? Quem afirma que o “mensalão” é o maior escândalo da
história ou o faz de má-fé ou não conhece nosso passado. Aproveito a
oportunidade e pergunto: o senhor se sente eticamente desimpedido,
depois de ficar sentado, por cerca de dois anos, em cima das denúncias
contra Carlos Cachoeira e Demóstenes Torres, para formular o libelo
acusatório do “mensalão”?
Eremildo, responda-me: não é vergonhosa a cobertura que jornalistas e
empresas estão fazendo? Será que o pai (ou padrasto) de Eremildo, Elio
Gaspari, já comentou sobre o comportamento destes jornalistas e empresas
e eu não li? Como não sei se “o idiota” ou mesmo Gaspari comentaram
algo sobre isso, recorro a Janio de Freitas.
Em nome da opinião pública, alguns jornalistas e algumas empresas de
comunicação pedem a condenação de todos os “mensaleiros”, como definem.
Inclusive Fernando Henrique Cardoso andou se manifestando sobre o tema e
pedindo a condenação. Mas, livre da pressão da mídia, o que realmente
pensa o povo brasileiro?
Janio de Freitas, em “As vozes”, artigo publicado na Folha de S. Paulo
do dia 02 de agosto, escreve: “Com tantas pressões dirigidas aos
leitores, espectadores e ouvintes, em linha direta e como reflexo das
pressões sobre o Supremo Tribunal Federal, no momento não se sabe o que a
voz silenciosa da opinião pública pede aos seus magistrados mais altos.
Mas tal incerteza está acompanhada de ao menos duas certezas”.
Uma das certezas, que compartilho com Janio, é que a “recomendação de
Fernando Henrique evidencia que a opinião pública referida é a opinião
do público peessedebista” e que a “recomendação é um apelo velado no
sentido de que o Supremo Tribunal Federal não negue o seu socorro ao
catatônico PSDB, nesta hora difícil dos confrontos eleitorais. Tudo por
um punhado de condenações de petistas”.
Busco novamente a luz de Janio de Freitas, dessa vez em “O julgamento da
imprensa”, também na Folha, no dia 31 de julho. Segundo ele o
“julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal é desnecessário.
Entre a insinuação mal disfarçada e a condenação explícita, a massa de
reportagens e comentários lançados agora, sobre o mensalão, contém uma
evidência condenatória que equivale à dispensa dos magistrados e das
leis a que devem servir os seus saberes”.
As empresas de comunicação, através de seus veículos, principalmente
rádio, tevê, jornais e revistas, fazem pressão sobre o Supremo Tribunal
Federal, antecipando a condenação. Fazem também pressão sobre o
eleitorado, pedindo quase que explicitamente que “não votem nos
candidatos do PT”.
Ainda no seu “O julgamento da imprensa”, Janio afirma que a pressão
exercida contra o STF é própria dos regimes autoritários, que negam aos
magistrados o que a democracia lhes oferece. Daí, deduzo que quem sempre
cobrou liberdade de imprensa agora é contra a liberdade de opinião e o
direito de livremente decidir.
Mas não existe só um “mensalão”: há também o do PSDB mineiro, envolvendo
o deputado Eduardo Azeredo, muito anterior ao do PT, e há o do DEM
(tanto o nacional quanto especificamente o do Distrito Federal),
envolvendo o ex-governador José Roberto Arruda. Não só eu, mas também
Eremildo, o idiota, está esperando pelo julgamento destes dois
mensalões. Relembro: o do PSDB é anterior ao do PT.
O tratamento dado pela imprensa e no STF a ambos os casos está sendo
diferenciado, não só na questão do tempo para julgar, mas também na
questão de método e mérito. Na imprensa é ainda pior. No artigo “Dois
pesos e dois mensalões”, publicado na Folha do dia 05 de agosto, Janio
de Freitas chama a atenção para esse tratamento desigual.
Por exemplo: o advogado Márcio Thomaz Bastos propôs que o STF
desdobrasse o processo do “mensalão” de tal maneira que a Suprema Corte
só julgasse os três parlamentares que têm foro privilegiado, e que os
demais 35 acusados fossem julgados em varas criminais comuns. Nove
ministros do STF foram contrários a isso. No mensalão do PSDB, esta tese
foi aceita. No do PT, não. Por que este tratamento diferenciado?
Afinal, não somos todos iguais perante a lei? Esta decisão foi uma
vitória dos jornalistas e da maioria das empresas de comunicação que
cobrem o julgamento. E foi uma derrota dos que querem um país
democrático, onde a lei tenha o mesmo valor para todos.
Além disso, Janio chama a atenção para o fato de que os “dois mensalões
não receberam idênticas preocupações dos ministros do Supremo quanto ao
risco de prescrições, por demora de julgamento. O mensalão do PSDB é o
primeiro, montado pelas mesmas peças centrais – Marcos Valério, suas
agências de publicidade SMP&B e DNA, o Banco Real. Só os
beneficiários eram outros: o hoje deputado e ex-governador Eduardo
Azeredo e o ex-vice-governador e hoje senador Clésio Andrade”.
O partido e os nomes dos parlamentares fazem uma diferença enorme para
Globo, Veja, Estado de São Paulo, Folha, etc. Aliviam para o PSDB e para
o DEM e exigem punição para o PT.
O que Eremildo, o idiota, pensa disso?
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