Por Altamiro Borges
A jornalista Mônica Bergamo publicou hoje três notinhas reveladoras na página Ilustrada da Folha:
Olhos abertos
O ministro Joaquim Barbosa, relator do "mensalão do PT" no STF (Supremo Tribunal Federal), segue atento ao "mensalão mineiro", que envolve líderes do PSDB. Ele pretende deter-se em providências que levem à rápida localização de testemunha considerada chave nas investigações e que tomou chá de sumiço em Minas Gerais.
Pedreira
Barbosa, que defendeu o desmembramento nos dois casos e foi voto vencido, acredita que o risco de prescrição no "mensalão mineiro" é até maior do que havia no "mensalão do PT". E diz a interlocutores que, se no caso petista tudo quase sempre foi aprovado por unanimidade no STF, no mineiro as dificuldades foram maiores.
Tem mais
Ele também questiona a imprensa. Quando procurado por repórteres para falar do processo contra petistas, provoca ao fim da entrevista: "E sobre o outro, vocês não vão perguntar nada?". Recebe como resposta "sorrisos amarelos". "A imprensa nunca deu bola para o 'mensalão mineiro'", diz ele.
Razões políticas da operação-abafa
Por que será que caso envolvendo dirigentes petistas foi “aprovado
por unanimidade” no STF e o outro, que envolve líderes tucanos, é bem mais
antigo e corre risco de prescrição, esbarra em tantas dificuldades no Supremo?
Por que será que a “imprensa nunca deu bola para o ‘mensalão mineiro’”? Por que
será que Mônica Bergamo trata o caso em julgamento nestes dias como “mensalão
do PT”, mas evita rotular o outro de “mensalão do PSDB”?
O ministro Joaquim Barbosa, sempre tão rigoroso com os
petistas, conhece as respostas a estas perguntas. Mas ele prefere fazer
mistério. Ele poderia até criticar o seu colega, ministro
Gilmar Mendes, que sempre criou obstáculos ao julgamento do mensalão tucano,
foi indicado para o STF pelo ex-presidente FHC, prestou serviços ao seu governo
e mantém sólidos laços de amizade com Serra e outros caciques do PSDB.
Barbosa poderia também criticar a velha mídia, que fez
campanha pela eleição e reeleição de FHC, sempre apoiou seu reinado neoliberal
e nunca engoliu as derrotas dos tucanos para Lula e Dilma. A relação da mídia
com o PSDB e o DEM é bem conhecida. Boa parte dela inclusive promoveu a
escandalização da política no caso de “mensalão do PT” para pregar o
impeachment e/ou o sangramento do ex-presidente Lula.
Os motivos mais mundanos
Estas razões políticas explicam porque o “mensalão tucano”
esbarra em dificuldades no STF e porque a mídia não dá bola para este
caso. Além disso, existem também motivos mais mundanos. Recentemente, a
CartaCapital publicou um relatório que aponta o ministro Gilmar Mendes
como
beneficiário do esquema de caixa dois montado pelo publicitário Marcos
Valério
na campanha do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, em
1998.
O esquema ilegal deu origem ao abafado “mensalão mineiro”, como
a mídia insiste em rotulá-lo de maneira seletiva. Ele teria movimentado cerca
de R$ 104 milhões. Deste total, segundo a revista, R$ 185 mil teriam ido parar
nas mãos de Gilmar Mendes. O relatório também inclui a Editora
Abril, como destinatária de R$ 49,3 mil, e o Grupo Abril, que teria abocanhado
outros R$ 49,5 mil. Ambas as empresas são do empresário Roberto Civita, o
chefão da Veja.
Qual será a "providência" do STF?
A denúncia da CartaCapital não teve qualquer repercussão na velha mídia.
Até agora, a Veja não conseguiu explicar o seu suposto envolvimento com
o chamado "valerioduto". Já o ministro Gilmar Mendes ameaçou processar a
CartaCapital e atacou os "blogs sujos", que repercutiram a denúncia. Se
depender da mídia e de alguns ministros a denúncia também será abafada,
como foi o escândalo do "mensalão tucano" - ou melhor, do "mensalão
mineiro". Será que o ministro Joaquim Barbosa vai chutar o pau da
barraca? A conferir!
Do Blog do Miro
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