O
resultado do julgamento pode até não sofrer grandes alterações, já que
os meritíssimos ministros do STF parecem estar com a cabeça feita e
com seus votos prontos, pelo menos no rascunho, mas o cenário em
Brasília mudou desde segunda-feira quando começaram a ser apresentadas
as defesas dos 38 réus do processo do mensalão.
Até a semana passada, o que vimos foi um massacre midiático, com apenas um time em campo jogando sozinho: o da acusação.
Passados
os primeiros momentos de excitação, agora que temos dois times em
campo para disputar os votos dos 11 juizes, já dá para saber quais são
os esquemas táticos de cada um para atacar ou se defender.
Acusação:
esquema de compra de votos para a aprovação de projetos de interesse
do governo Lula com a utilização de dinheiro público e privado.
Defesa:
pagamento de dívidas eleitorais dos partidos aliados com dinheiro
levantado em bancos privados; falta de provas documentais na acusação
apresentada pelo procurador-geral.
Em resumo, é isso. Os lados baseiam-se em provas testemunhais e depoimentos para defender as suas teses.
"A
principal mudança que verificamos é que pela primeira vez a defesa
está sendo ouvida e as pessoas começaram a perceber que a história tem
um outro lado", constata o advogado Arnaldo Malheiros Filho, advogado do
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, com quem conversei assim que ele
voltou a São Paulo nesta quarta-feira.
Ao citar uma pesquisa do
Datafolha, segundo a qual 80% da população não sabe o que é o mensalão,
Malheiros diz que a "pressão sobre os ministros é feita por uma
minoria barulhenta".
O que vimos até a semana passada foi um
movimento organizado nas redes sociais, amplificado por setores da
mídia, que exigem a condenação de todos os réus, independentemente das
provas dos autos e dos argumentos da defesa.
Agora, até a
cobertura da imprensa parece ter ficado mais equilibrada, com a
desonrosa exceção de alguns pistoleiros na blogosfera, que se mostram
cada vez mais histéricos e inconformados porque os advogados de defesa,
ora vejam, fazem a defesa dos seus clientes.
Apesar de todo o
barulho, no entanto, não se viu até agora as massas dos porta-vozes da
chamada "opinião pública" se manifestarem na praça diante do STF, em
Brasília, ocupada apenas por jornalistas.
Conversei também
rapidamente por telefone hoje de manhã com o ex-ministro Marcio Tomás
Bastos, advogado de José Roberto Salgado, do Banco Rural, que é
acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, fraude e evasão
de divisas.
Em meio a uma reunião da defesa, Bastos avaliou que
"já está se estabelecendo o contraditório, com as imprecisões da
acusação sendo desvendadas".
À tarde, ao fazer a sustentação
oral no plenário, contestando ponto por ponto a acusação do
procurador-geral, o advogado perguntou: "Qual foi a prova que se
produziu nestes autos contra o sr. José Roberto Salgado?".
Bastos
se referiu ao processo como "um furacão com a marca de fantasia
chamada de mensalão". No final da sua fala, o advogado reclamou de
"incoerências vastas espalhadas por todo este processo" e pediu a
absolvição do seu cliente por falta de provas, como fizeram todos os
outros defensores até aqui.
Em princípio, se não houver novos
atrasos, o trabalho dos advogados de defesa deverá ser concluído até
quarta-feira da próxima semana.
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