As greves de serviço público que se voltam contra a população voltam-se também contra a democracia
As greves da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, com os
danos da primeira à prestação de serviços ao público e, a segunda, com a
interrupção de vias como a ponte Rio-Niterói, fazem aquilo mesmo que
as duas polícias invocam para reprimir com a força de cassetetes e
armas qualquer grupo, de grevistas ou de manifestantes, que perturbe a
normalidade de um serviço, um prédio ou uma estrada do sistema federal.
As greves de serviço público que se voltam contra a população voltam-se
também contra a democracia. Na euforia do momento tão esperado, a
Constituinte estendeu o direito de greve ao serviço público como uma
conquista democrática sem precedente no Brasil.
A precaução de preservar o direito da população, porém, ficou longe do
equilíbrio necessário entre a nova concessão a uns e as velhas e
permanentes necessidades de todos os outros.
A permanência dos serviços, por plantões de servidores nos seus locais de trabalho, é uma farsa dos respectivos sindicatos.
Os plantões fazem figuração, sempre com número exíguo de funcionários para que os serviços não sejam mesmo prestados.
Atestam-no as filas imensas, o atendimento com os modos da tal operação
tartaruga, as falsas informações que iludem os necessitados de
documentos ou de providências pendentes da Polícia Federal, e por aí
vai. Ou melhor, não vai.
Não deixar ir se torna mesmo o propósito exibido ao vivo pela Polícia
Rodoviária Federal, que saiu de sua mínima valia para solucionar o que
não resolve de outro modo: parou milhares e milhares de carros,
caminhões, ônibus, gente com compromissos, gente a caminho do trabalho,
gente cansada do trabalho, cargas perecíveis, cargas para embarque
aéreo -serviço completo, enfim.
Se as polícias que reprimem anormalidades passam a fazer anormalidades,
não haverá quem recomponha a normalidade. Mais: estará assegurado, por
antecipação, que todos ficarão impunes.
E, pronto, estão estabelecidas as diferenças antidemocráticas: há os que
se estrepam com a polícia se perturbarem área federal e, de outra
parte, os que tanto reprimem aqueles como fazem livremente as mesmas
perturbações.
Não, não as mesmas: as dos policiais são remuneradas e os seus dias de
perturbadores contam para promoções por tempo de serviço e para a
aposentadoria.
Funcionário da Polícia Federal ganha mais do que professor nas
universidades federais e do que médicos do serviço público federal. E
nem se destaque a faixa dos delegados, para não humilhar professores e
médicos.
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