Guerrilheiro Virtual

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mino: agora, o mensalão tucano !

“Fernando Henrique é um presidente de exportação”
A inveja dói. Não bastou cair nos braços de Clinton para ser “o cara”. Foto: Lula Marques / Folhapress
 
O Conversa Afiada reproduz artigo (impecável, como sempre) do Mino, na Carta Capital :


Quando me convidam para falar em público, quase sempre plateias universitárias, às vezes, se a situação recomenda, proponho: levante o braço quem já leu um livro de Fernando Henrique Cardoso. Ao cabo de décadas de palestras, vi ao todo três braços erguidos. O príncipe dos sociólogos é lido por pouquíssimos.

Fama usurpada? Anos atrás, em conversa com um caro amigo, ousei citar o líder comunista italiano Massimo D’Alema, o qual, sem referir-se ao sociólogo, disse do político: “Fernando Henrique é um presidente de exportação”. O caro amigo me convidou com extrema firmeza a passar o resto dos meus dias na Itália e nunca mais falou comigo. E nem sei se ele leu algum livro do seu herói.

Avento a hipótese de que haja quem coloque FHC sobre um pedestal inviável e lhe atribua um peso específico inexistente, a configurar um mistério brasileiro digno da análise dos cultores do absurdo. Entendo que a presidenta Dilma fique indignada com o artigo que o presidente da reeleição comprada publicou no Estadão de domingo 2 de setembro para denunciar no chamado “mensalão” a herança de Lula. Mas vale a pena abrir portas abertas ou conversar com as paredes para replicar a um texto ditado, antes de mais nada, pela inveja?

Há quem diga que mesmo em Higienópolis, o bairro heráldico de São Paulo, o morador FHC deixou de ser assunto há muito tempo. E quanto há de sofrer o esquecido, devorado pela constatação de que Lula não foi presidente de exportação para ser reconhecido internacionalmente como “o cara” sem precisar atirar-se nos braços do presidente americano. À época da Presidência tucana, Clinton, avalista do neoliberalismo mundial, ao qual FHC aderiu sofregamente.

Estranho, de todo modo, que as autoridades brasileiras atualmente no poder atribuam importância a uma mídia disposta a desancá-las in limine e a priori para apoiar maciçamente o tucanato, com resultados tragicômicos, como se viu em 2002, 2006 e 2010. Nesta semana, a espantosa Veja registra a mudança histórica representada pelas “condenações de mensaleiros”. “O Brasil reencontra o rumo ético”, afirma, e nisto conta com a imediata concordância de Época, a global.

Simples explicar tanto regozijo: Veja e Época consideram-se pontas de lança da mídia enfim vencedora. Sem entrar no mérito da palavra errada, mensaleiros, entregam-se ao estado de graça os mesmos que silenciaram em relação ao “mensalão” tucano, das privatizações em diante. Cabe perguntar por que o Brasil não começou a mudar então.

Os políticos, em geral, ainda não entenderam que esta mídia, pronta a antecipar os veredictos do Supremo, serve exclusivamente à minoria privilegiada, a lhe repetir as frases feitas, a lhe engolir as mentiras, a acreditar em suas invenções qual fossem a própria verdade factual, sem dar-se conta, é óbvio, das omissões. E para impedir a convocação de Policarpo Jr. diretor da sucursal de Veja em Brasília, parceiro de Carlinhos Cachoeira em algumas clamorosas contravenções, destinada à apuração da CPI, basta e sobra que um representante da Abril baixe na capital federal e converse com quem de direito, habilitado a dar um jeito. Ah, sim, o famoso jeitinho brasileiro. Daí, a moral: o Brasil não é o Reino Unido, que manda para casa o senhor Murdoch.

Veja e Época celebram a mudança que lhes convém, expõem-se, contudo, a um risco. E se o Supremo tomar gosto pela fidelidade à deusa vendada e depois do processo em curso partir para outro, o julgamento das falcatruas tucanas? Os dias não têm sido luminosos para o PSDB, à vista, inclusive, da luta intestina a ser precipitada pela possível (provável?) derrota de José Serra na iminente eleição paulistana. Quem será o próximo candidato tucano à Presidência da República, o anti-Dilma? Nuvens plúmbeas estacionam no horizonte.

Desde já, CartaCapital avisa. Tão logo termine o julgamento do chamado “mensalão petista”, nossa capa vai soletrar: E AGORA VAMOS AO MENSALÃO TUCANO. Temos um excelente enredo a desenrolar. Se mudança houve, que seja.


Em tempo: não deixe de ler “Clinton/FHC: uma das fraudes de FHC” – PHA

Um comentário:

  1. Não podemos esquecer que o PSDB ainda tem a mídia do lado deles e que, exatamente por isso, se quizermos saber alguma coisa sobre o mensalão do PSDB, só vamos ver nas redes sociais.
    Porque o PIG não vai servir o seu bacon para os fregueses.

    ResponderExcluir

”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”