O script estava
escrito e não admitia revisão. O cronograma foi milimetricamente
calculado para coincidir com a data do primeiro turno das eleições. As
decisões de alguns ministros já tinham sido tomadas há muito tempo e se
lixaram para as análises pré- julgamento que diziam que a ordem jurídica
apontava para a absolvição. De nada valeram as manifestações de
juristas, intelectuais e artistas que apontavam os riscos da condenação
política e sem provas. O destino dos réus já tinha sido traçado e o
esperneio do estado de direito democrático não iria impressionar os
atores.
Do outro lado a velha mídia fazia a sua
parte, e cobriu o julgamento com a intensidade jamais vista antes. A
manobra eleitoral que pela primeira vez reuniu PGR, STF e imprensa com
esforços conjuntos visava refrear o crescimento do PT e transformar em
movimento de encolhimento. Com o PT destruído, bastava esperar Lula e
Dilma se esgotarem. A estratégia pouco disfarçada parecia o golpe de
mestre, enfim era só esperar abrir as urnas e estourar a champanhe:
“Enfim, acabamos com a raça do PT”.
Quando abriram as urnas foi um pega pra
capar. “Como o PT cresceu?” Diziam atônitos aprendizes de feiticeiros.
Foi então que perceberam que tinham se esquecido de combinar com o
eleitor e com a militância do PT.
O eleitor médio já tinha julgado e
punido o PT em relação ao mensalão muito antes do julgamento começar, e
isso se deve ao fato da imprensa ter pré-julgado e condenado o partido
desde 2005. O mensalão, enquanto fato novo, prejudicou o PT nas eleições
de 2006 e 2008, fez o partido perder filiados e simpatizantes, mas por
conta dessa precipitação os efeitos que viriam só agora foram
antecipados e os cartuchos foram queimados, portanto a cobertura
estridente desse julgamento não passa de pregação para já convertidos. A
esquerda se sente agredida, a direita range os dentes e o povão dá de
ombros.
Contudo o efeito colateral mais
devastador para os que investiram na destruição do PT foi reacender o
brilho nos olhos de uma gigantesca militância, que nos últimos anos
vinha perdendo um pouco de garra original por diversos motivos: o
partido ter chegado ao poder, a rejeição a determinadas alianças, a
falta de reação do partido aos ataques da mídia.
As tentativas de sufocar e criminalizar o
PT estão trazendo de volta o velho militante que tinha deixado a
estrelinha no canto da gaveta, está tornando militante aquele fiel
simpatizante de voto, mas que nunca tinha pedido votos, e renovando o
gás do militante de sempre. É comum agora ver o militante do PT com
disposição redobrada, querendo responder a arbitrariedade com uma surra
democrática nas urnas.
A panaceia para o perigo petista se
transformou na chama que faltava para o partido se reconciliar de vez
com a sua maior força: a que vem das ruas.
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