Ulisses Guimarães dizia que a margem de erro é a margem de lucro dos
institutos de pesquisa de intenção de voto. Vamos deixar as
desconfianças ao gosto do leitor, e nesta nota abordar outro lado da
questão, a própria confiabilidade no método da pesquisa.
O Datafolha ganhou muita credibilidade em 1989 quando acertou a pesquisa
no primeiro turno que colocou Lula no segundo turno na frente de
Brizola por uma diferença muito pequena.
O Instituto tem um método que acaba se tornando um truque. Ele
entrevista pedestres na rua, em vez de fazer pesquisa domiciliar. Logo,
ele leva uma tremenda vantagem na pesquisa de boca de urna, pois no dia
da eleição, basta pesquisar nos principais locais de votação com uma
grande amostra, porque de fato todo mundo que vai votar está transitando
na rua próximo aos locais de votação. Assim a probabilidade de errar
essa pesquisa realizada no dia da eleição é muito pequena. E com essa
pesquisa de boca de urna acertando quase sempre, o Instituto faz a fama.
Porém esse método, se é o mais confiável no dia da eleição, é o menos
confiável em todas as pesquisas anteriores, fora do dia da eleição. Ao
entrevistar pedestres, o Instituto pergunta onde a pessoa mora,para
calcular a proporção de acordo com a população de cada lugar. Acontece
que esse método é bem menos exato do que escolher uma amostra de
domicílios e visitar a casa em seu endereço real. As pessoas andando na
rua podem informar errado o bairro onde moram, seja por engano ou porque
não querem dizer exatamente onde mora.
E tendem a responder com menos paciência do que se estivessem em seu
domicílio. Além disso em locais de grande fluxo de pessoas é óbvio que
transita gente de todo lugar, mas sempre transita menos gente que mora
nos extremos da periferia, mesmo que seja uma área muito populosa. No
caso de São Paulo, por exemplo, essas são exatamente as áreas onde o PT é
melhor votado. Daí, no dia da eleição a pesquisa de boca de urna mostra
crescimento e acerta, criando outra fama, que não deixa de ser verdade,
em parte: a de que o PT é partido de chegada.
Outro mito é o da margem de erro. Não significa que a se as eleições
fossem hoje o resultado seria apenas o mostrado dentro da margem de
erro. Significa apenas que se a pesquisa fosse refeita 20 vezes, no
mesmo dia, nos mesmos lugares, em 19 vezes daria números semelhantes
dentro da margem de erro. Mas se a pesquisa tiver vícios como, por
exemplo, captar menos o eleitorado de uma parte da cidade, os resultados
se repetiriam, com os mesmos vícios, dentro da margem de erro. Porém
estariam deturpados ao não refletirem a realidade de toda a cidade.
Então para que servem as pesquisas?
Mais do que números exatos, os profissionais das campanhas dos
candidatos olham as tendências, para ver se está crescendo ou caindo,
onde está crescendo, e onde está caindo, para orientar e corrigir rumos
da campanha.
As pesquisas publicadas na mídia, podem sim, eventualmente, ser usadas
como ferramenta de manipulação. Muitos financiadores de campanha fazem
doações de acordo com a chance do candidato vencer.
As pesquisas também podem animar ou desanimar militantes. Podem induzir
pessoas a fazerem o voto útil. E há quem tente mexer em pesquisas
acreditando que elas influenciam alguns eleitores a votar em quem está
na frente.
O fato é que quem quer vencer eleição deve ficar com um olho nas
pesquisas, mas o resto do corpo e da alma na campanha. Pois o caminho
mais rápido para alguém que está na frente nas pesquisas perder eleição é
achar que já ganhou. E o caminho mais fácil para quem aparece atrás
ganhar é trabalhar para virar a pesquisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”