247 – “Nascidos para perder”. Assim o jornalista
Mylton Severiano da Silva, conhecido no meio como “Miltainho”, batizou
um livro que lançou sobre a família Mesquita, do jornal Estado de S.
Paulo, no início deste ano. Um livro que, naturalmente, mereceu o
silêncio dos demais meios de comunicação. No subtítulo, Miltainho foi
ainda mais explícito: “História do Estadão, jornal da família que tentou
tomar o poder pelo poder das palavras – e das armas”.
Autor do prefácio, o jornalista Palmério Doria resumiu que o livro,
“mais que a história do Estadão, expõe sua vocação para a conspiração, e
a derrota”. Ao longo de sua história, o Estadão enfrentou Getúlio
Vargas, apoiou o golpe militar de 1964, do qual foi vítima da censura,
anos depois, e também não aderiu à campanha das Diretas Já. Lula e o PT
sempre foram adversários – e contra eles o jornal se posicionou em todas
as eleições.
Neste ano, com a eleição municipal aparentemente decidida em São
Paulo, em favor de Fernando Haddad, o jornal decidiu se associar a mais
uma derrota, pregando que a cidade resista ao avanço do PT (leia mais aqui). Um editorial que poderia ter sido escrito em 1932 ou em 1964.
Curiosamente, Myltainho iniciou sua pesquisa por encomenda da Editora
Abril, onde trabalhava na década de 70. Os Civita se sentiam
perseguidos pela família Mesquita, que desconfiava da presença de
capital estrangeiro na sua composição – aliás, como muitos desconfiam
até hoje.
Myltainho escreveu o livro juntamente com o jornalista Hamilton Almeida Filho, já falecido, a quem dedica a obra in memoriam. “A
Abril o incumbiu em 1979 de chefiar uma equipezinha, uns dois ou três
repórteres, além de seu próprio trabalho de campo, para contar a
história do Estadão”, conta Myltainho, acrescentando que o jornal pegava
no pé da editora, acusando-a de ter participação estrangeira no
capital, e a Abril decidiu retaliar.
Durante muitos anos, o livro foi engavetado até ser lançado neste ano
pela Editora Insular, de Florianópolis, onde pode ser adquirido pela
internet (www. insular.com.br ) , pelo telefone 48-3232-9591 ou pelo
e-mail editora@insular.com.br.
A derrota deste ano, no entanto, não é apenas do Estado de S. Paulo,
mas de todos os grandes meios de comunicação tradicionais, como Veja,
Globo e Folha, que estiveram unidos e engajados em favor de José Serra –
o Estadão, ao menos, explicitou sua posição neste domingo.
Aparentemente, para perder – o que talvez seja uma vocação.
Do 247
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