Assumidamente à direita do PSDB, o
Partido Novo, presidido pelo banqueiro João Amoedo, ligado ao grupo
Itaú, defende a privatização da Petrobras, do BB e da Caixa; é também
contra as cotas raciais e o Bolsa Família; entre os seus admiradores,
estão expoentes da nova direita, como Rodrigo Constantino, o "menino
maluquinho" de Veja; Amoedo condena o estado grande, o mesmo que acaba
de multar o Itaú em R$ 18,7 bilhões; no Facebook, o Novo já tem 360 mil
fãs, bem mais do que a Rede, de Marina
Está em criação no Brasil um partido que se assume à direita do PSDB. O
Novo, idealizado por João Amoedo, ligado ao Itaú, traz slogans como
"pessoas iguais a você" e "o partido político sem políticos" e visa
tentar fugir da "hegemonia de esquerda" hoje em voga no País, como
define o economista Rodrigo Constantino, presidente do Instituto Liberal
e parte
do grupo de apoiadores da legenda formado por expoentes da nova
direita.
A página do partido no Facebook já reúne mais de 360 mil fãs, número incomparável com o conquistado pela Rede Sustentabilidade,
de Marina Silva, que até hoje tem apenas pouco mais de 1.800 fãs na
rede social. Caso o partido não seja registrado a tempo de lançar uma
candidatura em 2014, seus integrantes defendem o senador Aécio Neves, do
PSDB, como a melhor opção para assumir a presidência no lugar de Dilma
Rousseff.
Entre os principais pontos do discurso do Novo está a defesa de que o
Estado deve sair de setores como petróleo, estradas e bancos –
privatizando, desta forma, estatais como o Banco do Brasil, a Caixa
Econômica e a Petrobras. Para Amoedo, "não faz sentido nenhum" a
existência de um "Estado empresário", uma vez que ele "já cuida mal" de
assuntos que são de sua obrigação, como saúde e educação. Amoedo condena
o estado grande, o mesmo que acaba de multar o Itaú em R$ 18,7 bilhões.
"Não tem por que [o Estado] estar se metendo em exploração de petróleo,
em manutenção de estradas, em bancos. Não tem por que o Estado estar
nisso. Então nós somos totalmente a favor de o Estado privatizar essas
áreas, diminuir a sua atuação e focar naquilo que dificilmente a
iniciativa privada vai conseguir fazer", expõe o presidente da futura
legenda, numa entrevista a Rodrigo Constantino, em sua coluna na revista Veja.
O partido prega que ficariam, então, nas mãos do Estado, a preservação
da moeda, a educação básica, a segurança, a defesa de fronteiras e a
saúde – esta última área, segundo Amoedo, ainda poderia ser desenvolvida
um pouco mais pela iniciativa privada. A legenda também é contra o
programa Bolsa Família – definido como "caridade" pelo conselheiro do
Itaú – e as cotas raciais, outra coisa que "não faz sentido".
Ouça a entrevista de Amoedo concedida a Constantino e, abaixo, um pingue e pongue com o presidente do Novo publicado pela revista Época em junho de 2011.
João Dionísio Amoedo: "Nossos candidatos terão metas de gestão"
JOÃO DIONÍSIO AMOEDO - QUEM É
Engenheiro e administrador de 48
anos que atua desde 1988 no mercado financeiro. Foi sócio do BBA e
vice-presidente e membro do conselho do Unibanco. Hoje, é conselheiro do
Itaú-BBA e da João Fortes Engenharia. É sócio da Casa das Garças,
centro de estudos de tendência liberal no Rio de Janeiro
RICARDO MENDONÇA
João Dionísio Amoedo começou sua carreira como estagiário do Citibank,
em 1988, e chegou ao posto de banqueiro, como sócio do BBA, membro do
conselho do Unibanco e, agora, conselheiro do Itaú-BBA. Há cerca de um
ano, tomou uma decisão inusitada. Com alguns amigos do mercado, resolveu
criar um partido para defender os princípios da gestão e de um Estado
menor. Ele diz ter recebido incentivo de alguns dos mais conhecidos
nomes do setor, como os banqueiros Pedro Moreira Salles e Fernão
Bracher, além do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Entusiasmado, chamou o escritório Pinheiro Neto, um dos mais
tradicionais do país, para a confecção do estatuto. E contratou empresas
de marketing para coletar assinaturas. Se o Novo (nome do partido)
conseguir 500 mil até outubro, disputará prefeituras em 2012.
ÉPOCA – O Brasil tem 27 partidos políticos hoje. Não é suficiente?
João Dionísio Amoedo – Tem bastante, não há dúvida. Mas temos a
sensação de que ainda não é suficiente porque não há uma
representatividade ideal da sociedade civil nesses partidos. Talvez por
falta de uma identificação mais clara sobre os objetivos de cada um. Não
identificamos em nenhum partido o objetivo de melhoria da gestão
pública como foco principal.
ÉPOCA – Quais são os diferenciais do Novo?
Amoedo – O primeiro é o fato de começar de um movimento da
sociedade civil. Diferentemente de todos os outros, que nasceram com
políticos.
ÉPOCA – O PT nasceu de um movimento da sociedade civil, não?
Amoedo – É... Não era um grupo político. Mas já tinha uma
identificação clara por ser de um grupo específico, não é? E surgiu há
30 anos. Nos últimos dez ou 15 anos, não lembro de nenhum. Acho que o
exemplo do PT é importante até como lembrança do último partido que não
nasceu já com algum político.
ÉPOCA – O que mais distingue o Novo?
Amoedo – Outra diferenciação é deixar bem claro no estatuto qual é
seu papel. O partido tem o dever e a obrigação de, primeiro, selecionar
seus candidatos. Segundo, dar suporte ao candidato, na fase inicial e
depois de eleito. Suporte técnico, digo. E a terceira coisa é cobrar:
nossos candidatos terão metas de gestão, o que não vi em nenhum outro
partido.
ÉPOCA – Há mais novidades?
Amoedo – O último ponto importante é diferenciar a gestão
partidária da atuação parlamentar ou executiva. Entendemos que as duas
figuras não podem se confundir. Uma coisa é ser dirigente do partido e
ter todas as obrigações que mencionei. Outra é ser deputado, vereador,
prefeito e ter atuação no âmbito do governo. O partido tem de fiscalizar
e monitorar quem ele elegeu. Se essa figura se confunde, você acaba
gerando um conflito de interesses.
ÉPOCA – E a atuação simultânea em cargo eletivo e na iniciativa privada pode?
Amoedo – Olha... Acho que não faz muito sentido... Acho que as atividades têm de ser bastante segregadas.
ÉPOCA – Isso vocês não colocaram? Pode ter cargo e ser consultor, por exemplo?
Amoedo – Eu acho que nós não colocamos isso no estatuto. Tem o
conselho de ética, nós colocamos, certamente, que o candidato tem de
estar dentro das regras, mas acho que nós não fomos tão explícitos
nisso. Talvez agora devamos ser mais explícitos. Isso seria uma coisa
básica da ética, do entendimento de cada um. A gente vai aprendendo...
Talvez algumas coisas tenham de ser explícitas para depois não ter
questionamento.
ÉPOCA – Vai incorporar essa ideia, então?
Amoedo – Certamente. Porque é difícil você ter as duas atividades
sem criar algum tipo de conflito. Há outro diferencial: somos contra
mais de uma reeleição para o mesmo cargo no Legislativo.
ÉPOCA – Por quê?
Amoedo – Se alguém esteve oito anos como deputado estadual, pode
até ser federal na próxima eleição, senador, mas não mais deputado
estadual. É para promover a renovação. Senão, você terá um deputado
estadual por 16, 20 anos. Estará bloqueando a entrada de novas pessoas.
Com oito anos, já teve tempo para dar sua contribuição. E aquilo não
deve se tornar uma profissão.
ÉPOCA – No meio político, o tema "gestão" costuma ser mais associado ao PSDB e ao DEM. Eles não dão conta do recado?
Amoedo – Não está muito claro. Acho que esse tema não está muito
ligado a partidos. Pense no caso dos governadores. Três estão ligados
nisso. Tem lá em Minas, que é o PSDB, em Pernambuco, que é PSB, e no Rio
PMDB. Então isso está muito mais ligado ao entendimento do político do
que propriamente a um programa partidário. O que queremos é que o
partido tenha isso.
Gostaríamos de levar conceitos básicos do mundo privado para o público.
(...) por exemplo, a ideia de que os recursos são escassos
ÉPOCA – O que quer dizer "o partido político sem políticos", slogan do site do Novo?
Amoedo – Eu não diria que não queremos políticos agora, isso
seria muito forte. Eu diria o seguinte: como o mais importante, em nosso
caso, é que as pessoas que nunca se envolveram com política participem,
e como a atividade política tem um desgaste, não atrai, seria mais
fácil para essas pessoas participarem de um partido que não tem
políticos no primeiro momento.
ÉPOCA – Um vídeo no site fala em
tratar o governo como uma empresa e o eleitor como cliente. Essa ideia
de administração pública não parece muito simplista?
Amoedo – Gostaríamos com isso de levar conceitos básicos do mundo privado para o mundo público. Mesmo sabendo que horizontes de tempo, o público e as necessidades são bastante diferentes. Mas acho que há conceitos que podem ser aplicados no segmento público. Por exemplo, a ideia de que os recursos são escassos. Assim, você tem de estabelecer prioridades. Segundo: qualquer despesa adicional tem contrapartida, custos, não é? Terceiro: você tem de ser transparente na gestão. Quarto: tem de ter metas, prestar contas. Então são esses tipos de conceito que gostaríamos de ver no setor público. E a ideia da pessoa como cliente é só para deixar clara uma coisa: o governo funciona com os impostos que nós pagamos, então nada mais justo que ter as contrapartidas. A ideia é que a pessoa deve cobrar isso do governo, como cobra de uma empresa que presta um serviço pelo qual pagou.
Amoedo – Gostaríamos com isso de levar conceitos básicos do mundo privado para o mundo público. Mesmo sabendo que horizontes de tempo, o público e as necessidades são bastante diferentes. Mas acho que há conceitos que podem ser aplicados no segmento público. Por exemplo, a ideia de que os recursos são escassos. Assim, você tem de estabelecer prioridades. Segundo: qualquer despesa adicional tem contrapartida, custos, não é? Terceiro: você tem de ser transparente na gestão. Quarto: tem de ter metas, prestar contas. Então são esses tipos de conceito que gostaríamos de ver no setor público. E a ideia da pessoa como cliente é só para deixar clara uma coisa: o governo funciona com os impostos que nós pagamos, então nada mais justo que ter as contrapartidas. A ideia é que a pessoa deve cobrar isso do governo, como cobra de uma empresa que presta um serviço pelo qual pagou.
ÉPOCA – O Novo tem posição sobre temas da atual agenda política, como Belo Monte, lei anti-homofobia, Código Florestal?
Amoedo – Estamos começando a nos posicionar sobre algumas coisas.
Mas, como estamos ainda em formação, temos a preocupação de não ter
assuntos muito definidos, pois atrapalhariam o objetivo de atrair
pessoas. É estranho você pedir participação, mas já ter temas fechados.
Mas há alguns princípios básicos. Entendemos que o Estado deve ter uma
atuação menor na sociedade. Entendemos também que há outras prioridades,
quando falamos em kit homofobia, por exemplo. Existem outras
prioridades, como educação, saúde e segurança.
ÉPOCA – Um kit contra a homofobia pode estar relacionado com as duas coisas, educação e segurança, não?
Amoedo – Ah, pode. Mas a dúvida é a seguinte: vale a pena?
Admitindo que os recursos são escassos e finitos, vamos gastar dinheiro
nisso? Ou melhorar a qualidade das escolas, o sistema de avaliação e a
remuneração dos professores?
ÉPOCA – Para viabilizar o partido, serão necessárias cerca de 500 mil assinaturas. Em que estágio vocês estão?
Amoedo – É um processo trabalhoso e burocrático, pois você
precisa das assinaturas, nome completo e título de eleitor. E depois
precisa validar nos cartórios. Temos hoje fichas de todo tipo, pessoas
que assinaram, mas que têm dados incompletos; ficha completa, mas com
incompatibilidade de assinatura. De maneira geral, estamos próximos de
200 mil.
ÉPOCA – É difícil convencer as pessoas a assinar pela criação de mais um partido?
Amoedo – De cada 100 pessoas abordadas, 30 assinam. Essa é a média.
ÉPOCA – Quem está fazendo essa coleta?
Amoedo – Fazemos pela internet. Alguns nos procuram e pedem um
lote para distribuir entre amigos e parentes. E contratamos umas três ou
quatro empresas que fazem a divulgação e o marketing. São elas que
fazem a abordagem em rua.
ÉPOCA – Quanto vocês já investiram na criação desse partido?
Amoedo – Entre divulgação, site e consultoria jurídica, deu quase R$ 1 milhão. Meu e do grupo inicial. Mas vai passar disso.
ÉPOCA – Em sua avaliação, o Novo é um partido de esquerda, de centro ou de direita?
Amoedo – Discutimos muito isso. Essa classificação, que no
passado foi mais clara, não ajuda muito hoje. Entre os 27 partidos, é
difícil dizer o que é direita, centro ou esquerda. Nossa ideologia é
focar na gestão e ter o Estado menor. Eu diria que nos aproximamos mais
de um partido de centro, ou centro-direita.
No 247
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