O caro leitor já deve ter recebido na caixa de mensagens do seu
computador, assim como eu, centenas de mensagens, a grande maioria
apócrifas, com denúncias absolutamente absurdas e criminosas contra o
ex-presidente Lula e sua família.
Alguns simplesmente deletam estas patifarias. Outros passam para a
frente, multiplicando as calúnias como se fossem verdade. De tempos em
tempos, elas reaparecem em grande escala num movimento chamado de
"troll", certamente montado por alguma Central de Boatos e Patifarias
(CBP). Isso acontece geralmente quando sites independentes publicam
denúncias contra veículos da grande mídia, governos e políticos dos
governos de oposição, como acontece agora .
O pior é que tem gente séria que eu conheço começando a acreditar
nestas infâmias, de tanto que são repetidas, como se fossem a mais
absoluta verdade. E ainda tem quem me pergunte: por que o Lula e o filho
dele não desmentem estes boatos, como se coubesse às vítimas se
defender diante dos criminosos da difamação que invadiram a blogosfera.
Além do mais, querer desmentir o que circula na internet é mais ou
menos como jogar toneladas de papel picado pela janela e correr atrás
para juntar tudo de novo.
"Isso é o que chamam `democracia das redes sociais´, onde cada um diz o
que bem entende, oculto atrás de perfis falsos", constata meu velho
amigo e grande criminalista Arnaldo Malheiros Filho. Não é a democracia
brasileira, pois nossa Constituição (art. 5º, IV) diz que` é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato´"`, lembra ele.
A cada dia se avoluma o material distribuído por este esgoto.
Só para se ter uma ideia do que circula por aí - e naturalmente não vou
reproduzir aqui - basta clicar algumas palavras no Google: "fazendas
lula gado lulinha propriedades fortuna biolionária".
Na rápida pesquisa que fiz na manhã desta quinta-feira, apareceram
15.600 resultados, em que o "império" de Lula já está "avaliado em US$ 2
bilhões". Um dos títulos é assustador: "Professor do Colégio Pedro II
pede a morte de Lula, Dilma e outros..."
Espero não estar incluído entre estes "outros". A maior parte do
material tóxico produzido pela CBP dá conta de que Lula e seu filho
Fábio Luiz da Silva são proprietários de centenas de propriedades rurais
em diferentes pontos do país e de milhões de cabeças de gado de raça.
Além de "documentos que provam", surgem "escrituras" e "contratos de
sociedade", alguns com ilustrações. Numa destas porcarias, aparece a
"sede da fazenda do Lulinha", que na verdade é o edifício sede da ESALQ
(Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz), centenária
instituição da Universidade de São Paulo.
Além da obsessão de atribuir à família Silva a posse um "império
agropecuário", vira e mexe aparecem mensagens informando que o câncer de
Lula voltou, que ele está fazendo tratamento no Hospital Sírio-Libanês
de madrugada e a vida dele está por um fio.
Outro dia, em conversa com jornalistas, o próprio Lula deu risada
quando lhe perguntaram sobre estas "notícias" e garantiu que estava
muito bem de saúde, mas os desmentidos costumam repercutir muito menos
do que os mentidos - e as mentiras continuam circulando.
Já
que cada um pode escrever o que quer e ninguém é responsabilizado pelo
que escreve, sugiro aos caluniadores profissionais, para animar as
conversas de fim de expediente, que ampliem um pouco o leque de
"investimentos" de Lula. "Dizem", por exemplo, que ele agora está
comprando apartamentos de cinco quartos e dez vagas na garagem na área
mais nobre de Paris, uma frota de transatlânticos gregos, o Museu do
Louvre e a Disneyworld.
Aos valentes vândalos da internet vale lembrar que o que antes era papo
de motorista de táxi vagabundo agora virou assunto nas altas rodas.
Tem gente que até cita testemunhas que viram Lula vagando pelos
corredores do Sírio-Libanês. Quando pergunto quem viu, ouço como
resposta algo como "o irmão do avô do vizinho de um cunhado meu" - e
fica tudo por isso mesmo. Os caluniadores não gostam de ser desmentidos,
andam cheios de razão.
"E tem gente que acha lindo. Tão lindo quanto `manifestações
pacíficas´, que impedem pacientes de ir ao hospital e fazem com que quem
trabalhou o dia inteiro não consiga chegar em casa para o merecido
descanso. É a democracia! Então tá. Se não curarmos essas distorções,
elas acabam matando a democracia verdadeira", adverte Arnaldo Malheiros
Filho.
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