Essa avaliação é do teólogo e filósofo Fermino Luís dos Santos Neto, um atento observador dos rumos da Igreja. Em entrevista à Carta Maior,
ele, que é graduado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica
de Campinas/SP, afirmou que essas ameaças explicam os seguidos pedidos
de oração feitos pelo papa em vários momentos de sua visita ao Brasil.
Segundo Santos Neto, o esquema de corrupção na máquina do Vaticano
inclui lavagem de dinheiro, a partir de dirigentes de governos corruptos
e de empresas privadas, vinculadas inclusive à indústria armamentista
dos Estados Unidos e da Suíça, além de lucros obtidos na rede
internacional de contrabando. Esses "negócios" foram feitos durante os
pontificados de João Paulo II e de Bento XVI, totalmente à revelia
desses papas.
Fermino traçou depois um paralelo entre os objetivos de João Paulo II,
Bento XVI e Francisco, observando que os parâmetros de governo entre o
atual papa e seus antecessores "são profundamente diferentes".
Explicou que Wojtyla e Ratzinger defendiam um modelo "ainda piramidal e
monárquico" de governo da Igreja, enquanto Bergoglio segue o modelo de
Igreja Povo de Deus, aprovado pelo Concílio Vaticano II e seguido, por
exemplo, pela Teologia da Libertação.
Destacou que o apoio às reformas na Igreja Católica Romana "só pode vir
das massas católicas e cristãs de todo o mundo", observou que, até
agora, grandes mudanças no catolicismo foram feitas apenas pelo Concílio
Vaticano II, e que só foi possível aprová-las por causa do carisma do
papa João XXIII e também pelo clima de mudanças vivido pela Igreja no
início da década de 60.
Destacou que hoje "o papa se apresenta como bispo de Roma, revelando que
não se julga o dono do poder, lembrando-se de que esse conceito sempre
foi escamoteado antes”. “Isso fortalece a unidade na igreja. A
colegialidade dos bispos hoje está mais fortalecida, isso é um bom
sinal", concluiu.
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