No momento em que está no centro de
escândalo no Brasil, multinacional alemã vê novamente um de seus
ex-executivos no banco dos réus. Desta vez, por supostas
irregularidades em negócios na Argentina.
Começou na manhã de sexta-feira (06/09), em Munique, o processo contra o
ex-diretor da Siemens Uriel Sharef, acusado de envolvimento no
pagamento de subornos realizado pela empresa alemã a funcionários
públicos argentinos em troca de um contrato de fabricação de documentos
de identidade. A primeira audiência foi suspensa após uma hora de
sessão, por causa de um recurso da defesa. O processo está marcado para
prosseguir no dia 17 de setembro.
Sete anos depois de a revelação dos subornos da Siemens causar o maior
escândalo de corrupção da história corporativa da Alemanha, o ex-membro
do conselho executivo do conglomerado responde ante a Justiça alemã por
tripla fraude em relação a um contrato para a produção de carteiras de
identidade com tecnologia digital.
A promotoria acusa o ex-executivo de acobertar um sistema de caixa dois e
de pagamento de propinas pela Siemens a membros do governo argentino
em 2003, em troca de um grande contrato de produção de cédulas de
identidade mais seguras contra falsificação. Segundo a acusação, a
Siemens teria pago pelo contrato cerca de 9,5 milhões de dólares de
suborno.
Problemas em série
O processo começa no momento em que o grupo alemão é centro de um
escândalo no Brasil. No mês passado, a Siemens relatou às autoridades
brasileiras ter participado de um cartel em licitações para a compra de
equipamento ferroviário e para a construção e manutenção de linhas de
trens e metrô no Distrito Federal e em São Paulo.
Jornalista afirma que Siemens passou por reformulação |
A empresa está sendo investigada pelo Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), pelo Ministério Público Estadual de São Paulo e pela
Polícia Federal. Também está sendo processada pelo governo de São
Paulo, que pede na Justiça ressarcimento pelos danos causados ao
patrimônio público por um suposto cartel.
O escândalo argentino atinge uma série de antigas autoridades do país.
Entre as pessoas que receberam propina estariam ministros e secretários
de Estado. Até mesmo o ex-presidente Carlos Menem teria embolsado
dinheiro da Siemens. Na época, corrupção não era punida tão severamente
como hoje na Alemanha.
"Com certeza, a Siemens teve durante muitos anos um sistema de caixa
dois", reconhece Hans Leyendecker, um dos jornalistas investigativos
mais proeminentes da Alemanha e que cobre o escândalo da Siemens para o
jornal Süddeutsche Zeitung.
Uma série de executivos da Siemens teria conseguido conquistar contratos importantes através de suborno. A própria empresa não se preocupava com os casos de corrupção. "Funcionários descobertos nesses casos eram, em parte, transferidos ou promovidos", salienta Leyendecker.
Thomas Ganswindt: processo arquivado em troca de multa |
Processo arquivado
O julgamento de Uriel Sharef não é o primeiro envolvendo um alto
executivos da Siemens. Dois anos atrás, o ex-diretor Thomas Ganswindt
foi processado por envolvimento num esquema de caixa dois na Siemens. Os
juízes consideraram a culpa pessoal do acusado tão pequena, que
arquivaram o processo em maio de 2011. Ganswindt teve, entretanto, que
pagar multa de 175 mil euros.
Ao todo, o escândalo, revelado no fim de 2006, custou ao grupo cerca de
2,9 bilhões de euros, incluindo multas, custos judiciais e pagamentos
adicionais de impostos. Segundo estimativas, a Siemens teria investido
ao longo dos anos cerca de 1,3 bilhão de euros ilegalmente para ter
acesso a lucrativos contratos.
A ONG Transparência Internacional observa o processo com grande
interesse. "Só no tribunal, quando as testemunhas são chamadas, é que os
detalhes do caso vêm à tona", afirma Christian Humborg, diretor da
seção alemã da ONG.
Ele acha importante, por isso, que o processo seja levado até o final e
que não acabe como no caso de Ganswindt, quando houve arquivamento em
troca de multa. "Quando o processo é arquivado, a investigação também
não prossegue", lamenta.
O jornalista Hans Leyendecker acredita que o grupo sediado em Munique
aprendeu a lição. "Temos a impressão de que ocorre uma grande faxina na
Siemens e que algo mudou na companhia", avalia. "Embora a reputação da
Siemens não seja das melhores, ela não é mais tida como um exemplo de
corrupção na Alemanha", afirma, observando que a empresa hoje tem uma
estratégia de tolerância zero no que diz respeito a corrupção: "Quem
aceitar propina, tem que sair."
No DW
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”